ALGUMAS FAGULHAS DA IMENSIDADE
TEXTO DE DANIELA SMITH E PINTURA DE TOULOUSE LAUTREC

ALGUMAS FAGULHAS DA IMENSIDADE

Imensidade era coisa que lhe calava. Ficava olhando o tanto que não dava conta de compreender. Aqueles olhos. Quanto mais contemplava, mais desentendia. Mesmo de perto, era tanto mistério. A cada encontro, um estado de espanto lhe tomava o peito, por dias seguidos. Grandeza lhe corroendo por dentro. Era pura assimetria que lhe tirava todas as certezas. O bicho gente é mesmo coisa de outro planeta, pois como pode uma criatura ser tanto, que é capaz de fazer o outro perder a própria razão? Divagava mastigando o capim no canto da boca e sentindo a brisa do mar atravessando o corpo. Queria se desfazer daquilo, e não conseguia. Pensava em fugir para algum lugar distante, tão distante, que iria se perder de vez, até de si mesmo. Queria encontrar novamente a simplicidade das coisas concretas: preparar a comida, construir uma cadeira para se sentar numa varanda, fazer a siesta e pensar apenas se o dia promete ter sol ou chover. Mas não. Permanecia ali naquele estado que era puro devaneio, pois aquilo que vivia não se via, apenas se sentia, e mesmo assim, existia. Se o que se sente tivesse relevância nesse mundo, ele então, estaria bem considerado, pois sua vida era se dedicar a esse assunto do sentir e a mais nada. Mas fome, não sentia. Emagrecia. O perfume. Andava pela rua e, repentinamente, lá vinha aquele cheiro lhe tomando as narinas e paralisando ele todo. Que Diabo! Será feitiçaria? Em desespero, correu ao encontro daquele corpo. O susto de sentir o abraço. Escutou a batida do peito no silêncio da tarde e se desfez de toda tentativa vã de razão. Vida, a gente não explica não.

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