Algemas de ouro…
Existe uma situação vivida, principalmente dentro dos bastidores do mundo corporativo, especialmente direcionada para aqueles que alcançaram posições de alta direção, cargos executivos ou estratégicos dentro de grandes corporações e multinacionais e que é conhecida como “o mal das algemas de ouro”.
Como deve ser do conhecimento de muitos, a grande maioria dos executivos que ocupam posições estratégicas no mundo dos negócios, ao chegar em tais posições são comumente agraciados com inúmeras benécias, ganhos, privilégios e outros tantos itens que formulam um pacote de benefícios fáceis de se acostumar e muito difíceis de se largar.
Antes de prosseguir com esta reflexão, eu gostaria de deixar claro que eu não tenho nada contra esta prática – até porque entendo que é uma troca até certo ponto justa e determinada pelo sistema capitalista a qual estamos todos nós inseridos (ainda que se fale muito em capital do conhecimento, nós ainda vivemos permeados pela cultura capitalista e por práticas do pensamento industrial), onde existe um escambo muitas vezes cruel da “força de trabalho” em troca de “dinheiro e subsistência”.
O que eu quero chamar a atenção aqui é para o fato desta “balança” não estar equilibrada e passar num determinado momento das nossas vidas de um estado de “benefícios” para o de “algemas”, as famosas algemas de ouro que aprisionam – amarram – limitam, contudo são bonitas – belas e preciosas.
Hoje quantos executivos estão doentes, perderam (ou destruíram) suas famílias, deixaram a vida passar diante dos olhos, não viram os filhos crescerem e não se lembram mais o que é um momento verdadeiro de felicidade, paz, liberdade e bem estar de espírito? Todos nesta situação, certamente foram vítimas do “mal das algemas de ouro” que ano após ano foram sendo colocadas, apertadas, chaveadas e principalmente douradas pelo ouro do dinheiro, dos benefícios e dos pacotes extra salariais, sempre feitos com o consentimento da própria pessoa.
Uma forma de saber se você está ou não preso a tais algemas de ouro, retirados compromissos assumidos com bom senso e responsabilidade, é pensar sobre o quanto você tem controle sobre a sua agenda pessoal e profissional, ou melhor, pense agora: você tem agenda de vida pessoal?
Pare agora, pense e responda para si mesmo:
– Quantas vezes no mês você tem saído para passear com a sua família?
– O que você tem feito para cuidar da sua saúde (inclua ai, academia, caminhada, etc.)?
– Quais projetos de vida você tem por escrito, com metas, objetivos, datas, prazos? E quantos deles tem se realizado?
– Como anda o seu atual relacionamento? Como anda o seu casamento? Como anda o relacionamento com os seus filhos? Como anda a sua relação com a sua família?
– Quanto tempo você tem tirado para você pensar, refletir e curtir um “ócio criativo”?
Caro amigo, pela minha pequena experiência de vida profissional e pessoal – por várias vezes eu me vi preso com tais “algemas de ouro” e por muitas vezes eu confesso que tive medo e receio de me livrar delas, mesmo sabendo o quanto elas me amarravam e tolhiam minha vida, energia e alegria… compartilho com os colegas que eu tive, Graças ao bom Deus, a oportunidade de passar por grandes, excelentes e verdadeiras escolas na minha vida, eu passei por muitas empresas que sempre me apresentaram algo em comum: “as algemas douradas”.
E qual aprendizado que eu tirei disto? Algo que você no fundo já sabia e sempre soube: todos nós sempre temos o poder da escolha para:
– Ficar ou sair a procura de uma nova oportunidade;
– Calar ou expor sua opinião e pela influência positiva diariamente ser capaz de mudar as regras do “jogo”;
– Avaliar a situação profundamente, com cabeça fria, e ponderar os prós e contras e só assim tomar decisões importantes e que poderão mudar a sua vida;
Lembre-se que ninguém pode algemá-lo com as algemas de ouro sem o seu consentimento, sem a sua permissão ou no mínimo sem que você tenha conhecimento disto, então pare de se achar uma vítima, reflita sobre o que você tem feito da sua vida e reaja!
“O dinheiro não é apenas um dos objetos da paixão de enriquecer, mas é o próprio objeto dela. Essa paixão é essencialmente auri sacra fames (a maldita ganância do ouro), faz com que as pessoas vivam em torno de uma medíocre vida, ocasionada por necessidades impostas, gerando uma rotina alienada.” (Karl Marx)
Também acredito, com base em relatos que ouvi e presenciei ao longo de mais de 18 anos atuando como profissional, consultor, treinador e coach, que não há dinheiro, não há pacote de benefícios, não há prazeres proporcionados por privilégios fornecidos por uma empresa à uma profissão em troca de trabalho, dedicação, criatividade e conhecimento que possam ser comparados a felicidade de viver a vida verdadeiramente livre.
Eu ainda sonho com o tempo em que o conhecimento estará acessível a todos e valerá mais que o dinheiro, eu ainda sonho com o tempo em que o dinheiro será substituído pela contribuição voluntária que os homens – para sobreviver e viverem felizes – farão uns aos outros, eu sonho com uma sociedade que viverá em torno da contribuição expressa e marcada pelo caráter, respeito e humanidade!
Especialista em Projetos de Bem Estar, Felicidade Corporativa, Saúde Mental e Desenvolvimento de Lideranças | CHO | Neurociência do Comportamento | Soft Skills | Criadora da Metodologia "Cura com a Imagem" I Palestrante.
9 aMuito bom texto para reflexão!
E-Commerce & Marketplaces | Data & Perfomance | Inovação & Transformação Digital
9 aShow Ton! Está bem debaixo dos nossos narizes mas não percebemos o quanto ficamos amarrados. Uma palavra-chave que casa muito bem é a "Zona de Conforto", que i.m.o faz com que as algemas não machuquem por fora à curto prazo - mas continuam tolindo por dentro à medio e longo prazo. Abraços!
Psicanalista no Consultório de Psicanálise Vinícius Tiola
9 aExcelente reflexão!