A arte de saber estar

Cada vez mais nós temos observado e, por vezes, já vivenciado situações de agressividade nas defesas dos diferentes pontos de vista acerca de uma temática, quer seja no campo cultural, educacional, esportivo ou político. Não importa o tema, fato é que, estamos vivenciando um período de afirmação e, sobretudo, de imposição de opiniões. As redes sociais deram voz e amplificaram o direito, diga-se de passagem, legítimo, do pensamento sobre diferentes aspectos da vida. Ocorre que esse novo espaço virtual traz consigo um campo de conflitos que não se limita somente ao território digital.

É natural que existam pensamentos diferentes, uma vez que diferentes histórias de vida geram, consequentemente, perspectivas de visão de mundo igualmente diferentes e, por sua vez, diversas concepções sobre a vida. Portanto, o diferente é algo natural, faz parte da natureza humana. 

Precisamos lembrar que “ser único” não significa “ser o único” e isso implica, invariavelmente, em diversas possibilidades de construção de histórias de vida, pois cada um de nós compreende o significado da vida de modo muito particular. Nesse contexto, é preciso respeitar a idealização do mundo de cada indivíduo, ainda que eu não concorde com o ponto de vista do interlocutor. Parafraseando a autora inglesa Evelyn Beatrice Hall, a máxima do respeito pode ser sintetizada na célebre frase “Discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dize-lo”. No mundo contemporâneo essa frase ganhou novo sentido sendo modificada para “Discordo do que você diz, e defenderei até a morte para não dize-lo”. Respeitar não significa concordar. Respeitar significa tratar outras pessoas com atenção, consideração e deferência. Assim, respeitar é um sentimento materializado em atitude. Respeitar é uma condição necessária de convívio social para “saber estar” e exercer com responsabilidade a cidadania.

A atitude de respeito é um ato fundamental para o exercício de civilidade, ou seja, é preciso ter boas maneiras em sociedade; é preciso ser cortes, agir com urbanidade e polidez. O comportamento respeitoso é imprescindível para o desenvolvimento de qualquer nação. 

Não podemos naturalizar o desrespeito em qualquer esfera social. O desrespeito é a contramão do desenvolvimento da sociedade. No Brasil temos muitos casos que podem exemplificar o quanto a atitude desrespeitosa é danosa para a sociedade. Podemos citar, por exemplo, o desrepeito no trânsito, quando o motorista/motociclista desrespeita o direito de ir e vir do pedestre. Outro exemplo, quando o empreendedor sonega impostos que, em tese, devem ser aplicados para o bem da sociedade. Ou quando o servidor público descumpre a carga horária prevista em seu contrato de trabalho. Mais um exemplo, quando o político favorece alguma medida para proveito próprio, desconsiderando os interesses da população. O respeito é, portanto, uma atitude política. Entenda-se aqui o termo política como o bem-comum, o bem para todos. Do ponto de vista da política vinculada ao Estado, uma característica fundamental é a capacidade de mediar conflitos entre as pessoas. 

No mundo contemporaneo temos observado cada vez mais a inabilidade dos governos na mediação de conflitos. Daí, a necessidade do desenvolvimento do sentimento de respeito e, sobretudo, da atitude respeitosa com o outro, do “saber estar”. É no campo das relações sociais que precisamos desenvolver a discussão saudável para que possamos avançar nos diferentes temas que perpassam nossa sociedade para o estabelecimento de políticas de Estado, não de governos, pois o último são temporais. O “saber estar” implica na existência da educação, gentileza nas diferentes relações sociais que estabelecemos no nosso cotidiano para compreendermos que pode existir mais de uma possibilidade, assim como ocorre com as nossas vidas, únicas, porém diversas!


Very well done! Muito bem colocado.

Tamine Capato

PhD, Radboudumc I University of São Paulo

4 a

Excelente texto!

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos