A bengala

A bengala

Por Kamille de oliveira

Certa vez comecei a refletir sobre símbolos que marcam a velhice. Se temos o jeans rasgado e a mochila como algo que marca a adolescência ( marcou a minha), porque não ter algo que marca a velhice. E aí, veio em mente, a bengala. O terror dos idosos....A concretização de que de fato a idade chegou!

Quando você pensa em um idoso, aposto que logo lhe vem à mente um senhor corcunda, magrinho, com uma bengala!( Sim, ainda tem muita gente que pensa assim!) E essa imagem se concretiza em vários desenhos animados que amamos assistir...Amamos, se, quem o assiste não for um idoso, pois nesse caso, o desenho perde totalmente a graça! 

Um dia acompanhei de perto o sofrimento vivenciado por minha querida avó. Vovó, é uma idosa independente, bem humorada, viúva, diabética e mora sozinha no interior de Minas. Há um tempo sofreu uma fratura de fêmur. Graças a Deus e aos cuidados prestados à ela, não ficou com sequelas. Recentemente veio à capital fazer uns exames de rotina e se hospedou na casa da minha mãe. Diante de algumas queixas de dor na perna operada e com a melhor das intenções, meu querido pai resolveu presentear minha avó. Disse à ela, que o presente lhe ajudaria a manter a postura e o equilíbrio, assim como um apoio à perna, melhorando a caminhada. Eis que surge com "o presente": Uma bengala! Aquela do tipo pesada, com uma base de borracha antiderrapante. Posso imaginar a expressão da minha vaidosa avó ao se deparar com a tal bengala. Deve ter imaginado como seria quebrá-la na cabeça do meu pai(rsrs)....No domingo, durante almoço da família, ela logo veio me contar a novidade: “_ Acredita que ganhei uma bengala,... e de madeira! Imagine só se vou ficar andando por aí com aquele trem feio”. Comecei a indagar a família: “ Mas por que uma bengala? E quem ajustou a altura? A vovó queria? Mas como assim?”...E diante das respostas pude entender, que a intenção era ajudar a minha avó em sua mobilidade, o que pelo visto não funcionou, já que ela detestou a "novidade"!! Perguntei a ela o que havia de errado, e ela começou a dizer…”_Não me sinto segura”... “Essa bengala é feia demais, não dá pra usar isso …”, “_ Não faz a menor diferença”..."_ Se for pra usar bengala, eu quem vou escolher! Vovó estava decidida a dar uma resposta à sua altura para a família. No domingo seguinte, diante de todos reunidos à mesa para almoço, surge minha avó no corredor, com uma bengala de metal, ( comprada por ela) ajustável, simulando um manco, e estendendo a mão dizendo “... Dá uma esmolinha pra essa pobre velhinha de bengala gente....” Foi uma risada só! Mas, deu pra imaginar o peso simbólico que a bengala trouxe pra ela, certo?

Favorecer a funcionalidade do idoso, respeitando sua autonomia e independência são fundamentais para o sucesso do plano de cuidados. Deixar o idoso ser o gestor do seu cuidado é fundamental para a aceitação dos instrumentos que facilitarão sua funcionalidade nas atividades de vida diária!

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