Alunismo

Alunismo

Gostei tanto da palavra alunismo, que obviamente não existe nos dicionários pelo menos até o momento, que não resisti a tentação de utilizá-la na primeira oportunidade. Não fui eu que a cunhei, mas achei muitíssimo adequada. E para falar a verdade, com o fim do ano chegando está aberta a temporada de alunismo. Alunos procuram os professores para discutir a teoria dos arredondamentos. Um bom exemplo: 5.7 de nota pode-se arredondar para 6.0? Ou seria mais justo 5.5? O que significa esta fração de conhecimento de 0.3?

Estamos sempre falando da economia de compartilhamento e dos vários movimentos disruptivos. Discutimos a exaustão  as plataformas de mobilidade como 99, Uber e seu impacto nos tradicionais táxis ou de entrenimento como Spotify e Netflix e o impactona indústria fonográfica como Som Livre e Blockbuster, respectivamente ou dos bancos tradicionais assolados pelos bancos digitais como Nubank mas os alunos continuam a repetir padrões de comportamento de sala de aula de giz e lousa que em nada se assemelham a uma busca por este disruptura. Insistem em discutir 0.25. Parece que os alunos não perceberam o tamanho da ameaça que vem pela frente.

A escola certamente está ou vai passar por um disrupcao mas na verdade o que existe por trás de todas as disrupcoes é um aprendizado diferenciado, amplificado,original, chamado de inovação que permite uma vantagem temporária alinhado com a definição de forças de Porter. A inovação é o conhecimento no seu estado mais bruto. O conhecimento livre de formalismos e apropriados por empreendedores de negócios, educação e de sonhos sem medo de perder a curto prazo. Conhecimento que substitui o fluxo de caixa por um lapso de tempo, coisas que empresários bem estabelecidos morrem de medo.

Adquirem a doença da aversão ao risco e vão morar no mesmo condomínio onde hoje pode ser encontrada a Kodak, a Blockbuster, VARIG e outros.

Parece que o conhecimento não consegue ser compartilhado facilmente mas certamente eu arriscaria na fórmula abaixo uma certa receita:

Conhecimento = conhecimento explícito + conhecimento tácito, se e somente se tivermos diversidade.

Apenas a diversidade dará combustível ao movimento espiralado de Nonaka. Empresas passando pelas dificuldades que estão passando no aspecto econômico, terão menos possibilidades de oferecer o ambiente certo para as trocas espiraladas entre tácito e explícito.

Provavelmente são reféns de um poderoso Group Thinking - tomadas por algum líder alfa.

Como empresas e universidades debilitadas e ainda ou por isso mesmo, desprovidas de pluralidade, podem criar o Ba? 

Mas o que é o Ba?

Em 1998, com algumas idéias do livro “A Criação do Conhecimento Organizacional”, Ikujiro Nonaka, juntamente com Noboru Konno, publicou o artigo “The Concept of ba: building a foundation for knowledge creation”.

O conceito de Ba foi originalmente proposto pelo filósofo japonês Kitaro Nishida e desenvolvida por H. Shimizu "Ba-Principle: New Logic for the Real-time Emergence of Information,". Nonaka adaptou o conceito de Ba, visando o aperfeiçoamento de seu modelo SECI, que vemos logo abaixo, de criação do conhecimento organizacional.

Ba significa “porto”. Assim, Ba pode ser considerado um espaço compartilhado que serve como base para a criação do conhecimento.

De acordo com Nonaka, "Ba" pode ser visto como um espaço compartilhado para relações emergentes. Este espaço pode ser físico (por exemplo, escritórios, espaços comerciais dispersos), virtuais (por exemplo, e–mails e teleconferência), mentais (por exemplo, experiências compartilhadas, ideias e ideais) ou qualquer combinação dos mesmos. Ba fornece uma plataforma para o avanço do conhecimento individual e/ou coletivo.

Existem quatro tipos de "Ba". Cada um deles corresponde a uma das quatro etapas do modelo SECI, que são:

Socialização;
Externalização;
Combinação e
Internalização.

Hoje, todos somos alunos. Dentro do conceito long life learning não cabe mais a divisão de docente e discente.

Então, nós alunos, não vamos aguardar que a universidade ou a empresa nos propicie generosamente o Ba. Arregace as mangas e crie o seu Ba. 
Christiano Ruffo Ferreira

VP | South America & US Operations at Joyson Safety System

5 a

Fantástica reflexão de uma realidade ainda pouco explorada! Parabéns

Marcello Utiyama

Lean 6-Sigma Master Black Belt Sensei / Professor / Gerente de qualidade e melhoria contínua

5 a

Excelente reflexão Mauro Andreassa, o que vejo é que os estudantes estão "viciados" no modelo de avaliação atual, o objetivo não é aprender e sim tirar nota, mas isso é fruto do nosso processo de avaliação. O mesmo ocorre no mundo corporativo, onde os scorecards viciam a organização e moldam nossos comportamentos, onde o objetivo é ficar "verde". De tempos em tempos, os objetivos, as avaliações precisam ser alteradas para evitar a inércia e o comodismo. Vejo que precisamos começar com a maneira pela qual estamos avaliando os alunos dentro das Universidades - na minha opinião, a elaboração de projetos interdisciplinares ao invés de provas, tornaria o ensino mais produtivo e eficaz, principalmente na construção de um comportamento "Ba".

Camilo Adas, MSc

Be8 | FIESP | SAE BRASIL | Fundação Dom Cabral | Instituto Mauá de Tecnologia

5 a

Mais uma vez o Prof. Mauro faz reflexões e conexões que aproximam os principais dilemas do universo da aprendizagem, da academia e do premência por pragmatismo e flexibilidade no universo VUCA que vivemos. Estamos preparando os novos profissionais para negociar migalhas ou para criar em socialização espiral e continua? Os alunos percebem este dilema como vantagem competitiva? Se Nonaka e Konno deixaram esta contribuição em 1998, o que assimilamos desde então? Parabéns Mauro Andreassa. Que tais reflexões frutifiquem conhecimento e inovação.

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