Bate-papo com Grazi Granzotto, CCO da UXPertise

Bate-papo com Grazi Granzotto, CCO da UXPertise

Depois do bate-papo esclarecedor que tive com Anna Alves ano passado, resolvi fazer o mesmo com outra colega de trabalho. E a escolhida da vez foi a Grazi Granzotto, nossa Chief Creative Officer. A maior dificuldade aqui foi conseguir fazer com que ela parasse alguns minutos para nossa conversa, mas após algum esforço (e ameaças), o papo aconteceu. Aproveitem, pois não teremos outro tão cedo...

Hoje você é uma criativa com olhar bacana para coisa visuais e tendências, mas tudo sempre tem um início. Quais foram os primeiros passos desta sua jornada?

Eu sempre quis ser publicitária, mesmo sem saber que esse nome existia. Meu pai conta que quando eu tinha 3 anos, pulava em frente à TV durante a novela, acho que era Barriga de Aluguel, e ficava de olhos vidrados no comercial. Falava que um dia eu faria aquilo ali - e apontava para o comercial.

E a sua formação?

Sou Mackenzista! Me formei em 2005 em Publicidade, Propaganda e Criação. Foi lá que tive uma das melhores aulas da minha vida - cinema com o professor Salinas. Foi lá que descobri que tinha mais gente como eu - que também vivia no mundo da lua e que isso não era necessariamente ruim.

Por que publicidade e criação?

Na época que estudei o sonho de todo mundo era trabalhar em uma agência off grande e premiada, não se falava muito sobre "digital", redes sociais nem existia. Sempre senti que não era nem designer e nem redatora, eu era da ideia, do que de fato a gente queria comunicar no final. Mas precisei colocar a mão na massa para poder começar de algum lugar, então faço arte até hoje!

E quando você começou a trabalhar como designer?

Trabalhei em uma editora de livros durante a faculdade e em seguida entrei numa agência digital como estagiária um ano antes de me formar, tinha 22 anos na época. E foi lá na TV1 que eu descobri que comunicação/criação se aprende na prática. 

Em 2005 era tudo mato para o digital, né? As áreas eram muito separadas, tinha a equipe de arte, de redação, de flash, de programação e estava começando a equipe de Arquitetura da Informação. As demandas entravam em esteira e cada um fazia a sua parte e passava pra próxima área. O Mercado não tinha na época uma visão clara do todo e muito menos o olhar do usuário.

Foi aí que eu comecei a trabalhar com o Adriano Brandão (@oredator) e encontrei alguém que acreditava no poder da ideia - e de um bom PPT pra explicar! Três anos depois de ser estagiária já liderava a criação de clientes como O Boticário, Grupo Pão de Açúcar, Guaraná Antarctica, MSN da Microsoft, Unilever e vários outros. Sempre fui rápida para ter ideias e solucionar problemas, mas é preciso entender que as ideias não nascem do nada.

E de onde vem suas ideias?

Referências. Estudos, viagens, revistas, museus … até o que as pessoas falam e como elas se vestem na rua servem de repertório. Quem trabalha com Comunicação precisa ficar atento com o que acontece no mundo fora da agência.

Foi aí que você começou a trabalhar com UX!?

Ainda não! Nessa época, com 26 anos, eu tive o meu melhor projeto de criação, a minha primeira filha! E então eu virei mãe e estava mais forte e focada. Voltei ao trabalho e virei head de criação do grupo de clientes de campanhas da  TV1.com - Gol, Localiza, Cyrela e Dr. Oetker. Liderava mais de 15 criativos e o meu maior talento sempre foi descobrir o melhor de cada um e manter os times de varejo inspirados, pois eles precisam ser criativos no dia a dia.

Estas contas tinham um volume muito grande de entregas, porque envolvia site, campanhas e peças de mídia diárias, então o time tinha que estar sempre afiado, né? Não tinha tempo pra ficar pesquisando, experimentando, então por isso eu sempre falava com eles da importância do repertório, de usar quem você é e o que você vive fora do trabalho para criar mais, melhor e dar conta dos desafios.

Outra coisa essencial é conhecer muito bem quem trabalha com você, pois assim você sabe o que cada um tem de melhor, quais duplas funcionam e quais não funcionam, quem tem olhar analítico e quem tem olhar criativo… E assim cada um deixa toda a entrega melhor!

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É possível ser mãe e publicitária?

Olha, dois anos depois tive mais uma menina! Então eu voltei mais focada e criativa do que nunca. A maternidade me deixou mais forte pra correr atrás dos meus objetivos.

Então, com o diretor de criação - e inspiração - Fábio de Almeida, ganhamos a conta da Secretaria de Comunicação do Governo Federal (SECOM) pela segunda vez, além de SESC SP e Nestlè na Copa do Mundo - um projeto integrado da TV1.experience, TV1.conteúdo e TV1.com, que cuidou de 7 marcas da Nestlè nas redes sociais, promoção e ativação. Um dos filmes que fizemos para o leite Ninho nas redes sociais foi tão bem visto pelo cliente que virou abertura dos jogos do Brasil na Copa do Mundo de 2014 na Globo. Eram crianças cantando o Hino nacional do jeitinho delas - O HiNinho Nacional.

E quando se tornou diretora de criação?

Assumi a direção de criação da TV1.com em 2015 e implantei uma nova forma de pensar a área, não mais em duplas de criação e sim um quarteto. Redator, designer, planejamento e conteúdo. Várias cabeças diferentes pensando em uma solução. Percebi que o começo de tudo era o conteúdo, o que a gente precisava comunicar e depois decidir o visual dele. Conteúdo e depois forma.

Nessa época fizemos uma campanha de Dia das Mães para a Gol premiada como uma das que teve maior buzz da data e criamos campanhas incríveis para a Localiza.

Também começamos a trabalhar com os designers de interface ao lado dos arquitetos de informação, por sprints, aí sim vemos um começo de UX acontecer.

E como o UX continuou na sua vida?

Estava tudo ótimo, mas eu sentia que precisava me reinventar. Sentia que o que as agências entregavam até então não trazia real valor para as pessoas. Algumas pessoas dizem que "gente de agência faz conteúdo pra gente de agência” e isso é uma verdade, sabe? Imagina, eu era mãe de duas meninas pequenas e trabalhava em agência de publicidade, queria fazer diferente, mas quando chegava em casa não conseguia ler ou estudar, precisava arrumar lancheira e dormir. Então, em 2017, sai da TV1 para encontrar uma nova forma de usar minha criatividade.

E encontrou como?

Primeiro comecei a fazer windsurf. 

Sério?

Sério! E aí descobri uma hérnia de disco e outras 4 vértebras comprometidas que me deixaram 2 meses na cama. Eu fiquei realmente mal. E aí, nisso, comecei a descobrir um outro tipo de medicina, comecei a me envolver com questões de yoga, pilates, medicinas alternativas... Descobri uma outra forma de me cuidar, de cuidar da minha família e de, alguma forma, levar isso para as pessoas, sabe?

para entender, mudou totalmente sua visão de mundo?

Mudou. Descobri que o jeito que tava vivendo a minha vida tava errado. Eu precisava de um outro propósito. Fazer as coisas do jeito que eu tava fazendo, sendo workaholic, não tava me fazendo bem, mas ainda não sabia o que fazer. Então, quando melhorei, passei um mês em Londres. Foi pouquinho, porque eu não conseguia ficar longe das crianças. Trabalhei como autônoma em alguns lugares, como na Concrete e na Vice.Brasil e nessas passagens e trabalhos acabei entendendo UX com outra profundidade. Conheci a Anna Alves, CEO da UXPertise nessa época e as nossas ideias se encontraram. Ela com olhar de negócios e eu com olhar de criação. Foi aí que entendi que eu poderia criar para as pessoas algo que fizesse sentido pra elas.

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E como foi isso?

O interessante foi que não comecei a trabalhar com UX com a visão que eu tinha de UX, mas sim para levar minha visão de criação para UX, então foi uma troca. Aprendi UX e levei criação. E aí percebi que o tempo todo eu tava procurando por isso. Pra mim, UX é criação pura.

Por exemplo, na hora em que estou vendo um problema, falando com alguém, fazendo uma entrevista, minha cabeça já está criando conexões, desenhando as coisas. Antes, usava meu repertório para criar soluções, criar arte e criar ideias. Hoje ainda uso meu repertório, mas fico muito atenta para o que estou ouvindo das pessoas para poder criar junto o que interessa para cada uma delas.

E como que fica administrar o que o cliente quer e o que o usuário quer? Porque o cliente e o usuário são pessoas, cada um com as suas necessidades e muitas vezes elas não são as mesmas.

O cliente normalmente vem com uma ideia pronta, né? Principalmente em agência, ele vinha com “meu problema é esse e a solução é essa, desenvolvam”. E isso era uma dor que eu tinha e hoje a mudança é essa: o cliente vem com o problema e às vezes um cheirinho da solução, mas está muito mais disposto a ouvir. Então, a primeira pessoa que a gente ouve é o nosso cliente, porque ele também tem sua dor. E não adianta a gente querer saber mais que ele, porque não vamos saber. A primeira coisa então é ouvir, ouvir o que ele tem de problema, ouvir como funciona o negócio dele e ouvir até o que ele acha que é a solução.

E quando a gente chega no usuário, testa várias ideias do cliente, até mesmo pra ver se o cliente tá no caminho certo ou não. Mas algumas vezes a ideia do cliente não é aceita pelo consumidor final ou usuário. E aí tenho que levar em consideração o que a empresa/cliente precisa e como o usuário gostaria e levar uma solução que seja boa para todo mundo. Não dá pra falar pro cliente “olha, sua ideia é péssima. Tchau, vai pra casa”. Isso seria muito fácil. O segredo é dar o match entre estas dores e desejos.

 Você pode dizer que cria mais atualmente?

Em quantidade, não posso dizer, mas na qualidade minha criação melhorou muito. Na verdade, não acho que só na qualidade, mas agora tem uma base. Tudo o que eu falo, sinto dentro de mim que é muito mais verdade hoje. Eu me sentia confortável antes, mas era uma coisa mais de inspiração. Hoje sinto solidez, certeza dos caminhos.

 Como assim?

No ano passado, realizamos um Teste de Conceito para uma start up, a Reline. O nosso principal achado foi uma questão de posicionamento de Branding, resolvemos então entregar um bônus de marca com a visão do consumidor final. Aí, na hora em que eu sento pra fazer, parece que o caminho criativo nasce dentro de mim antes de eu sentar no computador. E é um processo bonito, porque não é um projeto meu, mas um projeto de várias vozes. Acaba que o meu talento é uma teia formada por mim, todas estas vozes e o ecossistema que forma isso, criando algo sólido.

E o que a sua criatividade traz para UXPertise?

Olha, todo mundo que já fez projetos com a UXPertise, que viu uma entrega nossa, percebe ali um olhar de arte diferente. Então a primeira questão é o nosso olhar de arte, que tem uma entrega visual muito boa, seja na solução de produto, na apresentação em si ou na forma como a gente apresenta. UX nos traz tantas possibilidades quando falamos de metodologia, mas a metodologia acrescida de um borogodó que a criação traz, fica muito mais rica. Diferentes formas de apresentar, de impactar o seu público, seja ele interno ou externo, é uma coisa que vem da criação ou da visão de negócios que a Anna traz, por exemplo.. E isso não vem da metodologia. Isso também ajuda na hora de pensar em soluções novas. Porque na hora da entrevista, se o usuário fala uma coisa e você tem uma cabeça criativa, você já cria várias soluções e, quando dá, já testa na entrevista estas soluções, ou já passa a fazer parte do roteiro.

Existem várias pessoas que trabalharam comigo em criação, que ficam rotuladas naquela caixinha de criação e acho que a gente tem que ter menos caixinhas, misturar as coisas muito mais - como fazemos aqui na UXP.

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Para encerrar, o que podemos esperar desta mistura de UX e Criação?

Ao meu ver, criar com base na visão do usuário é essencial para ressignificar o papel dos criativos nesse mundo que precisa de tanta empatia. Temos que ser os tradutores entre as necessidades das pessoas e as entregas das empresas. É isso que UX traz para nós.

Já para UX a criação traz uma bossa. Traz novos olhares para as conversas com os usuários e abre um novo leque de soluções. E por fim, a criação também traduz a solução de UX para algo que encante os usuários. 

Eu e a Anna pensamos assim: a gente tem que ter um uma entrega funcional e palpável, com conteúdo incrível, mas também tem que ser lindo e envolvente. Tem como discordar?

Curtiu este bate-papo, a trajetória da carreira da Grazi e a UXPertise? Fale com a gente pelo contato@uxpertise.com.br e vamos ver o que podemos fazer por você, pelo seu negócio e pelos seus clientes!



Grazi Granzoto Rainha e minha gêmea ❤️ Minha mãe sempre diz que quando aprendi a engatinhar só dava bola pro comercial, ficava vidrada na TV. Quando começava a novela saia fora e ia engatinhando pra cozinha bater nas panelas com colher de pau. Quando ouvia o barulhinho do comercial tascava o pé e ficava vidrada na tv. Ela sempre falava que já sabia que eu ia ser publicitária ou baterista.

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