BIOMASSA FLORESTAL PARA PRODUÇÃO DE ENERGIA: UMA GESTÃO SUSTENTÁVEL DOS RESÍDUOS FLORESTAIS
É crescente a preocupação com as fontes de energia, sobretudo com a busca de alternativas renováveis em substituição aos combustíveis fósseis. A biomassa é um recurso renovável proveniente de matéria orgânica, que tem por objetivo principal a produção de energia. No Brasil, segundo os dados mais recentes disponíveis no Balanço Energético Nacional, 83% da oferta interna de energia elétrica é proveniente de fontes renováveis, desse total a energia de biomassa já representa 8,4% da oferta interna disponível, sendo que 64,4% é proveniente do bagaço da cana e 32,5% de florestas plantadas.
A biomassa florestal para uso energético provem de recursos florestais, seus produtos e subprodutos, que incluem basicamente resíduos lenhosos produzidos de forma sustentável, podendo ser obtidos de florestas cultivadas, e também em atividades que processam ou utilizam a madeira para fins não energéticos, destacando-se as indústrias de papel/celulose e moveleira, bem como as serrarias.
O setor florestal apresenta um grande potencial para o aproveitamento desses resíduos, já que os mesmos são inerentes ao processo produtivo. Estes resíduos (cascas, galhos, folhas, cavacos e lascas de madeira, etc) são provenientes da colheita e do beneficiamento da madeira e por muito tempo, não tiveram destinação adequada.
Mas, e agora? Como o setor florestal tem lidado com os resíduos florestais?
A utilização da biomassa florestal para fins energéticos vem sendo estimulada nas últimas décadas em função de aspectos ambientais, econômicos e energéticos. Considerando o aspecto ambiental, esta energia alternativa contribui na mitigação das emissões de gases do efeito estufa pela substituição dos combustíveis fósseis.
A biomassa florestal é composta de materiais orgânicos sintetizados pelas árvores durante o processo de fotossíntese. Desta forma, abrange os materiais orgânicos tanto acima quanto abaixo do solo, ambos vivos e mortos, por exemplo, árvores, culturas, gramíneas, raízes, entre outros. A biomassa viva acima do solo inclui: fuste, tocos, galhos, cascas, sementes e folhagens, e abaixo do solo compreende as raízes. Já a biomassa morta é referente aos resíduos de lenho, raízes e tocos, contidos no solo até o dossel da floresta. Quando a biomassa florestal é utilizada para propósitos energéticos, a mesma pode ser produzida em plantações florestais já implantadas com esta finalidade, ou então, a partir do aproveitamento de resíduos gerados no processo de colheita e processamento da madeira.
A indústria de árvores plantadas é um dos poucos setores brasileiros que gera a maior parte da energia elétrica consumida nos seus processos produtivos. A queima de biomassa florestal em caldeiras, em muitas indústrias, como as que produzem polpa celulósica, contribuem e muitas vezes satisfazem às necessidades energéticas na linha de fibras, auxiliando na maior rentabilidade da empresa pela redução de custos em seus processos produtivos. A energia de biomassa, notadamente a florestal, apresenta-se como uma alternativa para a geração de energia limpa, renovável e produtora de empregos.
Com base em dados recentes, foram produzidos anualmente cerca de 73,0 milhões de gigajoules (GJ), o que corresponde a 73% dos 99,8 milhões de GJ consumidos pelo setor. Com a constante modernização das fábricas, além de autossuficientes em energia, a indústria gerou 18,3 milhões GJ excedentes, que são destinados à comercialização para a rede pública. As empresas do setor utilizam quase que exclusivamente subprodutos de seus processos para a geração de energia térmica e elétrica. O licor negro, proveniente da produção da celulose, e a biomassa florestal representam 64,3% e 18,1%, respectivamente, de toda energia produzida nas fábricas (Figura 3).
Gestão e aproveitamento dos resíduos sólidos
Aproximadamente, 52,0 milhões de toneladas de resíduos sólidos, foram gerados no último ano, sendo que, desse total, 36,9 milhões (70,9%) foram gerados pelas atividades florestais e 15,1 milhões (29,1%) pelas operações industriais. A maior parte do resíduo é reutilizada e o restante segue para a destinação correta, dentro dos critérios legais. Vale reforçar que na atividade florestal, 98,0% dos resíduos sólidos, principalmente cascas, galhos e folhas, são mantidos no campo para proteção e fertilização do solo. Os demais 2,0%, entre óleos, graxas e embalagens de agroquímicos, são encaminhados para destinação final.
Na indústria, 63,3% dos resíduos são destinados à geração de energia por meio da queima em caldeiras, que geram vapor e, eventualmente, energia elétrica para o processo produtivo. Além disso, resíduos como cavacos e serragem e aparas de papel são reutilizados como matéria-prima por outras empresas do setor e representam 29,4% do total de resíduos da indústria. Enquanto os resíduos como a lama de cal e a cinza das caldeiras representam 4,5%, e são reutilizados, por exemplo, para produção de cimento e óleo combustível reciclado. Os demais resíduos representam 2,8% e são encaminhados para aterros industriais, atendendo aos critérios legais.
Uma prospecção sobre a produção de madeira para energia
A diversificação da matriz energética é uma realidade e uma necessidade no contexto atual, o possível declínio das reservas mundiais de combustíveis fósseis, a oscilação do preço do petróleo e regulamentações ambientais mais rigorosas, desencadeou uma corrida pela descoberta e aprimoramento de fontes de energia renováveis. Desde então, a produção de energia a partir de biomassa vem se destacando em nível internacional devido à sua sustentabilidade ambiental e seu potencial de promover o desenvolvimento rural dos países emergentes. O Balanço Energético Nacional indica que o consumo de resíduos de madeira e outros para produção de energia, vem aumentando a sua participação à taxa média de 4,1% ao ano, configurando um nicho em potencial para o setor.
O potencial de biomassa lenhosa residual na região amazônica é enorme. E está associado ao desenvolvimento da atividade madeireira na região, tanto para o manejo florestal sustentável, quanto para a industrialização das toras. Para estimar o potencial de biomassa lenhosa residual na geração termelétrica, foram consideradas as florestas públicas federais passíveis de concessão (Floresta Nacional – Flonas, Área de Proteção Ambiental - APA e florestas não destinadas) e as áreas de Reserva Legal de propriedades particulares constantes no Cadastro Ambiental Rural (CAR), nos estados da região norte, Maranhão e Mato Grosso, adotou-se a produtividade média de 18 m³ de tora/ha, com ciclo de 25 anos. Considerando o contexto da Amazônia, foi adotado que seriam descontados 20% do total das áreas passíveis que corresponderiam às Áreas de Preservação Permanente (APP). A remuneração da biomassa lenhosa residual pelos preços da lenha, mesmo no caso de se considerar o valor mais alto, permite uma redução de custos de geração (comparado ao custo de geração de energia a partir do diesel) de no mínimo R$ 550 milhões
Quanto aos impactos socioambientais, estudos apontam que o aproveitamento dos resíduos para geração de energia a partir de resíduos da madeira pode ser considerada atividade neutra, já que o CO2 emitido é o mesmo absorvido anteriormente para composição da biomassa. No caso dos sistemas isolados, o impacto positivo é ampliado, uma vez que essa fonte vem substituir a geração a diesel, altamente poluente e emissora, além de cara, que ainda hoje representa mais de 90% do suprimento a esses sistemas.
O investimento em energias renováveis tende cada vez mais como uma atrativa oportunidade de negócios. Quando tratamos sobre tendências do mercado de energias renováveis, estamos nos referindo a inovação, lidar com novas tecnologias, produtos, processos e serviços a esse mercado, nesse sentido, a geração de energia a partir dos resíduos florestais é uma atividade com perspectivas favoráveis, onde aspectos positivos em termos ambientais, sociais e econômicos são observados, tornando a sustentabilidade inerente à atividade.
Gustavo Silveira
3P Florestal - Reflorestamento e Consultoria | Diretor Executivo
FAEPA | Membro do Conselho da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará
CNA | Membro da Comissão de Silvicultura e Agrossilvicultura da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil
Rafaela Martins da Silva, Engenheira florestal, M.Sc. em Ciências Ambientais e Florestais