A armadilha do “Eu que fiz”
A armadilha do “Eu que fiz”
De acordo com as Teorias das necessidades humanas, o reconhecimento é a primeira da escala. Contextualizando com a vida profissional, o trabalho passa a não ser importante, mas sim, seu reconhecimento, colocando as coisas de ponta cabeça.
Deveríamos trabalhar não para sermos reconhecidos, mas pelo prazer e amor ao ofício. A realização deve estar pautada no próprio trabalho. Amá-lo não é preocupação pedagógica nos dias de hoje. Aliás, afetuosidade e humanidade também não. Seria necessária uma revolução na educação familiar e formal para quem sabe, com alguma sorte, resgatar valores humanitários.
O que mais se escuta no mercado de trabalho é que a nova geração é composta de excelentes técnicos que não sabem se relacionar com outras pessoas e são absolutamente ávidos por reconhecimento. São bons não pelo que amam fazer, mas porque fazem bem no intuito de serem reconhecidos. E isso é uma construção sociocultural que tira o valor intrínseco da criatividade, fomentando ainda mais o desejo de reconhecimento em todos nós.
E ele é ainda mais forte quando a construção da infância é deficitária – encorajamento, elogio, enfrentamento. Já na fase adulta e em seu ambiente profissional, é aprisionado na armadilha do “eu que fiz”, muitas vezes apropriando-se do esforço de toda uma equipe.
Jean-Paul Sartre, pensador e romancista, recusou o prêmio Nobel dizendo: “Um prêmio Nobel não consegue acrescentar coisa alguma – ao contrário, me joga para baixo. Ele é bom para amadores que estão em busca de reconhecimento, eu já sou bastante velho, eu já desfrutei o suficiente. Amei tudo que fiz. Essa foi a minha própria recompensa, eu não quero qualquer outra recompensa, porque nada pode ser melhor do que aquilo que já recebi”.
A vida é mesmo cheia de armadilhas e muitos ficam presos nelas a maior parte do tempo. Ao invés de pensar no reconhecimento, reconsidere o trabalho. Você gosta de seu trabalho? Então, ponto final. Se você não gosta, troque-o!
Comece identificando suas habilidades, desenvolva-as e descubra novas. Por vezes fazemos bem o que não gostamos e trocar o trabalho pode significar simplesmente “fazer diferente”.
Reconhecimento é estar ciente das repercussões de seus atos. Por vezes ele é silencioso, mas seus efeitos são inexoráveis.
Independentemente do que fizer, não peça reconhecimento por isso. Porque alguém deveria pedir por reconhecimento? Porque o anseio de ser aceito? Olhar para si pode trazer respostas. Talvez não goste do que está fazendo ou tenha medo de encarar que ”pegou o bonde errado”. Ter a consciência dessas questões facilitará achar o caminho. Quanto maior o tempo gasto para reagir, mais longe o bonde vai. E com destino incerto.
A verdadeira liberdade está em ser o que é e tornar-se o melhor que puder ser!
Por Andrea G. Umbuzeiro