Análise de Custos – Por que reduzimos um produto a sua matéria prima?
Você não julga o preço de um livro pela quantidade de papel e tinta nem o de um veículo pelo volume de commodities. Por que é fácil fazer isto com um Ovo de Chocolate?

Análise de Custos – Por que reduzimos um produto a sua matéria prima?

Nesta época do ano, próxima à Páscoa, é comum nos depararmos com “protestos” – em sua maioria de cunho humorístico – sobre o preço dos tradicionais ovos de chocolate comparados a tabletes da mesma marca.

Após trabalhar diretamente com a formação de preços e análise de custos de produtos, não pude deixar que tais manifestações passassem despercebidas por meu olhar crítico. Nós não julgamos o preço de um livro pela quantidade de papel e tinta, nem o de um veículo pelo volume de commodities. É irracional reduzir qualquer produto à matéria prima.

Não sou uma especialista da indústria alimentícia, mas uma curiosa nata. Após uma breve pesquisa, constatei que o processo de fabricação dos ovos de páscoa se difere da linha que produz tabletes de chocolate em diversos pontos. Gostaria de compartilhar aqui as minhas descobertas:

É fato que ambos os doces são produzidos a partir da mesma matéria prima. Se analisássemos apenas isto, o protesto sobre a diferença de preços de itens com a mesma massa seria coerente. No entanto, o processo de fabricação dos ovos inclui moldes mais volumosos e de geometria delicada, que são dispostos em máquinas rotativas cuja função é distribuir o chocolate de forma uniforme no interior dos mesmos. Há operações quase artesanais, como a embalagem primária (papel alumínio) e decoração dos embrulhos ou caixas. O controle de qualidade precisa ser bastante rígido para garantir que os ovos não sofram danos em sua forma durante todas as etapas - como resfriamento e desmoldagem – e tenham o peso correto.

Além das diferenças que oneram a manufatura dos ovos, precisamos considerar também os custos logísticos. Os ovos são produzidos em uma área da fábrica exclusiva para este fim, por máquinas dedicadas que não funcionam o ano todo. Como a produção é sazonal e em grande volume, é necessária a contratação de mão de obra temporária que trabalhará em três turnos para atender à demanda. A embalagem final conta com suportes plásticos, embrulhos decorados e proteções de papelão devido à fragilidade do produto, o que além de custar mais faz com que uma quantidade menor de chocolate ocupe um volume maior no transporte até os supermercados.

Adicione a tudo isto uma taxa de “scrap” (perdas produtivas) consideravelmente maior e que não pode ser toralmente recuperada, taxas de licenciamento para uso de imagem de personagens (quando aplicáveis), depreciação de ativos, custos administrativos, manutenção de máquinas e margem de lucro. Você terá um belo “breakdown”, que irá muito além da quantidade de chocolate envolvida.

Por fim, há a disposição típica em parreiras decoradas quando os ovos chegam ao distribuidor final, que por sua vez também tem custos extras referentes à exposição e estocagem dos produtos.

Volto a dizer que não sou uma especialista da indústria alimentícia ou do varejo, portanto desconheço as margens de lucro comumente praticadas pelas fábricas de chocolate e supermercados. Independentemente de qual seja este número, após considerar todo o exposto neste texto e o valor intangível que um ovo de páscoa tem como símbolo tradicional, me parece razoável que seu preço final seja maior que o de um tablete de chocolate comum – o que não te impede de optar pelo segundo, caso o objetivo seja obter a maior quantidade de chocolate pagando o mínimo possível.


Aline Noêmia Soares Santos

Engenheira Mecânica


Diego Pinheiro Romeiro Franco

Especialista em Tecnologia da Informação, IBM Proctor, Avaliador de artigos Mydeveloperworks, Analista de qualidade.

6 a

Me perdoe por discordar mas comparar o ovo de páscoa com um livro, em minha opinião, é demasiada, seria melhor comparar um livro em formato oval e embalado em papel reluzente com este mesmo livro em seu formato peculiar, retangular e sem embalagem. Com relação aos moldes e toda a parafernalha usada na páscoa, estes custos já foram pagos a dezenas de anos atrás e portanto não vejo motivo para a diferença de 500% no preço. Enfim, os lucros provindos da páscoa em minha visão são semelhantes à aqueles oriundos dos brinquedos vendidos em conjunto com lanches de Fast Food, apelam para um público infantil em sua enorme maioria e se apoiam na emoção para quintuplicar seus ganhos. Posso até mudar minha opinião mas por enquanto ainda considero absuro um preço de 500% ou mais, usando de apelo infantil para tal.

Tabata (Tabs) Emanuelle Barbosa

Scrum Master | Senior Leader | Product Manager | Digital Transformation | Agile

6 a

Minha pergunta é: pq o ovo produzido aqui no Brasil é vendido mais caro dentro do próprio mercado nacional do que o mesmo ovo nos EUA, por exemplo? O mesmo serve para combustível, a gasolina extraída em solo brasileiro é vendida bem mais cara no Brasil do que na Argentina ? E o álcool nem se fale então ...

Cezar Q.

RedTeam Leader @ Pacific Sec | Ethical Hacking, Network Security

6 a

Boa escolha do exemplo para falar sobre este tema interessante. Muito bom Aline.

Yoshio Hada

Sócio-administrador na B3bee Sistemas | Licenciamento de sistemas bancários

6 a

Bom exemplo de raciocínio e discussão comentada envolvendo valor agregado, oferta e procura, cálculo do lucro final afinal há perdas embutidas, e livre arbítrio do mercado em adquirir, não adquirir ou aguardar menor demanda para baixar os preços.

Carlos Alberto Campos Ferreira

Gerente de Arquitetura de Segurança da Informação

6 a

Quanto mais tentam justificar os preços dos ovos de Páscoa mais se enrolam e fica mais claro o absurdo dos preços. Acorda Brasil!!!!!

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