Análise preditiva vs inteligência antecipativa
A inteligência antecipativa sempre foi pautada pelo entendimento temporal dos acontecimentos: passado, presente e futuro. Como processo informativo, no qual a empresa deve estar atenta ao seu ambiente e monitorá-lo sistematicamente, a inteligência antecipativa tem como objetivo criativo descobrir oportunidades, reduzir incertezas e se prevenir a tempo de possíveis ameaças (ou adaptar-se rapidamente a elas).
Ao associar a atividade de Inteligência aos tempos passado, presente (agora) e futuro, precisamos desenvolver o entendimento de que o passado nem sempre se repete. Já dizia Nick Law (CCO Global Publicis Groupe), que
“Não há versão do futuro que pareça com o passado – então, em vez de aperfeiçoar o passado, precisamos construir habilidades que antecipem o futuro próximo".
Pensar o futuro de uma organização somente com base no passado permite projeções com base no entendimento do caminho percorrido até aqui, dos hábitos conhecidos e dos comportamentos estabelecidos. Mas, quando surgem mudanças, e sim, elas surgem o tempo todo, e cada vez com maior velocidade, das menores às mais disruptivas (como é o caso da atual pandemia), podemos nos questionar se os dados passados fazem sentido agora, e questionar igualmente se eles servem para entender um futuro ainda em construção. É como se desejássemos dirigir um carro olhando para trás. Este entendimento, de que não é possível projetar caminhos somente com base no passado, é o argumento central da Inteligência Antecipativa.
Dentro do furacão da pandemia em que todos nos encontramos, é facilmente compreensível constatar que os padrões do passado foram bruscamente interrompidos. Apesar dos sinais existentes, onde epidemiologistas e outros cientistas há tempos alertam sobre o perigo de uma pandemia viral - e aqui podemos citar um artigo publicado ainda em 2007 (http://bit.ly/2Qu3Ja9), o TED do Bill Gates em 2014 (https://bit.ly/2A7xecD) e outras sinalizações de especialistas por medidas restritivas, as ações não foram tomadas. Citando Atila Iamarino: "Alertas não faltaram. Faltaram ações" (https://bit.ly/35JVWLN).
“Embora a natureza exata e o momento desses eventos não sejam previsíveis, a gravidade das consequências era. Se os formuladores de políticas tivessem considerado os riscos e adotado medidas preventivas com antecedência, eles poderiam ter evitado ou atenuado o desastre”
Jeffrey Frankel, Professor de Harvard (https://bit.ly/2L8sSUI).
Assim, podemos perceber o quanto as análises preditivas (que “pre-dizem” o futuro, baseadas em tendências lastreadas por dados do passado) não suportam totalmente decisões em tempos de crise. Observar sinais do presente, mesmo se fracos, buscando construir cenários possíveis de um futuro desejado, faz muito mais sentido do que acreditar e reagir a curvas de tendências baseadas em dados do passado. Pela atenção proativa aos sinais do ambiente, uma atividade recorrente de Inteligência permite que a empresa se coloque em situação de perceber, desde cedo, eventos em formação, ainda a serem confirmados, relacionados ao seu contexto, ao seu negócio, produto ou serviço, traduzindo-as em insights para decisões e ações estratégicas.
Neste sentido, o corona-vírus, que mexeu com padrões de comportamentos, estruturas, números e evoluções, toma a forma de um acelerador de futuro, mostrando o quanto a análise prospectiva (em contraponto com a preditiva) está em evidência. A prospectiva - ciência de antecipar o futuro com base em sinais do presente - sugere prestar atenção em mudanças que parecem embrionárias, pouco perceptíveis (sinais fracos), mas que diante da crise ganham um novo status e sentido. Com a inteligência antecipativa, operacionalizada através de um olhar atento ao seu ambiente combinado com interpretações coletivas, as empresas podem reconhecer movimentos ainda em curso de formação, e se preparar, antecipando movimentos estratégicos assim como em um jogo de xadrez.