Americanas, Ações e Operações
"Americanas S.A. (“Americanas” ou “Companhia) vem comunicar aos seus acionistas e ao mercado em geral que foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis. Numa análise preliminar, a área contábil da Companhia estima que os valores das inconsistências sejam da dimensão de R$ 20 bilhões. Neste momento, não é possível determinar todos os impactos de tais inconsistências na Companhia"
Esse artigo se propõe a refletir sobre o Varejo, segmento que atuo – foodservice franchising – conectando pontas entre o maior problema contábil na história do Brasil, com a qualidade das operações e um alerta aos investidores de ações do varejo. Não entregarei detalhes dos lançamentos indevidos, mas deixarei referencias de pesquisas para quem desejar saber o que já foi explicado. Essa história só tem um mocinho, Sergio Rial, declarado até agora, mas nenhum bandido identificado.
Pretendo discorrer minhas teses com muita empatia as famílias e trabalhadores que nesse momento sofrem a incerteza da continuidade da empresa. Meus respeitos a vocês que lutam incansavelmente para construir a maior varejista do Brasil. Registro meu repúdio a quem expos os colaboradores a essas inseguranças e perdas aos acionistas que acreditaram na força da marca. Existem acionistas que entre uma casa a mais para a família escolheu comprar as ações das Americanas e essa notícia expõe suas reservas de segurança. Atenção, nem todo acionista é um especulador milionário.
Começarei por um post, do Rial, no Linkedin, antes de assumir oficialmente a empresa, onde ele relata vários problemas operacionais. Antecipo ao leitor que identifico no texto, com negritos, desejos de valorizar a operação (ele cita o detalhe da geladeira desabastecida), a ponta que entrega (ou não) a experiencia para o cliente. Percebo gente no protagonismo do relato quando cita o Gerente Geral e abre canal de comunicação com “cada um”. Com vocês Sergio Rial:
“Amigos e amigas das Americanas. Nos últimos dias visitei várias lojas, nosso centro de distribuição em Seropédica e a sede do nosso Hortifrutti/Natural da Terra. No caso das lojas, em discussão c o Timóteo, espero maior nível de consistência em termos de trade marketing e zelo pela experiência do nosso consumidor. Aqui espero valorizar ainda mais cada Gerente Geral os donos da experiência do nosso cliente no canal físico. Muito a fazer. Prateleira vazia ou geladeira que não funciona, são alguns sinais de algo de errado está ocorrendo na loja: liderança. Nos primeiros dias de Janeiro de 23, creio ser 03/1/23, teremos nossa primeira conversa, comigo. Todos os 40.000 estão convidados a participar. Do Hortifrutti, AME, VEM, às lojas do nosso negócio franqueado Único, existe uma única NAÇÃO, a nação AMERICANAS ! Junte-se a ela independente da unidade de negócio que você faça parte. Cada um de vocês poderá me acessar sempre por aqui. Vejo no Linkedin uma ferramenta de gestão útil para dentro e fora da empresa. Bem-vindo ao mundo Red. Red Friday é todo o dia ! Comunicar é conectar-se com o que há de mais importante: gente”.
Vou completar, sobre operações: “Fala a verdade, as Lojas Americanas sempre passaram aquela impressão de um fracasso iminente, tanto lojas físicas quanto a loja virtual. Você olha e tem a impressão de estar em 1995. Toda vez que vejo uma loja aberta eu penso: "ainda não fechou? Deixa eu comprar uns Kit Kat então", com o humor do Guto Peretti resumo sensações generalizadas que tínhamos enquanto consumidores.
Essas evidencias identificadas pelo próprio CEO da companhia, além da experiencia que todos nós tínhamos em visitas as lojas mostra claramente o quanto desvalorizamos (ou desvalorizávamos) as questões operacionais, as entregas reais que rola na ponta das empresas, mesmo aquelas que tem ações em bolsas. Ora se o lucro vem da operação de compra e venda de produtos a desastrosa experiencia do consumidor nas lojas Americanas não deveria nos indicar que algo não estava certo? A visita do CEO com tal transparência não deveria já ter alertado os acionistas que as imagens nas lojas poderiam refletir na Contabilidade?
Será que continuaremos com a crença que existem duas empresas, uma valorosa que fica na sede, normalmente com mesas de sinuca, puffs coloridos, salas perfeitamente climatizadas, cadeiras ergonômicas, vales refeições com valores dignos, líderes que falam línguas, salários negociados, participações nos lucros robustos e gestores brancos/héteros e bravos que se acham em “otto patamar”, mas escrevem sobre sustentabilidade e ESG da “bela” empresa empregadora.
Na mesma companhia existe os associados (nas Americanas assim chamam os funcionários) que colocam a mão na massa, são os rostos com os clientes, abastecem (ou não) as geladeiras das lojas, são expostos a computadores ultrapassados e sem licenças, comunicações com a alta gerencia bloqueada, ambientes com ar condicionados queimados, nenhuma participação nos lucros e uma possibilidade de crescimento funcional inexistente. O dito e também o “não dito” é que operacional é pra pessoas de segunda categoria.
Great Place to Work
O Great Place To Work® é uma consultoria global que apoia organizações a obter melhores resultados por meio de uma cultura de confiança, alto desempenho e inovação.
A lojas Americanas era Great Place to Work, verdade. Na comemoração da conquista deste selo junta-se a duas empresas (sede e operacional) para vibração de uma informação para o mercado. O que concluo é que a desvalorização do operacional é cultural, porque nenhum selo é mais forte do que nossos olhos enxergavam nas lojas e mesmo alertado pelo CEO que existiam problemas graves operacionais não aconteceu uma desvalorização considerável dos papeis.
Franchising
O franchising é um modelo que valoriza a ponta, a operação por colocar ali os donos (não como força de expressão). Os empresários proprietários daquela franquia estão na entrega da experiencia para o cliente e a franqueadora cabe medir e padronizar que tipo de atendimento a rede deseja. Abaixo do que foi estabelecido o franqueado não cresce na rede, acima do combinado oferece-se novas oportunidades de expansão com a marca. O "olho do dono que engorda o gado" fica frente a frente com o olho do consumidor, e envia a suas sugestões e inovações para a “sede”/franquia. Existe sim uma divisão, que nesse caso está clara, legal e transparente na Lei do Franchising.
“A Lei nº 13.966/2019, conhecida como nova lei de franquias, entrou em vigor em março de 2020 e foi criada para ratificar e melhorar alguns pontos que geravam dúvidas e até mesmo riscos para empresários e investidores que utilizam o modelo este modelo de negócios, de expansão em rede”.
Não existe a perfeição,
mas franquias tem muito a
ensinar de cuidados
com as operações.
Uma pesquisa que sugiro
é como a Kopenhagen reagiu à pandemia com seus franqueados.
A rede saiu da Covid
mais forte do que entrou.
Recomendados pelo LinkedIn
Sabedoria popular
A sabedoria popular ensina a namorada a observar o tamanho da gentileza que o futuro marido trata a mãe dele. Se o candidato a cônjuge for agressivo com a progenitora muito provavelmente assim será com a mãe dos seus filhos. Me parece óbvio e correlaciono a gestores que expõe as lojas e os “associados” as condições ruins operacionais, assim fariam também os tais lançamentos contábeis. Me parece lógico que o destrato com o outro, a falta de empatia com o colega de trabalho refletirá no desleixo com os acionistas no trato com os números.
Encerro meu artigo com o humor do Jasper imaginando o Rial em entrevista de emprego e a crônica, escrita em 2017, por Maria Teresa que nos arranca sorrisos com suas vivências em um dos maiores varejos supermercadista do Brasil e com ações na bolsa de valores.
Sorria com o Jasper:
Crônica engraçadíssima: "Eu simplesmente adoro os funcionários do Pão de Açúcar do Ingá. A galera que cuida das prateleiras, o pessoal das cervejas que pega caixa no depósito para mim em dia de promoção, aqueles que trabalham na limpeza... Tem também as Caixas Inspetoras do Bom Senso, que fiscalizam minha falta de noção com dedicação e competência. Tiram produto do meu carrinho porque está caro ("Vc já viu o preço disso???? Não vai levar não!!"), porque engorda (seu personal sabe que vc está comprando isso??? Vou contar pra ele!!!), porque acham que sou maluca (tira esse Baygon do carrinho dela porque ela já levou 2 essa semana. Ela tem essa mania feia de comprar Baygon."), porque acham que vai me fazer mal ( "pode ir tirando essa pimenta daí!!! Já viu o nome disso??? Ardência no Regaço!!!! Vc vai ficar como????). Tem o padeiro sincero também. "Esse pão australiano está fresquinho?" " Ih, não!!!! Está uma porcaria!!!! Tá aí desde sexta-feira, deve estar dando bolor já!!!! Compra isso não!!!!" Mas tenho que confessar que minha paixão é pelo açougueiro deprimido. O açougueiro deprimido fica lá no final do mercado, solitário, naquele ambiente frio e inóspito, todo de branco e com um facão nas mãos. Sua animação é digna de um Lula Molusco desidratado. O açougueiro deprimido jamais sorri. Não fala, emite uns grunhidos. Vc está lá na fila, que obviamente dura uma eternidade, e vai vendo o açougueiro deprimido se arrastando lentamwnte para pegar o que o freguês pediu. A cara da sofrência. Vc chega a escutar Maysa cantando "Meu mundo Caiu". Quando chega a sua vez vc não sabe se pede a carne, se vira vegetariano ou se chama o açougueiro deprimido para tomar um chopp e chorar junto com ele. Vc pede o que quer quase pedindo desculpa. Eu sempre peço a mesma coisa : patinho moído. Vamos combinar que é uma péssima opção para se pedir para o açougueiro deprimido. Já falo me sentindo um monstro. Ele me olha, dá um suspiro melancólico, corta a carne, põe no moedor. A cena por si só já não fortalece. E eu ali me perguntando porque é que não fui fazer o churrasco de melancia que a Bela Gil ensinou. Quando ele termina vem minha angústia final. Preciso reunir todas as minhas forças, toda a coragem do mundo, preciso focar no molho à bolonhesa, e, com um fiapo de voz claudicante, olhos marejados, dizer: "o senhor pode moer duas vezes?"
Referencias:
Publicação no Linkedin do Sergio Rial
Publicação de Guto Peretti
Publicação no Linkedin da Exame
Publicação no Linkedin do Michel Jasper
Publicação no Facebook da Maria Teresa Machado em 11 de janeiro de 2017
GPTW:
Lei do Franchising
Tiago Reis
IG da Americanas
Especialista em transformação digital e Futuro dos negócios. Mestranda em Administração na Uff. Palestrante, voluntária em projetos que promovem a equidade de gênero.
2 aO varejo vem sofrendo uma grande transformação há muito tempo, impacto da transformação digital. São muitas portas e janelas que vem se abrindo exigindo uma atenção para cada um dos stakeholders que entra em cena, tem que ter dinâmica na resposta. Muita oferta da mesma coisa., a concorrência briga nós cantavos. Discordo que o marketplace da Americanas é ruim. Acho o contrário, ainda era o que melhor funcionava. Fato é que as lojas físicas pequenas aumentaram em número em uma época onde o físico perdeu escala. Esse fato sempre me chamou atenção, do movimento contrário ao mercado. O foco deles em produtos tão diversos não me parece fazer sentido, acho a loja caótica. A crise pra mim foi provocada pela estratégia equivocada e ousada demais.
Socio franqueador no Aki Mercado, Conselheiro e franqueado do Rei do Mate. Escritor, Administrador, Conselheiro do Camp Mangueira
2 aMichel Jasper Sergio Rial americanas s.a. ABF Associação Brasileira de Franchising ABF Rio (Associação Brasileira de Franchising Rio Janeiro)
Educador Social
2 aO importante é essa solidariedade com os " Colaboradores " da Empresa ... nesse momento delicado é ficar firme ... até a real situação for transparente ... tenham um pouco de paciência ... " Colaboradores " !!!