Brasil e Israel: Uma Parceria Estranha?
Um é gigante pela própria natureza, 5º maior país em extensão, com 8,5 milhões de km². O outro, com 20 mil km², é um dos menores países do mundo, figurando apenas na 150ª posição em tamanho.
Um foi abençoado com vastos recursos naturais e a maior reserva de água doce do mundo. O outro, apesar de sagrado para cristãos, muçulmanos e judeus, foi "amaldiçoado" com mais de 50% do seu pequeno território em área desértica.
Um não tem histórico recente de guerras ou conflitos. Cercado de países considerados amigos, não pega em armas contra outros países desde a longínqua Guerra do Paraguai, encerrada há quase 150 anos. O outro é rodeado por nações que buscam sua destruição, inconformados com a heresia daqueles infiéis que ousam a desafiar a história e o tempo e permanecem resilientes na terra, considerada por eles, como prometida.
Um possui a maior população católica do mundo, também contando com enorme e crescente número de evangélicos. O outro é o único país judeu do mundo, além de ter uma minoria de aproximadamente 20% de sua população de origem muçulmana.
É verdade: Brasil e Israel são bem diferentes e distantes um do outro, mas compartilham semelhanças. Populações formadas por imigrantes que adoram futebol, cerveja e praia (pelo menos a parte secular de Israel). Eram primordialmente agrícolas até a década de 70 e debelaram super inflações na década de 80 e 90. Vivem assombrados por casos e denúncias de corrupção e outros crimes cometidos por políticos nos mais altos cargos de poder (sendo que as proporções e valores em Israel são bem menores e geralmente os indivíduos responsáveis devidamente punidos). Ademais, em que pese seu primoroso avanço econômico, Israel continua sendo um dos países mais desiguais, dentre os países da OCDE, com alto nível de concentração econômica e ainda tem muito a evoluir no combate à burocracia em alguns setores – Baruch Hashem –em grau muito menor do que a realidade brasileira.
O pequeno país do Oriente Médio, entretanto, ascendeu a níveis que o Brasil ainda sonha nas áreas de tecnologia, segurança, medicina e educação, transformando-se na Nação Start-Up, 3º terceiro país com mais empresas listadas na Nasdaq, atrás apenas dos Estados Unidos e da China, gozando de alto Índice de Desenvolvimento Humano – IDH e com uma renda per capita anual de mais de US$ 34,000. Não se engane: direta ou indiretamente, grande parte dos produtos ou descobertas tecnológicas do mundo atual tem algum componente de origem israelense: do Waze ao drone, do pendrive ao firewall – Le chaim!
Muito já se escreveu sobre os motivos de sucesso da Nação Start-up. Desde o grande número de imigrantes altamente qualificados, passando pela cultura de assumir riscos que seria moldada e disciplinada pelo serviço militar obrigatório e a eficiente construção de um sólido ecossistema de inovação, onde incubadoras públicas e privadas e fundos de investimentos contribuem reciprocamente para o sucesso dos empreendimentos. Lógico que nada funcionaria sem investimentos eficientes em educação e saúde, além de leis trabalhistas flexíveis, tributação relativamente simples e controle dos gastos públicos (soa familiar).
Nunca se escreveu tanto sobre a parceria Brasil e Israel //Israel e Brasil. Não à toa: o presidente - eleito Jair Messias Bolsonaro, desde o começo de sua campanha, fez questão de ressaltar sua simpatia por Israel. Tal afeto culminou na vinda, pela primeira vez na história, de um première israelense à posse do presidente do Brasil.
A verdade é que essa parceria não é de hoje e nem o notório alinhamento brasileiro, durante a administração petista com ditaduras que comungam sentimentos antiamericanos e, por extensão, anti-israelenses, constituiu obstáculo para o florescimento das relações comerciais entre Israel e Brasil. Destarte, Israel foi o primeiro país do mundo a ter um acordo de livre comércio com o Mercosul – ainda em 2010. Na esteira desse acordo foi lançado um Acordo de Cooperação Tecnológica Brasil/Israel, prevendo o financiamento conjunto para propostas envolvendo empresas brasileiras e israelenses. De lá para cá, foram vários projetos aprovados.
Com a chegada de Bolsonaro, essa parceria tem tudo para se intensificar: para além de afinidades pessoais, vislumbra-se também um alinhamento de interesses políticos, ideológicos e econômicos: Bolsonaro visa a agradar parte de sua base de religião evangélica – pro-Israel, afastar-se das ditaduras do Oriente-Médio e América Latina e aproximar-se dos Estados Unidos de Trump. Do lado de Israel, vemos um Bibi, mesmo envolvido em denúncias de corrupção em casa, ainda grande favorito para reeleger-se nas próximas eleições, antecipadas para 09/04/2019. Esse tipo de aproximação e abertura com países como o Brasil, que, por sinal, é adorado por grande parte dos israelenses, combinado com ótimo desempenho econômico e relativo sucesso na guerra contra o terror, fizeram com que ele conseguisse permanecer tanto tempo no poder, podendo tornar-se o mais longevo primeiro-ministro da história de Israel, caso vença as próximas eleições.
Muito além de fazer o Sertão virar mar, resultado da tal celebrada dessalinização propalada nos meios de comunicação ou a polêmica transferência da Embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, como Bolsonaro já anunciou várias vezes (e negou outras tantas), o incremento e a intensificação das relações comerciais do Brasil e Israel tem tudo para ajudar o Brasil no seu processo de reabertura comercial iniciado com Temer (processo, inclusive, reconhecido pela OMC no final de 2018). Ademais, espera-se que as oportunidades de negócios gerados por esta parceria gerem frutos duradouros, com investimentos recíprocos, intercâmbios para o fomento da cultura do empreendedorismo e trocas de experiências de práticas eficazes na elaboração e gestão de projetos de tecnologia, saúde e segurança, que certamente contribuirão para a o crescimento e modernização da economia brasileira. Às vezes, as coisas mais estranhas são as mais óbvias.
Head de Processos e Consultor Governança em Privacidade e Proteção de Dados (LGPD) at Fundação Vanzolini | Certificado EXIN®️ DPO | BSI®️TPECS/ISO 27001
6 aEdu, parabéns pelo artigo que com muita propriedade e conhecimento pela experiência vivida em Israel nos traz uma visão muito maior da importância da parceria entre os dois países, que somente a questão da dessalinização de água.
Especialista Operacional | TES
6 aArtigo muito bem escrito, Kol Hakavod! A intensificação das relações comerciais entre Brasil e Israel tem tudo para dar certo, temos uma situação win-win. Por um lado, Israel (conhecido como start-up nation) com seus conhecimentos em hi-tech, por outro lado, Brasil, com sua vasta mão de obra qualificada e desempregada. Aguardo ansiosamente os frutos dessa relação.
Sócio da Área de Resolução de Disputas - Nantes Mello Advogados
6 aExcelente artigo, Eduardo Ludmer. Parabéns!
Em busca de nova oportunidade e desafios!
6 aUma das grandes decisões positivas para o Brasil! Vem tecnologia, transparência, valores, ética, respeito, segurança e tudo que precisamos. Shalom para todos!