Brasil: sempre "eterno em desenvolvimento". (reflexão e construção)
"Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.
Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão."
(Cotidiano - Chico Buarque)
Estamos vivenciando uma crise, mas não é mais uma crise como se tem falado: não chegamos, estamos numa consequência da formação de um país que não escapa de sua estrutura.
Desde nossa herança de colonizados, passando ao golpe de Estado que foi nossa Proclamação em República, não devemos justificar nossa situação com estes fatos: eventos passados servem como aprendizados para construir um bom futuro. A questão é estrutural.
O Brasil, no dito de Gilberto Freyre em seu importante livro “Casa Grande & Senzala”, nos fala da origem social e econômica que se mantém até hoje, ou seja, uma estratificação social que permite o rechaço entre as classes através da economia, costumes, educação, e continua com a máxima metafórica de Hegel: uma relação senhor e escravo. Claro que o tempo se encarrega de aperfeiçoar e disfarçar esta relação com outros nomes e comportamentos. Um disfarce é apenas um disfarce. Uma estrutura que se reflete na economia com atitudes em geral pífias do Poder Público e de muitos empresários e trabalhadores. Aqui, a educação mostra sua realidade quando protestamos, quando trabalhamos, quando estamos na mesa para comer.
Não investimos em Educação desde sempre, a exceção foi na década de 20 do século XX e uma tentativa no início da década de 60. Anísio Teixeira, grande educador, não teve muito espaço e outros, o Brasil não deu o seu devido valor. Na atualidade, assistimos uma decadência grotesca de nossa educação, em todas as classes sociais, calcada nessa estrutura freydiana, que se reflete em todos os setores do país. Não investimos em conteúdo e não incitamos o senso crítico (pensar dá trabalho!), deixando o Brasil à margem dos movimentos sociais, econômicos e culturais que acontecem no mundo. Informação é diferente de conhecimento. Memória histórica é diferente de lembranças. Precisamos de sete (07) gerações contínuas em bom investimento na Educação, uma geração investindo na outra, para o Brasil melhorar como um todo.
Nossa política é um reflexo desta nossa Educação e estrutura “casa grande & senzala”. No dito do livro de Raymundo Faoro, “Os Donos do Poder”, o estamento, a troca e os vícios de um país subdesenvolvido se faz sob o silêncio das pessoas, porque não se sabe porque se protesta (ambos os lados) por nem saberem a Constituição do seu próprio país e por não terem memória histórica: tanto protestos contra ou favor do governo são caricaturas de se achar num país em eterno desenvolvimento. Devemos protestar, saber protestar e atuar no que se quer. Nossa política executiva é feita de paliativos que duram até o primeiro golpe financeiro e nossa política legislativa preserva os interesses individuais, cujo escambo é o mote. Salva-se poucos. O Brasil não tem um líder e a população se prende a juiz (ou juízes) que faz o seu trabalho que é devido. É pago pelo dinheiro público para isso. Mesmo o judiciário, em muitos casos, mostra seu complexo de intocabilidade, abrindo um perigoso precedente: se nossas instituições (todas) são frágeis, podemos fazer justiça com nossas próprias mãos, o que já acontece. Mata-se porque não gosto da pessoa. Idade Média.
A corrupção é um reflexo de tudo isso onde todos praticam: um câncer que atinge todos os brasileiros, dos pequenos atos aos grandes. Nos “achamos” e na verdade, não somos humildes e determinados para construir um país, só poucos. Uma reforma no sistema eleitoral faz-se importante, mas, quem vota as leis não cumpre-as.
Não valorizamos nossa cultura, relegando-a com eventos históricos que a TV lembra aos desavisados. Com isso, nossa identidade se perde em nome de uma globalização. Globalização é mais do que isso.
Na crise, o otimismo só tem validade quando encara uma realidade. Aí, vale ser otimista para construir, sair da crise. O Brasil não irá crescer em 2016 e teremos um agravamento da recessão com uma estratificação social pior: não respeitamos a opinião do outro, odiamos (casa grande & senzala) e nossas contas públicas são enormes com atitudes a curto prazo, não a longo prazo. O país será sempre “em desenvolvimento” por nunca investir no que precisa e manter esta estrutura que afirmei antes. Nas empresas, mantemos um modelo estrutural do século XIX no trato com os profissionais, em muitos casos, não permitindo a criatividade e um espaço para estar com suas família. Por outro lado, muitos trabalhadores não se qualificam de fato, apenas sendo tendo atitudes focais e não ampliadas. Não se deve apenas olhar o presente e sim, o antes e o futuro. A crise é grave porque colhemos as consequências de nossa passividade ante a um quadro ilusório, parnasiano, onde a agressividade sempre latente se mostra destruindo.
Um país como o Brasil com belezas naturais lindíssimas, uma capacidade de criatividade incrível que temos, com uma bela característica cultural rica e com uma extensão territorial que nos permite ser auto suficiente quanto aos brasileiros, merece mais respeito. Cuidar do nosso, aprender com os outros e fazer o que é preciso com nossa identidade, abandonar este cômodo “em desenvolvimento” construindo uma economia mais sólida, reformular e reforçar nossas instituições políticas e judiciárias e principalmente, mudar nossa mentalidade “casa grande & senzala”. Não perdemos de 7 a 1 para Alemanha no futebol: aquilo foi uma lição sobre cultura de planejamento dentre outras coisas. Ainda não aprendemos.