Banco Moçambique procura comprador para Moza e tranquiliza “o nosso sistema bancário goza de uma boa saúde”
O Moza está a operar desde esta segunda-feira(03) sob a direcção do Banco de Moçambique(BM).“A missão do novo Conselho de Administração que foi colocado é estabilizar o banco ao mesmo tempo que se prepara-o para a venda (…) na sua totalidade” explicou a jornalistas Joana Matsombe, Administradora do BM, que tentou tranquilizar os depositantes, “o nosso sistema bancário goza de uma boa saúde”. Porém um economista lembrou ao @Verdade que até a descoberta da dívida pública oculta o banco central também vinha dizendo que estava tudo bem.
No seguimento da decisão tomada na sexta-feira(30) passada, de resgatar o Moza Banco SA devido a sua situação financeira degradante, o Banco de Moçambique destapou na segunda-feira(03), em conferência de imprensa em Maputo, alguns detalhes sobre a situação daquele que é a quarta maior instituição financeira do nosso País.
“Em meados de 2015 o Moza Banco apresentava uma situação financeira e prudencial estável, a partir do segundo trimestre de 2016 o banco começou a registar rácios prudenciais abaixo do mínimo exigido por Lei. Quanto a nós, após todo o acompanhamento que tem estado a ser feito aos bancos, e em particular a este banco, apontamos como causas prováveis o facto de não ter sido feita a recapitalização do banco, decidida em Assembleia Geral por parte dos próprio Banco”, começou por explicar Joana Matsombe aclarando que apesar da decisão os accionistas do Moza acabaram “por não cumprir com a sua própria decisão em 100%, acabou cumprindo apenas em 80%”.
Criado em 2008 o Moza, como se passou a designar desde Novembro de 2015, tem como accionistas a Moçambique Capitais, S.A. (50,999%), o Novo Banco ÁFRICA, SGPS, S.A. (49,000%) e o Dr. António Matos (0,001%). A Moçambique Capitais é uma sociedade anónima constituída por 400 cidadãos moçambicanos enquanto o Novo Banco África é a nova designação da instituição financeira portuguesa Banco Espírito Santo (BES) África cuja “casa mãe” em Lisboa está envolta numa das maiores fraudes financeiras do País europeu. Moza não foi ajudado porque não tinha os rácios de solvabilidade mínimos.
Para o BM, “outra causa em nosso entender é que houve crescimento do imobilizado, um crescimento acentuado. Isto significa que houve um rápido crescimento em termos de construção de balcões, com vista a cobrir o território nacional” disse a Administradora do banco central acrescentando que o crédito mal parado “não é a verdadeira causa, tendo em conta que o nível situa-se em 8%, ligeiramente acima daquilo que é considerado o normal que é 5,3% (de todo o sistema bancário moçambicano)”.
“É de salientar que houve subida de custos administrativos no banco quando, ao mesmo tempo, o banco observava um redução significativa do produto bancário”, declarou Joana Matsombe.
O Moza cresceu de 45 unidades de negócio em 2014 para 59 em 2015 que representaram um salto de 35.368 clientes para 74.567, no período, de acordo com o seu Relatório e Contas. O documento indica ainda que a instituição financeira tinha 800 colaboradores em final de 2015, mais 26% do que no ano anterior.
Joana Matsombe clarificou que o Banco de Moçambique alertou em várias reuniões o banco “da necessidade de rapidamente subir os aportes de capital que já determinados pelos accionistas”, além disso “pediu-se ao banco que apresentasse um plano de ajustamento e optimização, quer dizer que era preciso que o banco apresentasse ele próprio que medidas levaria à cabo para trazer a situação à normalidade”.
“Apresentou esse plano, que quanto a nós careceu depois de alguns ajustamentos, mas ao mesmo tempo foram tomadas algumas medidas como a limitação da concessão de créditos, a partir de uma determinada altura, e restrições na abertura de novas contas, que era para que o banco não tomasse novos depósitos. Isso é normal e está na lei das instituições bancárias, é o que normalmente se faz neste tipo de situações”, aclarou a Administradora do banco central que ainda justificou por que motivo o Moza não beneficiou da assistência de liquidez de emergência. “(...)Para tal é preciso que o banco observe determinados requisitos, e um dos requisitos é que tenha rácios de solvabilidade no nível exigido que é de 8%. Este banco não reunia este requisito logo não podia ter acesso a esta facilidade”.
Não houve corrida aos depósitos no Moza nem nos outros bancos
O Conselho de Administração nomeado pelo Banco Central, que tem a missão de estabilizar o Moza em seis meses para o vender, é chefiado por João Figueredo (antigo gestor senior do Millenium-BIM e do Banco Único) e é também composto pelos Administradores Samuel Banze (director do BM) e Sérgio Ribeiro(técnico do BM). “A partir de hoje (segunda-feira) os depósitos estão a ser honrados ao público, ao mesmo tempo que se prepara o banco para venda, por que não queremos gerir bancos, a nossa função é reguladora. Não vai ser vendido por partes, vai ser vendido na sua totalidade porque nós entendemos que do ponto de vista de alicerces e de posicionamento geográfico o banco está bem” precisou Joana Matsombe.
A Administradora do banco central afirmou ainda que “o nosso sistema bancário goza de uma boa saúde, e nós dizemos isto porque, do ponto de vista do rácio de solvabilidade em média no sistema bancário é de 15% muito acima daquilo que é exigido que é 8%. Do ponto de vista de retorno do capital está em 15% e o retorno de activos está em 1,3%, o que está dentro daquilo que são os standards internacionais”.
“Não há qualquer razão para alarme, o sistema bancário para nós está são, certamente que houve este problema com este banco que não pode ser generalizado, não se pode dizer que o sistema bancário não está bom. Nós gostaríamos que todos os cidadãos se sentissem para continuarem a ter o seu dinheiro no sistema bancário”, tranquilizou Joana Matsombe que referiu que no “primeiro dia em que o banco está a funcionar sob a direcção do Banco de Moçambique não houve qualquer corrida aos depósitos, nem neste banco nem nos outros”.
“Espero que a auditoria internacional abranja o sistema financeiro interno”
O @Verdade ouviu um economista moçambicano experiente, que prefere manter-se em anonimato, que não faz muita fé nas justificações dadas pelo Banco de Moçambique sobre o resgate do Moza. Sobre a boa saúde do sistema bancário a fonte lembrou que antes da descoberta das dívidas secretamente contraídas pelas empresas EMATUM, Proindicus e MAM o banco central, e mesmo o Fundo Monetário Internacional, sempre disseram que não havia problemas até surgir a confusão.
“Com base na informação que é pública, e porque as actuais autoridades bancárias e o governo pouco ou nada têm feito para que mereçam confiança, não vejo motivo para tomar a anterior declaração como digna de crédito. Só a auditoria internacional que o FMI e os doadores têm exigido é que pode esclarecer, a eles e nós, da sociedade civil e público em geral.
Aliás, espero que a auditoria internacional abranja o sistema financeiro interno” disse a nossa fonte.
O economista disse ainda ter dúvidas “que o Moza tenha resolvido o problema com o BES” e apontou alguns investimentos e negócios do Moza que podem ter contribuído para o resgate e não só os custos administrativos e a falta de recapitalização.