A bicicleta de 150.000 reais
Imagem representativa do mito de Sísifo gerada por inteligência artificial;

A bicicleta de 150.000 reais

Ensinei às minhas filhas e a quem trabalha comigo que:

Há pessoas que passam pelo mundo e deixam marcas importantes.

Outros nada produzem de relevante, alguns deixam cicatrizes.

Nós escolhemos a que grupo queremos pertencer.

Recentemente, acompanhei a jornada de um projeto inovador de conteúdo para a área da Saúde e fiquei muito feliz por ver que uma dessas pessoas que fazem parte da minha trajetória profissional está no primeiro grupo.

Porém, o que mais chamou minha atenção, no caso, foi o quanto ela teve que se esforçar e brigar para vencer desinteresse, indiferença e resistências para lograr realizar um projeto extremamente relevante. Os obstáculos foram diversos e a luta consideravelmente maior do que aquilo que seria razoável.

Felizmente, no aspecto técnico, ela contou com o auxílio luxuoso de algumas pessoas que se empenharam para que as coisas dessem certo, em benefício da inovação e da mudança de mentalidade na empresa. E tratava-se exclusivamente disso, mudança de mentalidades obsoletas arraigadas.

É esse aspecto pessoal que vale, tem peso. Processos e recursos são fundamentais, mas não têm valor sem a garra das pessoas que os tocam. Vou dar um exemplo. Um amigo meu, ciclista esportivo como eu, comprou uma bicicleta de absurdos 150.000 reais porque ela é dois quilos mais leve do que a anterior que ele tinha. A ideia era que isso melhorasse os tempos dele. Melhorou, de fato, mas apenas 0,5%.

O interessante é que esse amigo está 10 kg acima do peso. Se tivesse perdido dois quilos corporais, teria alcançado o mesmo resultado, economizaria 150.000 reais e, não menos importante, melhoraria sua saúde.

E o que isso tem a ver com as empresas? Tenho presenciado diversas situações em que se acredita que, a partir do emprego de um sistema ou recurso novo — e não necessariamente inovador — haverá algum incremento milagroso nos resultados financeiros.

Particularmente, sou cauteloso quanto a isso. Recursos e ferramentas administrativas são como uma bicicleta de 150.000 reais: não fazem milagre. Uma ferramenta é apenas isso, um recurso que faz parte de um conjunto. Se não mudarmos a mentalidade, ela, sozinha, trará resultados pífios.

Como na frase creditada a Einstein: “Insanidade é continuar fazendo sempre o mesmo e esperar resultados diferentes”.

Bernardo Serra, Ph.D.

Diretor de TI e Tecnologias Educacionais | Consultor em Negócios e Tecnologia

1 a

Adorei o texto, Affonso. Muitas empresas acham que o problema é a falta de recursos ou que os recursos não servem, mas na verdade, o problema está em quem os gerencia. Melhor que gastar os 150 mil na bike pra melhorar o tempo em 0,5% seria gastar esse valor numa assessoria esportiva e melhorar a si mesmo. Com certeza o aumento de desempenho seria melhor que os 0,5%.

Alaor Chaves

professor emérito na UFMG

1 a

Ótimas reflexões, com a redação impecável típica do AA. Parabéns, Aluísio.

Eduardo Rocha

Fotógrafo e designer na edurocha PHOTODESIGN

1 a

Ótimo texto! Só me fez ter ainda mais saudade da época em que estivemos mais próximos! Um aabraço!

Amanda Teófilo

Coordenadora de Suporte à Vendas GEN | Grupo Editorial Nacional

1 a

Me tornei sua fã! Excelente reflexão logo pela manhã. Agregou muito!

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