Armazenamento é chave para a transição energética

Armazenamento é chave para a transição energética


*Por Rui Chammas

Nosso país já possui uma matriz energética bastante limpa e, a partir desta base, nós temos uma oportunidade única de acelerar a descarbonização de nossa economia, buscando, por meio do crescimento competitivo de fontes de energia renovável, permitir a eletrificação de setores da economia que têm impacto importante em nossa pegada de Gases de Efeito Estufa, como a Indústria e o Transporte.

Acelerar este crescimento da matriz energética limpa de fontes renováveis é um fator importante para este desenvolvimento sustentável. A transformação e crescimento do setor elétrico contribui para a redução das emissões de gases causadores de efeito estufa e a mitigação dos impactos das mudanças climáticas. Para isto, como medida de adaptação, é necessário garantir uma infraestrutura elétrica robusta, flexível e resiliente a eventos climáticos extremos e que permita a eficiência no aumento da energia proveniente das fontes renováveis variáveis.

Diante desse desafio, as soluções de armazenamento de energia despontam como tecnologias promissoras e absolutamente necessárias no Brasil e no mundo para contribuir com essa aceleração e possibilitar uma matriz energética limpa, competitiva  e sustentável, baseada em fontes renováveis variáveis, como a solar e a eólica e, mais que isso, uma rede de transmissão flexível, preparada para incorporar essas fontes. De acordo com a BloombergNEF (BNEF), estima-se que o mercado mundial de armazenamento atingiu, em 2021, a marca de 56 GWh. Ainda conforme a BNEF, projeta-se um crescimento médio desse mercado de 23% ao ano, entre 2022 e 2030, o que corresponde a um montante final acumulado de aproximadamente 1.432 GWh.

Um dos principais motivos para uma perspectiva tão otimista é a política pública anunciada recentemente pelos Estados Unidos: o Inflation Reduction Act (IRA), que consiste na alocação de fundos para benefícios fiscais às tecnologias de armazenamento e às fontes eólica e fotovoltaica. Além disso, o conflito entre Rússia e Ucrânia tem contribuído para que a Europa avance na procura por alternativas ao gás russo, provocando uma aceleração, até pouco impensada, da sua transição energética e o aumento do mercado de armazenamento, sendo essa iniciativa contemplada no plano europeu intitulado REPowerEU. Entre os principais benefícios do armazenamento estão a contribuição para a integração de fontes renováveis variáveis, ou seja, que dependem exclusivamente de condições climáticas favoráveis para a geração de energia, e o preparo da rede de transmissão mais flexível, tornando o fornecimento mais confiável. Com essa solução, considerada a próxima fronteira tecnológica na transição energética, o excesso de energia gerado em momentos de alta disponibilidade poderá ser armazenado e disponibilizado em momentos de pico de consumo, o que otimiza o uso da infraestrutura da rede elétrica e, consequentemente, amplia a capacidade de a rede elétrica absorver mais energia gerada a partir de fontes renováveis, trazendo com isso energia confiável e competitiva que permite abastecer as demandas atuais e futuros usos da economia cada vez mais eletrificada.

Tal aumento da penetração de fontes renováveis intermitentes permite a redução da dependência de usinas térmicas, a preservação dos reservatórios das usinas hidrelétricas, uma menor emissão de gases de efeito estufa e uma redução do custo de operação do Sistema Interligado Nacional (SIN), trazendo benefícios adicionais para a sociedade.   

Além disso, as instalações de armazenamento podem reduzir os custos de expansão do sistema, uma vez que permitem postergar a construção de grandes projetos. Em virtude de suas características de elevada mobilidade, modularidade e rápida implantação, tais equipamentos podem ser reutilizados em outros pontos estratégicos da rede que precisem de reforço. Como exemplo de iniciativa que é realidade no setor de transmissão, há um projeto pioneiro de armazenamento em larga escala em operação na cidade de Registro, SP, com a finalidade de atuar em picos de consumo do Litoral Sul do estado, principalmente durante o verão, e evitar interrupções no fornecimento de energia.

Esse contexto oferece grandes oportunidades para o Brasil. O país possui diversos projetos de geração a partir de fontes eólicas e fotovoltaicas em franca expansão, principalmente, no Nordeste. Porém, de acordo com o Operador Nacional do Sistema, o grande centro de consumo está localizado na região Sudeste, que atualmente representa cerca de 50% do consumo total do país.

Sem transmissão, não há transição. Por isso, permitir a rápida e segura conexão entre os parques geradores renováveis e os centros de consumo é essencial. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, estima no PDE 2031 um crescimento de 150% da capacidade de “exportação” de energia da Região Nordeste, entre 2021 e 2026. Os estados da Região Sudeste, por sua vez, são os maiores consumidores, respondendo por cerca de 50% do consumo de energia elétrica no país em 2022.

Além dos benefícios diretos, o armazenamento pode ter um impacto positivo na democratização do acesso à energia, contribuindo para uma transição energética justa. Em regiões remotas, como os sistemas isolados, que têm uma reduzida infraestrutura de energia, essa tecnologia pode ser uma solução para fornecer eletricidade confiável e acessível por um custo menor do que o da geração a diesel. Ou seja, por meio do armazenamento é possível promover a universalização do acesso à energia elétrica limpa, melhorando a qualidade de vida das pessoas e, consequentemente, colaborando com o desenvolvimento socioeconômico desses locais.

Por fim, com o avanço tecnológico associado ao apoio de políticas públicas para a promoção de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), a indústria de energia – elemento-chave para todos os setores – pode alavancar essa transformação que envolve a descarbonização da matriz elétrica e à rede flexível, rumo a sistemas mais sustentáveis, resilientes e acessíveis, em interação com os players dos diferentes setores da economia que precisem de contribuições positivas para responder aos novos desafios globais. Mais do que nunca, é hora de olhar e investir no armazenamento para que a transição energética no Brasil avance ainda mais rapidamente.

 

 

*Este artigo foi produzido para a newsletter da Esfera Brasil.

Marisa Maia de Barros

Subsecretária de Energia e Mineração

1 a

Rui Chammas, parabéns pelo artigo. O binômio transmissão e armazenamento é fundamental para a penetracao de fontes renováveis intermitentes.

Ronaldo Rosolen Borges

Gerente de controladoria na Spread Tecnologia

1 a

Isso é muito mais tecnológico que chatgpt!!!

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