Bicicletas no trânsito: experiências bem sucedidas em cidades brasileiras
O investimento em modais de transporte para além de carros e motos é tido como fundamental para garantir uma mobilidade urbana mais segura e sustentável. Nesse contexto, especialistas e técnicos do poder público destacam o investimento na bicicleta. Em live do PBM (Painel Brasileiro da Mobilidade), alguns desses atores apresentaram experiências de sucesso na integração da bicicleta ao trânsito.
Importância da bicicleta no trânsito
A cientista social e cicloativista Vivian Garelli falou sobre a experiência de Niterói, no Rio de Janeiro. “Precisamos começar a pensar sobre a importância de modificar a nossa visão sobre a ocupação da via e pensar em outras alternativas como a bicicleta e o transporte público”, ela disse.
Para Vivian, o movimento deve ser de desconstrução do automóvel como a solução para o trânsito. Isso porque além de maior congestionamento, o carro e outros modais desse tipo também são responsáveis por grande parte da emissão de poluentes na atualidade.
No entanto, o caminho dos líderes políticos parece ser outro: segundo a Pnad Contínua de 2023 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de automóveis e bicicletas por residência aumentou em 2022.
Há também a dimensão de segurança. Quando o poder público direciona investimentos viários para acomodar meios de transporte particular, certos grupos ficam vulneráveis aos sinistros de trânsito. É o caso de pedestres e ciclistas, como apontou o Relatório de Status Global Global de Segurança Viária da ONU (Organização das Nações Unidas) de 2018.
Um estudo de impacto do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) de 2018 mostrou que ciclistas podem ser responsáveis por uma redução de até 18% de todo CO2 emitido com transporte na cidade. Os deslocamentos podem chegar até 8 quilômetros. Por esses motivos, especialistas defendem o investimento em prol de mais bicicletas no trânsito.
Recomendados pelo LinkedIn
Intermodalidade
Uma forma de adaptar o trânsito e as cidades ao uso da bicicleta é apostar na intermodalidade. Esse modelo estimula o uso de variados modais em um deslocamento. Seria o caso de usar a bicicleta para chegar no metrô. Ou de usar o ônibus para chegar no bicicletário.
Para isso, Niterói investiu em bicicletários públicos para estimular o uso da bicicleta no trânsito. Além disso, o poder público também buscou garantir mais segurança, iluminação e atividade nas vias da cidade. Tudo isso com o envolvimento de empresas privadas que passaram a estimular o deslocamento via bicicleta em seus funcionários.
Bicicletas no trânsito de Fortaleza
A capital do Ceará conta com uma Política Cicloviária. A iniciativa tem como premissas a segurança viária, redução de poluentes e redistribuição do espaço viário. Assim, a política resultou em programas como as ciclofaixas de lazer e as bicicletas compartilhadas ofertadas pela prefeitura.
Um aspecto fundamental para as políticas públicas é o uso de dados. Por isso, a prefeitura espalhou 150 pontos de monitoramento do trânsito pela cidade. Por meio desse monitoramento, descobriu-se que pela avenida Bezerra de Menezes, uma das mais movimentadas, 4 mil ciclistas passam por dia.
Desde 2013, a malha cicloviária de Fortaleza cresceu 523%, foi de 68,8 quilômetros para 428,8 quilômetros. Uma inspiração que outras capitais podem ter a partir da experiência de Fortaleza é o investimento em periferias. Afinal, em cidades como São Paulo, a malha cicloviária se restringe a regiões centrais.
O objetivo agora é fazer com que a tendência de investimento em bicicletas no trânsito seja irreversível. “Para chegar nesse ponto, precisamos conseguir maior diversidade entre os ciclistas”, disse Gustavo Pinheiro, consultor no programa Pedala Mais Fortaleza. A prefeitura mira o exemplo de Amsterdã, que tem 30% dos deslocamentos feitos de bicicleta. Fortaleza se destaca no Brasil com 5%.