Botafogo Futebol & Regatas e a decência na docência

Botafogo Futebol & Regatas e a decência na docência

A recente derrota do time de futebol do Botafogo diante do mexicano Pachuca, em Doha no Qatar, me fez refletir sobre uma questão que, a exemplo do futebol, também acontece em outras arenas, fora das quatro linhas. 

Me ocorreu perguntar: até quando seremos explorados e nos curvaremos ante a sanha e os interesses desmedidos dos nossos “patrocinadores”?

No caso do  Botafogo, o time jogou em 2024 nada menos do que 75 jogos, entre os diversos campeonatos que disputou (regionais, nacionais e internacionais). As últimas quatro partidas, disputadas em um intervalo de 11  dias, resultaram em dois títulos que sequer puderam ser comemorados pelos jogadores e comissão técnica, visto que demandaram viagens internacionais no dia seguinte. Até onde chega essa exploração do ser humano - física, emocional e psicológica? 

Na docência, de uns tempos para cá, vimos assistindo  o mesmo fenômeno  dentro e fora das salas de aula. Por exemplo, mercê de um portaria do MEC, foi autorizada a substituição de parte da carga horária dos cursos presenciais no ensino superior por atividades remotas. Estas,  cumpridas mediante a entrega de diversos trabalhos pelos alunos ao longo do semestre, têm que ser corrigidas pelos professores sem, contudo, qualquer remuneração. Questões avaliativas autorais são exigidas  para as provas, formando bancos de questões para uso futuro sem qualquer pagamento de direitos autorais. Tudo isso no campo pedagógico. 

Por outro lado, no acadêmico, tarefas antes executadas pelo corpo administrativo das universidades (secretarias), foram sendo paulatina mas sistematicamente transferidas para o professor. No bojo das plataformas educacionais e dos sistemas acadêmicos, por exemplo, o registro e controle de frequência, lançamento de notas de avaliações e trabalhos, conteúdos ministrados já são da responsabilidade dos docentes a custo zero. Isso, sem falar na prática da redução do valor  da hora-aula. 

Pode alguém mais afoito ou incauto dizer: "Não está contente? Pede demissão!” Só quem atua na área sabe quanto tempo leva para formar um bom professor. Talvez até por isso, os indicadores da educação brasileira (básica e superior) estejam no nível em que estão.   

A saída

Definitivamente, a solução não está em abandonar o campo. Resgatar a decência na docência  e no futebol é um processo que exige reflexão, compromisso e ação tanto individual quanto coletiva. 

Por exemplo, os times europeus se negaram a jogar a Copa Intercontinental na América do Sul na década de 1970 principalmente por causa de problemas relacionados à violência, falta de segurança e desorganização nas partidas realizadas no continente sul-americano. Muitos clubes europeus começaram a priorizar suas competições domésticas e continentais, como a Liga dos Campeões, em vez de participar de uma competição que não oferecia grande retorno financeiro e apresentava alto risco de conflitos. Eles conseguiram, não só por essa atitude mas, também, por ela mais respeito e um calendário mais humano. 

Por que não reunir aqui no Brasil as diversas entidades envolvidas (times, federações nacionais e internacionais) para debater um calendário mais justo?

Já na arena do ensino-aprendizagem, aqui estão algumas ideias e práticas que podem ajudar a alcançar esse objetivo:

1. Reconexão com a missão educacional:

ensinar é mais do que transmitir conhecimento; é formar cidadãos éticos e críticos. Lembrar desse objetivo central ajuda a redefinir a postura docente.

2. Prática de valores éticos:

ser exemplo, demonstrar integridade, responsabilidade e justiça nas interações diárias inspira os outros a fazerem o mesmo.

3. Valorização e desenvolvimento profissional:

defender condições dignas de trabalho: salários justos, infraestrutura adequada e apoio emocional são essenciais para garantir que o professor possa atuar com decência.

4. Práticas pedagógicas humanizadoras:

fomentar o diálogo através da criação de espaços para escuta ativa e discussão de ideias constrói um ambiente democrático e participativo.

5. Construção de comunidade:

trabalhar em rede - professores, alunos e gestores - contribui para criar uma cultura de respeito e colaboração.

6. Resgatar o amor pela profissão:

lembrar do impacto duradouro da docência nas pessoas: é uma oportunidade única de transformar vidas, e lembrar disso pode reenergizar a vocação.

Reflexão Final

A decência no futebol e na docência é tanto uma atitude quanto uma prática. Ela nasce da coragem de reconhecer desafios e da determinação de enfrentá-los com ética, empatia e compromisso. Pequenas ações diárias têm o poder de transformar não apenas as arenas, mas a sociedade em sua totalidade.

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