Análise de viabilidade - Qual o melhor local para instalar uma nova unidade industrial?
Esta é com certeza uma das decisões mais importantes (e uma das primeiras) a ser realizada em um novo empreendimento industrial. Uma vez escolhido o local é muito difícil sua alteração. Seja o local alugado ou construção própria, muitas vezes as modificações realizadas são tão específicas e alteram tanto as características do imóvel que se torna extremamente caro desfazê-las, prejudicando a desocupação ou a venda do imóvel no futuro.
Por estes motivos, é essencial definir um local que viabilize o crescimento da indústria por um longo período de tempo e, para isso, diversas questões devem ser levadas em consideração.
Destaco neste artigo as mais importantes que não raramente passam batido, seja para grandes ou pequenos empreendimentos.
Adequação ao plano diretor municipal e legislações estaduais e federais
Uma característica básica da indústria é a transformação da matéria. Este processo inevitavelmente irá gerar algum tipo de poluição, seja na água, ar, ou até sonoro.
Como a indústria produz bem para todos, também é importante que cuide de nosso meio ambiente. Para exercer sua preservação temos que nos adequar às normas emitidas pelo CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente), destaco, por exemplo, a Res CONAMA 491 que dispõe sobre padrões de qualidade do ar e a Res CONAMA 357 que estabelece padrões de lançamento de efluentes em corpos de água.
Em nível municipal temos o plano diretor, que contém uma sessão chamada “uso e ocupação do solo”. Toda cidade define, nesta sessão, que tipo de utilização é possível em cada área da cidade. Existem áreas exclusivamente residenciais, áreas mistas e áreas industriais.
Importante: Não é por quê existe uma indústria em determinado local que qualquer indústria pode ser instalada nas redondezas. O plano diretor pode separar as indústrias em grupos de acordo com o grau de poluição e ruído produzidos, por tamanho do empreendimento ou outras metodologia por ela definida. Em algumas situações indústrias que estavam no local antes da elaboração do plano diretor acabam conquistando o direito de permanecer alí, apesar de inadequado ao local.
Em geral é seguro buscar a área industrial da cidade, além de facilitar os tramites com a prefeitura, será menor o risco de incomodar os vizinhos e haverá uma infraestrutura já preparada para a destinação.
Disponibilidade de energia elétrica
Talvez o mais importante para a maior parte das indústrias seja a disponibilidade de energia elétrica. Ao definir o local é necessário estudar qual capacidade de fornecimento de carga disponível na localidade. Áreas rurais, por exemplo, geralmente são alimentadas somente com energia bifásica, limitando fortemente a instalação de equipamentos que na sua maioria trabalham com motores trifásicos. Além disso, a concessionária costuma limitar o consumo de carga em 75 kVa, através do disjuntor de entrada. Caso seja necessária uma melhoria de rede, quanto mais longe estiver a indústria da rede de média tensão maior será o custo para o cliente.
Caso a demanda presente ou futura seja muito alta deverá ser feito um estudo de viabilidade na concessionária de energia para definir se a infraestrutura existente é capaz de suprir sua demanda. Existem empreendimentos grandes que são inviabilizados por este motivo, mas raramente é um risco para empreendimentos menores. Uma situação muito comum é a indústria começar pequena e ao crescer se deparar com a necessidade de readequação da rede elétrica.
Caso exista capacidade de fornecimento de energia pela concessionária deve ser analisado o consumo da indústria. Uma indústria pequena poderá ter sua ligação feita diretamente na rede de baixa tensão, no limite de 125kva. Indústria maiores precisarão instalar uma subestação de energia elétrica. Se o local já possuir subestação instalada pelo proprietário ou antigo locador será uma grande vantagem, dado que o processo de liberação de construção de uma subestação junto à concessionária é extremamente lento e caro.
Disponibilidade de água e Esgoto
Acesso a água e esgoto geralmente é feito através da companhia de abastecimento.
Caso não exista fornecimento de água no local, deverá ser prevista a instalação de um poço artesiano ou captação de curso de água.
É importante observar que existem normas para a perfuração de poços, apesar da perfuração clandestina ser muito comum, o correto é solicitar autorização da prefeitura para tanto. Tendo autorização, é preciso conhecer o local para saber se há acesso à água. As empresas perfuradoras cobram por metro escavado e cobrarão o serviço mesmo que a escavação resulte em um poço seco. Claro que com a prática essas empresas conseguem identificar os melhores pontos para escavação.
Para captação de água de cursos de água o estudo de impacto ambiental levará em conta se a demanda captada oferece risco ao meio ambiente e se não irá impactar nas demais propriedades subsequentes.
Mesmo com acesso à água da rede em diversos locais existe problema de abastecimento acarretando em falta de água. Se este for um problema comum na região deve ser calculado o volume de reserva necessário e feita a previsão de espaço para instalação das caixas de água ou cisternas.
Quanto ao esgoto, em algumas localidades não há ligação com a rede, sendo necessário a construção de uma fossa asséptica. Também pode ser exigido a construção de uma fossa caso a indústria seja produtora de rejeitos com alto teor de matéria orgânica, de forma a realizar um pré tratamento antes do descarte do rejeito na rede de esgoto municipal.
Claro que haverão casos onde uma fossa não será suficiente. A fossa é mais adequada para dejetos comuns provenientes do esgoto sanitário. Já para água de processo deve ser instalado um sistema de tratamento específico.
Disponibilidade de espaço físico
A escolha de um espaço com tamanho adequado é peça chave no projeto de uma indústria e este deve buscar sempre ser otimizado. Um terreno ou galpão pequeno demais pode limitar rapidamente o crescimento da indústria, forçando uma mudança antecipada. Além de prejudicar a circulação de pessoas e materiais e dificultar a manutenção do maquinário.
Já um espaço muito grande acarreta em mais despesas, não somente os maiores custos de aluguel e IPTU, mas também serão maiores todos os custos de infraestrutura, como por exemplo pintura, cabeamento elétrico, linhas hidráulicas e pneumáticas. Além disso, um espaço superdimensionado também poderá acarretar em mais despesas com licenças ambientais e mais exigências pelos bombeiros, como por exemplo o sistema de alarme de incêndio e hidrantes.
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Para determinar a área adequada é imprescindível o desenho de pelo menos uma planta baixa, determinando os espaços necessários para produção, armazenamento de matéria prima e produto acabado, além das áreas de apoio, como vestiários, sanitários, almoxarifado, escritórios, entre outros.
Ao desenvolver o layout produtivo é importante reservar uma área para futuras expansões. Uma regra geral adotada na indústria é entre 1/2 e 2/3 da área para expansão, ou um aumento de até três vezes a capacidade instalada. O ideal é prever já no projeto como seria o processo produtivo na capacidade máxima com os equipamentos instalados em seus respectivos lugares e iniciar a implementação das linhas parcialmente, fazendo com que no futuro o layout já esteja otimizado e a infraestrutura elétrica e hidráulica pronta para receber os novos equipamentos. Inicialmente pode parecer um espaço muito grande, mas os custos para mudar o endereço da indústria geralmente justificam o investimento inicial extra.
Vias de acesso à indústria
Além do estabelecimento industrial em sí, devemos analisar os seus arredores.
Uma indústria instalada em lugar remoto sem dúvida terá menores custos com terreno ou aluguel, entretanto deve se considerar a facilidade de acesso dos funcionários ao local. Os funcionários conseguem acessar a indústria com transporte coletivo ou bicicleta? Caso contrário pode ser necessário buscá-los e leva-los para casa, as vezes essa é a única forma de conseguir mão de obra. Além disso, lugares remotos forçam a empresa a fornecer alimentação em um refeitório próprio, pelo custo e tempo para levar os funcionários até os restaurantes das proximidades, ou encontrar entregadores de marmita dispostos a fazer a rota a um preço viável.
Não só os funcionários são impactados, como também os prestadores de serviço. Quanto mais fácil o acesso mais fácil será para execução de serviços, principalmente os menores, e até para realizar visitas de orçamento.
O mesmo problema irá acontecer se o local for extremamente urbanizado e houver tráfego muito intenso. Apesar dos funcionários conseguirem se adaptar, saindo de casa mais cedo ou chegando mais tarde, menos prestadores de serviço estarão dispostos a fazer o serviço por terem de enfrentar longas filas no trânsito. Em casos de urgência (curto circuito, vazamento de água, quebra de máquina) cada hora de descolamento do prestador de serviço acarretará em prejuízo ou danos para a empresa.
No caso da indústria estar instalada em uma rua muito movimentada há a dificuldade de manobra dos caminhões, que terão que parar o trânsito para manobrar caso a indústria não tenha previsto espaço para isso.
Logística
Além do deslocamento de pessoas, também devemos considerar o transporte de cargas, seja de matéria prima ou produto acabado.
Para algumas indústrias, é mais estratégico estar próximo à matéria prima, como por exemplo fábrica de sucos ou molhos, pois a vida útil da matéria prima é menor que a do produto acabado. Para outras, próximo ao consumidor final, como é o caso da produção de hortaliças, por ter menor vida de prateleira, ou laticínios, devido à necessidade de transporte refrigerado.
Além disso, as cidades costumam colocar restrições no tamanho ou peso de veículos que podem transitar por determinados locais ou em determinados horários.
A indústria deve prever se as vias ao redor fornecem espaço para movimentação e manobra ou se será necessário criar este espaço. Deve considerar se é necessário um espaço de carga ou descarga dentro do terreno, no caso de vias estreitas e movimentadas, ou se o caminhão poderá ficar na rua.
Mão de obra
Provavelmente o mais negligenciado, pois temos a crença que basta anunciar a vaga que alguém irá aparecer procurando emprego, e a preocupação da equipe de engenharia e do cliente geralmente gira em torno de custos de instalação e operacionais. A mão de obra vira apenas um número com uma faixa salarial.
Porém, o que faz a indústria funcionar são as pessoas, e encontrar mão de obra de qualidade é um desafio independentemente do tamanho da indústria. Há grande competição por funcionários dispostos a trabalhar com responsabilidade.
O problema aumenta cada vez mais quando estamos falando de mão de obra técnica e especializada. Por isso é tão comum ver empresas de mesmo setor se instalando próximas uma das outras. Apesar de parecer contra intuitivo se instalar próximo ao seu concorrente, muitas vezes essa é a única forma de encontrar e cultivar mão de obra qualificada para o trabalho.
Além disso, este tipo de profissional tende a preferir cidades maiores, com mais infra estrutura e próximos de onde podem continuar estudando e se profissionalizando. É facil notar isso no Brasil, visto que os MBA mais procurados estão em São Paulo, o que atrai muitos profissionais para o estado. Por isso a importância das universidades e centros de ensino no interior do país.
Para grandes empreendimentos ainda podem ser previstos investimentos pelas empresas em centros profissionalizantes, temos como exemplo recente a instalação da nova indústria de celulose da Suzano, que fez parceria com o SENAI para implementar o Programa Suzano de Educação, que já beneficia 4 mil estudantes do município.
Conclusão
Um projeto bem elaborado irá balancear os prós e contras de cada local disponível, levando em consideração a realidade do investidor, de forma a encontrar a melhor solução possível.
É necessário conhecer a fundo a realidade e as perspectivas futuras da empresa para chegar na melhor solução e, infelizmente, na maior parte das vezes a melhor solução não é óbvia.
Um profissional experiente tem as ferramentas para estimar os custos de cada escolha, auxiliando a embasar a decisão do investidor.
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