Brasil: O país do 6 por meia dúzia
A internet está em ebulição, o cyber espaço se tornou o maior ring eleitoral do mundo. Como diria Lula, “nunca antes, na história deste país”, se via tantas discussões sobre política, que são cada vez mais trans-mídias, migram do contato interpessoal para as redes sociais, TV’s, jornais e culmina na barbárie do não debate. Os embates se tornaram comuns, o ódio a um candidato, amor e idolatria a outros, e algumas pessoas ainda sóbrias buscam uma rota de fuga da barbárie antidemocrática eleitoral.
Em meio a tantas opiniões, o eleitorado que se diz indeciso ou que vai votar em braço e/ou nulo é deixado de lado, a massa se divide entre Petistas e apoiadores do Bolsonaro (PSL), os extremos estão cada vez mais distantes. Um lutando pela hegemonia no poder, tentando amenizar o decurso recente, apresentando bons momentos de um passado feliz, alicerçado na mentira ou numa “pós-verdade”. O outro lado, formado por pessoas saudosistas, que se negam a acreditar nos horrores dos anos sombrios da ditadura militar, lado de quem se julga cristão e é “a favor da vida”, apesar de querer poder andar armado em nome da “moral e dos bons costumes”, e por fim é contra o Partido dos Trabalhadores. Insatisfeitos com a atual política encontraram apoio em seu super-herói, corrosivo e despreparado.
Em meio a essa disputa temos outros 11 candidatos, que não sabem para onde correr, prezam pelo diálogo e a democracia. Não que eles não queiram o poder, mas são cachorros pequenos, sem expressividade, tampouco assustam os saqueadores da nação. Sem poder e espaço, eles sucumbiram e agora juntam-se ao povo e assistem a essa batalha insana.
Existem dois projetos ambiciosos de poder, verificamos isso com a candidatura de Lula, o mesmo queria mostrar que apesar de estar mais sujo que pau de galinheiro, era amado e querido, que venceria mesmo da cadeia, por fim teve sua candidatura indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral e hoje vê seu projeto ameaçado. Então, lançou mais um de seus postes (Nome dados um candidato com pouco espaço político, entretanto com grande apoio de renomes da esfera). Fernando Haddad, apesar de sua larga experiência como Ministro da Educação e prefeito da maior cidade da América Latina, São Paulo, têm a vantagem de uma boa indicação que vem com uma transferência maciça de votos, e a desvantagem do ódio gratuito a ele deflagrado, tudo isso, devido ao fato de estar no PT, ao lado de Lula, Gleisi Hoffmann, Antônio Palocci e companhia.
O outro projeto emerge do caos, ele vem sendo alimentado pelo conservadorismo religioso e por pessoas de mente fechada, pelos pensamentos preconceituosos, um país dividido pelo medo. Anseiam por uma nação livre de políticas públicas, “As minorias que se adequem as maiorias”. Não reconhecem o passado duro e cruel de exploração humana, do silêncio, o Brasil do “Ame-o ou deixe-o”. O projeto traz o uso da força, doa a quem doer, “inocentes morrem na guerra, isso é normal”. O estado deixa de ser laico, e passa a andar junto da fé, e vale lembrar que essa dobradinha NUNCA deu certo.
Um lado, falta humildade para assumir os erros, o outro renega o passado inflamado e incoerente, em que a lisura permite ataques aos mais oprimidos. Os cães pequenos por sua vez, possuem uma vida política invejável, pessoas realistas e que promovem a união. Entretanto, o brasileiro gosta de “comer o pão que o diabo amassou”, desejam parar de sofrer nas mãos do PT, para sofrer nas mãos do Bolsonaro, trocando 6 por meia dúzia.
A eleição de 2018 é marcada pelo ódio que divide amigos, conhecidos, família, ódio que separa o país ao meio. O não debate faz com que as pessoas desconheçam as propostas e os planos de governo, estes viraram efemeridades, o que importa é a raiva, as opiniões, bem como as mentiras que se tornam “autoverdades”. É como se uma barragem de Fake News rompesse, a enxurrada vai assolando onde passa, soterrando a verdade, o olhar crítico, a informação, a dignidade das pessoas.
Resta aos mais sensatos o desespero da incapacidade promover mudanças reais, aos soldados uma incisiva batalha, cada qual com suas armas (celular ou computador). Todos com suas opiniões, donos de suas autoverdades. Nesse projeto de poder, quem perde é o povo, vivendo nas bolhas de suas redes sociais, consumindo mais do mesmo, totalmente imersos em um ciclo destrutivo. Não sabem conviver com as diferenças, enxergam na diversidade uma ameaça, seguem padrões ditados por algoritmos, que promovem uma verdadeira lavagem cerebral, matando neurônios e a liberdade que a democracia oferece todos os dias. Vivemos em uma nação bêbada de ódio.
Por Marcelo Maradoss.