A Baleia
Sei que esse filme não é tão novo assim. Sei também que as polêmicas a cerca dele já foram debatidas a exaustão. Mas foi com a chegada dele no Netflix que tive a oportunidade de parar e dar a atenção merecida, a essa obra de arte com Bradon Fraser no protagonismo.
A Baleia é - mais do que tudo - um filme sobre exclusão. Um filme sensível que aborda a temática da obesidade sob um prisma minimalista, microcosmico. Dentro do espaço da casa do personagem principal somos apresentados a tudo aquilo que alguém que sente na pele a exclusão já conhece de cor: o isolamento, a vergonha, a sensação de não se encaixar em nenhum ambiente e compulsões. Compulsões como companheiras para aliviar a sensação que é causada por aquilo que tem errado no outro. No outro? Sem dúvidas... afinal, se um olhar enxerga em você um defeito que não te incoma (é mesmo um defeito?), tal problema só pode estar exarcebado em outrem.
Mas, voltado ao filme, me cativou por alguns simples motivos. Pelo fato de ser contraditório, isso sem dúvidas. Durante o filme há negação de Deus. Há heresia. A personagem central afirma que seu amado não necessita de ninguém além dele - não necessitva nem mesmo de Deus. Mas de que Deus estamos falando aqui? Que Deus a personagem nega? O Deus bondoso, de amor, do qual o evangelho nos ensina mas é tão mal interpretado? Ou do Deus criado pela família do amante? É do segundo. De um Deus que não aceita o que é diferente. De um Deus que vai a igreja aos domingos dizer o que é certo ou errado. Um Deus que - infelizmente - segue vivo na mente do homem médio terreno.
Se o filme fosse uma negação de Deus - como querem afirmar alguns - com toda certeza não veriamos esperança tão presente no filme. Há esperança constante. Do pai, da mãe, da filha, do menino que foge dos pais porque roubou dinheiro da igreja. Todos estão em busca de algo - ainda que não saibam muito bem do que. O filme deixa claro que a bondade e a sensibilidade deveriam ser os verdadeiros alvos da nossa adoração. É do tipo de filme que nos apresenta uma bondade quase violenta. Do tipo que você olha e aceita: ele é assim mesmo. Se admira, contempla e, infelizmente, deixa passar porque sabe que o mundo não tem lugar pra tal sensibilidade.
Eu assisti este filme comendo - pois é. Me arrependi amargamente. Ver o personagem de Brandon Fraser se empanturrando com voracidade é, de fato, angustiante. Vi naquela atitude eu mesmo em alguns momentos da vida. Quem nunca se enfiou na caixa de chocolates pra esquecer um amor não correspondido? Ou pediu um hamburguer com o sentindo de "eu mereço" na mente? A descarga emocional da qual o filme trata, no entanto, é muito mais profunda que isso: é de um mundo lá fora que estamos falando. É de um mundo que renega, que exclui, que choca-se com aquilo que não atende os padrões.
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Li alguns comentários nas reviews do filme que dizem que o personagem central é muito vitimizado. Que se afunda em si mesmo e renega a existência, que não reage. Percebo mais uma vez o quão rápido somos para julgar o calvário do outro. Ainda assim, faso a comparação: estes mesmos dizem que o filme é herege, mas não foi Cristo que disse que não devemos julgar uns aos outros? Automaticamente percebo que a contradição e a hipocrisia são constantes no mundo - e reitero o quão necessário o filme como A Baleia é para nós.
Se você chegou até aqui vou te dar um aviso: talvez este texto nem para o Linkedin seja. Mas, no fim, ele é. Qual melhor lugar para falar de hipocrisia se não na rede da eterna felicidade corporativa? Aqui não vemos as "gorduras" que habitam por trás das fotos felizes. Não vemos burnout, não vemos insatisfação, não vemos o cansaço que se abate no fim do dia. Vemos aquilo que escolhemos mostrar. Como no filme, fechamos a câmera e deixamos o espectador julgar como preferir. Rulminamos na mente o que o outro produz - desfrutamos depois da morte das nossas estranhas expectativas.
Se não assistiu, assista. Alguns "kilos" de reflexão o aguardão.
Até breve,
Gus
Sócia-diretora no PORTAL DA PROMO | Mãe do Erich e da Laura | Publicitária | Empresária | Especialista em Promoção
3 mEsse filme me impactou muito. Assisti no cinema com meus filhos e saímos os 3 muito abalados, cada um por um aspecto do filme, que tem muitas, muitas camadas. A minha sensação foi essa, que expressei em palavras assim que cheguei em casa: "Assistir A Baleia mexeu muito com o meu coração. É um filme sobre amor, família, religião, sexualidade, perdão e redenção. E é também uma obra sobre o poder da escrita. A escrita com verdade, paixão que o personagem Charlie tenta despertar em seus alunos e que reconhece no texto da filha, me conectou com um momento dolorido e, ao mesmo tempo, produtivo em textos cheios de verdade pra mim: o tempo em que escrevi desenfreadamente sobre minha mãe. A escrita cura quem escreve e quem lê. O cinema também."
Um cara de comunicação
3 mVi essa semana também. Já tinha ouvido falar muito bem. O filme é muito, muito bom. Tem um quê de teatro, diálogos incríveis e atuações primorosas.
Media Planner | Especialista em Performance | Mídia & Marketing | Inovação & Growth | MBA em Liderança e Gestão de Pessoas
3 mNossa, faz tempo que assisti, Gu. Vou até assistir de novo!