Amar e Mudar, a vida de Domenico
Conheci o Domenico De Masi em 1999 quando fui fazer o Mestrado em Roma e a pedido do extinto jornal Gazeta Mercantil fui encontrá-lo para escrever um artigo sobre o sociólogo que vinha repercutindo no Brasil. Sua fama repentina por aqui veio na sequência de uma entrevista que havia dado no programa Roda Viva, da TV Cultura, falando sobre o seu livro “A emoção é a regra”. Foi um sucesso, e não tinha nem lançado o “Ócio Criativo”, pelo qual ficou ainda mais conhecido, tornando-se best seller e atraindo o interesse de um amplo público, então curioso sobre questões que envolviam as mudanças nas organizações e no trabalho, a superação da era da industrialização e o o futuro das relações sociais. Estávamos na Via Salaria, na faculdade de sociologia da La Sapienza. Ele dava aula de “Sociologia del Lavoro”. Saímos dali e fomos tomar um café em um local ao lado. Depois me deu carona até em casa. Na longa conversa me convidou para colaborar com a Rivista Next, que editava, e a participar das atividades da S3Studium, sua escola-empresa, que também organizava, anualmente, nos quentes e inspiradores verões da península, o evento que reunia em Ravello, na Costa Amalfitana, sua verdadeira ideia de ócio: “trabalho, estudo e lazer”. Repleto de cultura, debates, e muita música. Lá frequentavam seus velhos amigos que fazia questão de compartilhar com os novos. Gore Vidal, Chichita Calvino, viúva de Italo, a atriz Lina Wertmüller. Além de empresários, políticos, escritores, publicitários, jornalistas, artistas, pessoas de todas as matizes, italianos e brasileiros. O Brasil, indiscutivelmente, era sua paixão. E Oscar Niemeyer, seu ídolo. A cada vez que vinha ao país naquela época ganhava algo dele, um objeto-maquete, um rabisco onduloso com dedicatória, que exibia com orgulho e alegria. Certa vez levou de baixo do braço um projeto de anfiteatro para Ravello. Enfrentou durante anos uma batalha para executá-lo; e lá está, inerte em frente ao Mediterrâneo. De Masi, Mimmo, como o chamam os seus mais próximos, era firme e imbatível em suas paixões. Tenro, indignado, sempre altivo e disposto a sorrir e divergir. E concluir com genialidade e carisma. Tive a felicidade de conviver com ele nos dois anos que morei na Itália e em muitas outras oportunidades que esteve no Brasil. Ainda em junho, quando esteve com o Lula, trocamos mensagens. Foi seguramente a pessoa mais inteligente e cativante que conheci. A voz rouca, a barba suave, um ser híbrido de gentileza e sagacidade. Fica aqui minha singela homenagem, e afetuosa lembrança, da sorte que tive, rememorando a frase que registrei na memória e que gostava de repetir, que tinha ouvido de Niemeyer, que, segundo ressaltava, “tendo vivido uma longa carreira dedicada à arquitetura”, não hesitava em insistir que “o que importa na vida eram as pessoas, os amigos, a família, e esse mundo injusto que devemos lutar para mudar”. Na minha convicção, não à toa seu gosto pelo dito de Niemeyer, De Masi foi em sua vida a expressão das intenções de “amar”, a beleza das coisas, o outro em sua resplandecência, e de “mudar”, o mundo, em sua imensa injustiça.

Architecture and Management of Projects - Agricultural, Civil, Industrial, and Renewable Energy
10 mNós o trouxemos ao Brasil para discutir um Projeto de Desenvolvimento Turístico, no qual também participou o Beto Carreiro, Fernando Marcondes de Matos (Costao do Santinho), entre outros operadores do setor em SC. Realmente cativante e brilhante!
Founding Partner of the Consulting Company Birô
1 aGrande perda intelectual!
Doutora em Direito
1 aMto bonito teu testemunho sobre uma pessoa tão interessante como foi De Masi. Eu o comparo a Rene David e Rodolfo Sacco, dois comparatistas notáveis, sendo Sacco tb sociólogo, que tinham em comum, os três, um grande amor pelo ser humano em geral, por suas produções e esforços de superação. Podes considerar te uma pessoa de sorte por te lo conhecido e com ele privado. Parabéns!
Editor executivo da Entrementes Editorial
1 aDepoimento em que revelas tua bonita ligação afetiva e intelectual com De Masi, um pensador fundamental da nossa contemporaneidade.
Owner, Campos Advocacia Empresarial
1 aBelas memórias afetivas. Eternas lembranças. Abraços fraternos