Arranjos produtivos vocacionais e o desenvolvimento do agronegócio
O agronegócio paulista é marcado por uma rica diversidade de atividades, que vão desde a produção de grãos até a fruticultura e a pecuária. Nesse contexto, os Arranjos Produtivos Locais (APLs) se destacam como instrumentos essenciais para potencializar as vocações regionais, promovendo a especialização produtiva e gerando emprego e renda nas comunidades locais. Além disso, ao concentrar esforços em regiões específicas, é possível otimizar a cadeia produtiva, reduzir custos e aumentar a competitividade no mercado global.
Um dos principais pontos a favor dos arranjos produtivos vocacionais é a maximização da eficiência econômica. Ao identificar e capitalizar os recursos naturais, climáticos e humanos específicos de uma região, os agentes locais podem desenvolver cadeias produtivas mais eficientes e especializadas. Isso resulta em uma utilização mais eficaz dos recursos disponíveis, reduzindo desperdícios e otimizando a produção, o que, por sua vez, contribui para o crescimento econômico sustentável.
Além disso, a promoção de arranjos produtivos alinhados à vocação regional estimula a inovação. Ao trabalhar com as condições e ativos já existentes, os agentes locais são incentivados a encontrar soluções criativas e adaptadas às particularidades da região. Isso não apenas impulsiona a competitividade, mas também promove a sustentabilidade ao integrar práticas inovadoras que respeitam o meio ambiente e a cultura local.
Outro aspecto relevante é o fortalecimento das relações entre os diversos agentes econômicos da região. Ao criar arranjos produtivos vocacionais, as parcerias entre agricultores, agroindústrias, instituições de pesquisa e órgãos governamentais são fomentadas. Essa integração promove uma cooperação mais estreita, resultando em benefícios compartilhados, como a redução de custos de transação, acesso facilitado a recursos e a criação de um ambiente propício para a troca de conhecimentos e experiências.
A sustentabilidade social também é um fator crucial. Ao promover atividades agroindustriais alinhadas à vocação regional, há um estímulo à geração de empregos locais e ao fortalecimento das comunidades. Isso não apenas contribui para a redução das desigualdades sociais, mas também fortalece a identidade cultural e o senso de pertencimento das populações locais, promovendo o desenvolvimento humano.
Do ponto de vista ambiental, os arranjos produtivos vocacionais têm o potencial de serem mais sustentáveis. Ao adaptar as práticas produtivas à realidade ambiental da região, minimiza-se o impacto negativo sobre ecossistemas locais. Além disso, a promoção de métodos de produção mais eficientes e alinhados à biodiversidade regional contribui para a preservação dos recursos naturais, garantindo a sustentabilidade a longo prazo.
Em síntese, a promoção de arranjos produtivos vocacionais no campo, de caráter regional, é uma estratégia vantajosa para os agentes locais em diversos aspectos. Desde a maximização da eficiência econômica até o fortalecimento das relações sociais e o respeito ao meio ambiente, essa abordagem oferece uma visão abrangente e integrada para o desenvolvimento agroindustrial. Ao reconhecer e potencializar as vocações regionais, abre-se espaço para um crescimento sustentável, que respeita as particularidades de cada localidade e contribui para a construção de comunidades mais prósperas e resilientes.
Entre as diversas razões pelas quais a promoção de arranjos produtivos vocacionais no campo — de caráter local e em conformidade com as condições regionais — se mostra eficaz para impulsionar a atividade agroindustrial, podemos citar as seguintes:
Eficiência de recursos: ao adotar uma abordagem que capitaliza as vocações regionais, os agentes econômicos buscam otimizar a utilização dos recursos disponíveis, sejam eles naturais, humanos ou de capital. Isso está alinhado com a lógica da minimização de custos e maximização de produção, fundamentais na teoria microeconômica.
Especialização e vantagem comparativa: são conhecidas as vantagens de que os agentes se concentrem na produção daquilo em que são relativamente mais eficientes. Os arranjos produtivos vocacionais promovem essa especialização, permitindo que cada região se destaque na produção de bens ou serviços para os quais possui uma vantagem comparativa, contribuindo para uma alocação eficiente de recursos em escala global e regional.
Incentivos e comportamento do produtor: ao alinhar as atividades agroindustriais com a vocação regional, oferecendo incentivos que refletem as características locais, os produtores são mais propensos a se envolver ativamente no processo produtivo. Isso contribui para uma maior eficácia na gestão dos recursos e na busca pela maximização do lucro.
Redução de assimetria de informações e riscos: ao promover arranjos produtivos vocacionais, a assimetria de informações é reduzida, pois os agentes locais têm um conhecimento mais profundo das condições regionais. Isso auxilia na gestão de riscos, pois as atividades produtivas são adaptadas às peculiaridades locais, minimizando a incerteza.
Externalidades positivas: a produção agroindustrial alinhada à vocação regional muitas vezes gera externalidades positivas, benefícios não diretamente envolvidos na transação econômica. Isso pode incluir a geração de empregos locais, o fortalecimento da comunidade, a preservação do ambiente e o desenvolvimento de habilidades específicas. As externalidades positivas contribuem para um equilíbrio mais amplo e sustentável na região.
Concorrência e inovação: ao promover arranjos produtivos vocacionais, estimula-se a competição saudável entre regiões, incentivando a inovação e o aprimoramento contínuo de processos produtivos. Isso pode levar a melhorias tecnológicas, aumento da eficiência e, consequentemente, ao crescimento da atividade agroindustrial.
Ao reconhecer e capitalizar as vocações locais, a promoção de arranjos produtivos vocacionais no campo tem ajudado a criar um ambiente propício para a eficiência, especialização, inovação e redução de riscos, dando impulso à atividade agroindustrial.
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O caso de São Paulo
Programas focados no desenvolvimento local e regional em São Paulo têm demonstrado resultados tangíveis. Os empreendimentos de pequeno porte, participantes de projetos de Arranjos Produtivos Locais, têm experimentado significativo aumento no faturamento e na produtividade. Os projetos abrangem segmentos variados; ajudam a preservar e a criar empregos e contribuem para que o agronegócio seja mais robusto e sustentável.
O estado de São Paulo tem desenvolvido arranjos promissores com o propósito de preservar a vocação existente nas cidades paulistas, abrangendo áreas como o artesanato, turismo rural e religioso, entre outras. Este tipo de projeto objetiva complementar, fortalecer e consolidar ações amplas de apoio na área do agronegócio que vem sendo conduzidas nos municípios, no Estado e no País.
Quanto à capacidade de fazer a diferença na gerar benefícios, os arranjos produtivos locais têm se situado entre as mais eficazes e bem-sucedidas modalidades de apoio oferecidas por entidades como SEBRAE-SP, FAESP e SENAR. Um dirigente destas entidades, Tirso Meirelles, comentou sobre o assunto em 2021:
“Os empreendimentos de pequeno porte participantes de 92 projetos de desenvolvimento regional – sendo 57 Arranjos Produtivos Locais dos mais diversos segmentos, mapeados pelo governo estadual – do artesanato à indústria calçadista, da cerveja à cerâmica artística, do café gourmet ao turismo, de equipamentos médico-odontológicos aos TICs e biotecnologia, todos lastreados na vocação econômica local e da região, tiveram 87% aumentaram faturamento; 90% elevaram produtividade, 99% afirmaram que incorporaram novas tecnologias a processos e gestão.
Os resultados positivos geraram também dividendos para os 147 territórios sedes dos projetos. Entre eles — e que consideramos extremamente significativo: 92% disseram que a manutenção e/ou criação de novas vagas de trabalho relacionam-se à participação nos programas de desenvolvimento local.”
O desenvolvimento e a monitoração de arranjos têm demandado esforços de equipes de alta qualificação, para conceber soluções de implementação rápida e de elevado potencial quanto à geração de benefício. Junto com prefeituras, as ações têm significado o fortalecimento do desenvolvimento sustentável no agronegócio, com fomento das cadeias produtivas e ações de indução que levaram á criação de micro e pequenas agroindústrias. As ações têm impulsionado o desenvolvimento de segmentos como o de produção de vinhos, mel, frutas e outras atividades naturalmente vocacionadas.
O apoio efetivo aos APLs requer uma abordagem integrada, que envolve a participação ativa de diversos atores, como produtores rurais, órgãos governamentais, instituições de pesquisa, empresas e organizações da sociedade civil. Uma das principais estratégias é a formulação de políticas públicas que incentivem a cooperação entre os agentes locais, promovam a capacitação técnica e estimulem a inovação nos processos produtivos.
Além disso, é crucial investir em infraestrutura, logística e tecnologia, criando um ambiente propício para o desenvolvimento das atividades agropecuárias. A promoção de linhas de crédito específicas, apoio à comercialização dos produtos locais e a implementação de boas práticas ambientais são igualmente importantes para o sucesso dos APLs.
Para que as iniciativas de apoio aos APLs sejam bem-sucedidas, é necessário contar com profissionais e gestores capacitados e comprometidos. A formulação e execução de planos demandam competências multidisciplinares, incluindo conhecimentos em agronomia, gestão rural, economia, logística e políticas públicas.
Além disso, a capacidade de promover a integração entre os diferentes atores envolvidos, estimular a inovação e gerenciar os recursos disponíveis é fundamental. A atuação transparente e ética, aliada a uma compreensão profunda das realidades locais, também são atributos essenciais para o sucesso na implementação de políticas voltadas aos APLs.
Em resumo, investir no fomento aos Arranjos Produtivos Locais no agronegócio de São Paulo tem se mostrado uma estratégia inteligente para potencializar as vocações regionais, promover o desenvolvimento sustentável e consolidar a posição de destaque do estado no cenário nacional e internacional. A colaboração entre setores público e privado, aliada a profissionais capacitados, será a chave para o sucesso dessas iniciativas, contribuindo para um futuro mais próspero e equitativo para todos os paulistas.
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José Luís Neves é profissional da área de controladoria e planejamento. Economista e administrador com mestrado em Administração pela USP, possui mais de 25 anos de experiência em empresas de consultoria e serviços, onde tem sido responsável por atividades de gestão financeira, orçamentação, contabilidade e custos. Reside em São Paulo (SP).