Apagamento de culturas tradicionais é um problema para toda a sociedade
O apagamento de culturas indígenas é uma discussão necessária e urgente para a sociedade. A rivalidade entre indígenas e brancos extrapola a disputa por terras, adentrando um processo de apagamento da identidade territorial dos índios na América Latina. Essa realidade tem alastrado devido à pandemia do Covid-19. É o que diz um estudo recém publicado na Revista Espaço Ameríndio, da UFRGS, pelos pesquisadores Dra. Giovana Goretti Almeida, do CiTUR - Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação em Turismo de Portugal, e o Dr. Edson Modesto de Araujo Junior, da Universidade de Rondônia - UNIR - no Brasil. O objetivo da pesquisa remeteu à compreensão de estratégias na apropriação territorial em terras de culturas tradicionais, como a dos índios Suruí, em Rondônia, Brasil. Os pesquisadores buscaram entender os tipos de conflitos em território Suruí, o perfil territorial dessas terras e a própria cultura Suruí, bem como o entendimento do lugar da cultura tradicional e do pluralismo cultural na sociedade contemporânea.
"As estratégias de apropriação territorial em terras indígenas foram ampliadas, dando indícios da existência de um processo de apagamento da identidade territorial dos índios na América Latina [...]. Isso ocorre porque quando se apaga ou se está no processo de apagamento de uma identidade territorial, tem-se relações de dominador e dominado, gerando conflitos territoriais, simbólico-culturais e, neste caso, também ambientais. É uma situação em que ambas as partes (dominador e dominado) valem-se de estratégias para avançar em suas intenções", evidencia a pesquisa.
O estudo trouxe várias contribuições. Uma delas é em relação ao aprofundamento da temática sobre as culturas tradicionais no Brasil e na América Latina, em especial a cultura dos Suruí. Conforme as culturas tradicionais vão se apagando da sociedade a diversidade cultural também deixa de existir. Outro ponto que é destacado é sobre o papel dos Suruí que passam a atuar como "agentes naturais de manutenção da sustentabilidade ambiental, convertendo a informalidade desse papel na sociedade para um papel formal e necessário", relatam Giovana e Edson. As contribuições ainda se estendem a importância do fortalecimento das culturas tradicionais na sociedade, o que leva às políticas públicas.
"Além disso, há a necessidade de se concentrar em políticas públicas contemporâneas que erradiquem a fome, a mortalidade infantil e a pobreza extrema em que vivem as comunidades tradicionais", enfatiza a pesquisa.
A pesquisa empreendida pela Dra. Giovana e o Dr. Edson Modesto evidenciou que os indígenas Suruí tem enfrentado um conjunto de conflitos que assolam as terras indígenas desde o início do descobrimento do Brasil No entanto, com a pandemia vigente, os conflitos vão além das invasões e incluem a luta dos povos indígenas para serem atendidos como grupos prioritários na vacinação contra o coronavírus. Nem todos os indígenas aceitam ser vacinados, mas o que quiseram ser vacinados tiveram que lutar para que isso acontecesse.
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"A realidade dos Suruí é similar a de outras comunidades vulneráveis, podendo este estudo ser generalizado a outras culturas tradicionais da América Latina. Além disso, foram evidenciadas estratégias em que a Covid-19 pode ser sido utilizada como acelerador da extinção de comunidades tradicionais", ressaltam os pesquisadores.
A pandemia Covid-19 é uma realidade no mundo inteiro e nas culturas tradicionais não é diferente. O problema está que essas comunidades já são vulneráveis e com a presença do coronavírus a situação se agravou de tal forma que a pandemia pode ser vista como uma estratégia para o apagamento da identidade territorial das culturas tradicionais, como a dos indígenas.
"Na luta contra os invasores de terras indígenas, muitos indígenas tem sido assassinados e a devastação de áreas ambientais tem sido ampliada. Além disso, a extinção de comunidades tradicionais tem levado ao apagamento da identidade territorial de etnias indígenas. Essa extinção tem ocorrido também pela ausência de cuidados de saúde, higiene e vacinação em comunidades indígenas, podendo a pandemia ser uma das causas para que essas comunidades vulneráveis sejam extintas", destaca a pesquisa.
A pesquisa destacou ainda alguns tipos de estratégias que podem ser os causadores da extinção de comunidades tradicionais. Para ler o artigo na íntegra acesse aqui.
Para citar a pesquisa: ALMEIDA, G. G. F.; ARAUJO JUNIO, E. M. Estratégias de apropriação territorial na cultura tradicional dos indígenas Suruí em Rondônia-Brasil em tempos de Covid-19. Revista Espaço Ameríndio, Porto Alegre, v. 15, n. 3, p. 71-90, set./dez. 2021.