A Alegria de poder dar algo aos Outros

Quando eu tinha meus dois aninhos, morávamos, meus pais e eu, num apartamento numa pequenina cidade do Egito, chamada Damanhur. Ficava a duas ou três horas de trem da cidade de Alexandria, a pérola do Mediterraneo. Damanhur, tal como Tanta, outra cidadezinha aonde eu havia nascido, hoje são cidades bem maiores e o progresso deve ter chegado até elas, após setenta anos.

 Moramos nessas duas cidades antes de mudar para Alexandria quando eu tinha quatro anos, pois meu pai era diretor de vendas da British American Tobacco, no Brasil conhecida como a famosa Souza Cruz! E precisava morar entre Alexandria e Cairo, os centros do país aonde teria seus clientes. Mas minha história me leva para Damanhur.

 Todas as tarde, lá para as cinco horas, passava um velhinho com cabelos e barba longos e brancos, usando trapos e um cobertor cinza, velho e rasgado,  carregando  sempre uma  sacolinha com  o que deviam  ter sidos todos seus pertences. Isso incluía um prato velho de alumínio e uma colher. Eu o aguardava, o “aguz” como se chamava em árabe o velho mendigo, junto com minha mãezinha, no terraço do apartamento no  terceiro andar, ansiosa para abaixar até ele o recipiente com a comida preparada por minha mãe, usando  uma corda amarrada a um cesto. O aguz agradecia ao transferir a comida para seu prato e sentava na calçada para comer, após retornar o recipiente na cestinha para que eu pudesse puxar a corda novamente para cima. Era um ritual diário que eu esperava com muita alegria.

Um dia, o “aguz” não apareceu e eu me lembro como se fosse ontem o quanto chorei por ele não ter aparecido! Quando meu pai chegou em casa a noite, minha mãe contou como eu estava inconsolável por não ter visto meu amigo de todos os dias! Até que ele  decidiu  perguntar na rua se alguém soubesse o motivo de sua ausência.  Vocês já imaginaram, não é? O velhinho estava muito doente e veio a falecer, sem deixar ninguém no mundo  a chorar sua morte, com exceção de uma meninazinha de dois anos.

 E acho que daí para frente em minha vida meus pais haviam me ensinado que para ser feliz é preciso ter alguém para quem possamos dar algo de nós.

E quero agradecer  a minha querida mãe, por ter me dado essa bela lição de vida. Queria poder dizer para  o Aguz, onde ele estiver hoje,  que sua vida não foi em vão.  Tomara que mais crianças tenham a sorte de poder ter um Aguz em suas vidas.

 (Essa crônica fará parte do livro que ainda pretendo lançar um dia com a preciosa ajuda da Sandra Mello, a grande roteirista e escritora, especializada em biografias).

 

Juliana Carrara Farah

Global Key Account Manager, MBA on International Business

8 a

Aw! Me emocionei ❤️

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