Alexandra de Souza

"Eu tenho 33 anos, sou natural de Curitiba, mas fui criada entre o PR e SC. Meu pai é de Brusque e eu tenho casa em Barra Velha. Eu acho que eu sou amaldiçoada, porque não era pra "mim" ter nascido, eu sou filha do 17° aborto que a minha mãe fez. A minha mãe, fez 17 abortos, e eu persisti pra nascer. Eu acho que não era pra "mim" ter nascido."

E assim começa o texto da Alexandra.

Veja o vídeo da peça, no final do artigo!

Que personagem difícil, que desesperador e quanto aprendizado foi ter uma personagem como ela na minha primeira peça de teatro!

A Alexandra existe na vida real e a história dela faz parte de um documentário chamado Damas de Laranja!

Na verdade, sua mãe não tentou abortá-la 17x, mas fez de tudo para isso. Quando nasceu, sua mãe não se importava com ela e era alcoólatra assim como seu pai.

Seu primeiro crime foi aos 13 anos, ela morava na rua e matou o seu abusador. Foi parar na casa de menores infratores e quando chamaram a mãe dela pra a tirar de lá, ao invés de tirar, a emancipou.

Então ela viveu na rua, trabalhou, começou a usar drogas, roubou, fez a sua vida e comprou muitas coisas através dos assaltos.

Foi agredida pelo pai da sua filha e deu 3 tiros nele, quando ele quis a afastar da filha e foi presa. Ficou 1 ano e meio na cadeia e saiu.

Depois, matou uma idosa com golpes de chave de fenda e a pedradas. Foi presa e hoje está em um hospital psiquiátrico.

Esse é o resumo do resumo da história de vida da Alexandra, durante quase 3 meses eu vivi um processo intenso de construção de personagem para conseguir colocar ela para fora, para conseguir entrar no corpo da personagem e para fazer o público acreditar que aquilo era real. Eu estudei sobre esquizofrenia, eu estudei sobre psicopatas, eu vi documentários e entrevistas de pessoas assim e de médicos, eu assisti alguns episódios de séries e novelas e algumas cenas de filmes com personagens esquizofrênicos, para que eu pudesse pegar referências e ter o maior cuidado do mundo, para não tornar a minha personagem em algo caricato.

Durante esse período eu vivi como imaginei que a Alexandra viveria, sem maquiagem, sempre de moletom e chinelo, sem arrumar, cortar ou retocar a cord o cabelo, sem fazer skincare e depilação. Eu acho que a Alexandra não se importa com essas coisas. Eu criei uma personagem e passei a falar como ela, comer como ela, andar como ela, sentar como ela, ter os trejeitos dela e aos poucos ela foi aparecendo e se tornando real. Tão real, que depois da peça ainda fiquei alguns dias com os "ticks" da personagem!

Além disso, eu estudava o texto e ensaiava todos os dias. As cenas que eu estava com mais dificuldade, eu repetia, repetia, repetia e repetia, tiveram cenas que eu repeti mais de 15x até ficarem boas. Eu mal comecei com o teatro, mas tenho certeza de que essa, vai ser uma das personagens mais difíceis da minha vida artística!

Eu precisei dar mais do que o meu melhor para que essa personagem existisse.

Com ela, aprendi a me importar menos com a opinião alheia, a deixar de acreditar que eu tinha que estar o tempo todo perfeita e impecável, a ter mais empatia pelo outro, a julgar menos e amar mais as pessoas. Ela me ensinou a ser mais humana!

Serei eternamente grata ao meu diretor Lucas Cardoso, que acreditou em meu potencial e me entregou uma personagem tão difícil e eternamente grata a Deus, pois eu só fui capaz de interpretá-la por causa do dom que Ele me deu.

A dedicação que precisei ter com a Alexandra, me levou a ser indicada e a ganhar o prêmio de Melhor Atriz Revelação do 24° Festival do Lala, esse prêmio foi uma forma de ver Deus me honrando e me mostrou o quanto vale a pena eu me dedicar e lutar pelo meu sonho.

O meu sonho é poder viver da arte de ser atriz e eu sei que isso só depende de mim, do meu esforço, do meu estudo, da minha dedicação e da minha persistência em não desistir até conseguir! O fator sorte é só 10%, não adianta ter sorte e não estar preparada.

Então, que venha o futuro. Que Deus esteja comigo e que eu faça isso tudo com Ele!

Muita merda!!!! Caso você não saiba, merda no teatro = sucesso!

E se você quiser assistir a peça, é só dar play aqui embaixo: