Buraco de Minhoca
O dia em que a física e a minha irmã entram num bar
Era uma tarde de 1997, o motorista do ônibus escolar ia deixando as criancinhas em suas respectivas casas. E lá estava, uma mirradinha com quantidades absurdas de cabelos ondulados. Um pacotinho sendo entregue em mais uma rotina de aprendizado infantil.
- Bolinhooooooooooo!
Gritava o garoto ansioso para encontrar sua irmãzinha após horas esperando. A ansiedade tão nova e já assolando o coração do menino.
Anos se passaram e as dores aumentaram. A criação conturbada e aventuras entre duas criaturas perdidas no espaço iam construindo um relacionamento de muito amor. Brigas e justificativas de eu só queria te proteger era rotina dos dois.
O mais velho sempre com a intenção de cuidar da mais nova, prover proteção física e emocional que não era obrigação dele. A mais nova sempre com a intenção de ser simplesmente maluca, desapego aos bens materiais e ao universo. Como eles estão vivos até hoje, é o maior questionamento da ciência.
E da alma também. A parceria entre dois irmãos sempre na base das emoções em seus picos à beira de uma crise. E teve, muita, não foram poucas. A ansiedade de repente era mãe dos dois. Em seus braços fortes envolveu os medos e causou estragos. Graças ao Criador, reparáveis.
Feridas que vão se curando e a cada filosofada em suas pausas dos trabalhos, os dois irmãos vão refletindo sobre as decisões do caminho. Viver ferido. É difícil, claramente. Mas quando chegam em casa após a 37ª ida ao aeroporto, o alívio está ali, unidos e demonstrando amor um ao outro. Um amor de Cruz.
Não pude impedir os acidentes do seu frágil corpo. Os homens falham diariamente e infelizmente os piores falharam com você. Eu mesmo, o maior deles. Muito menos as dores psicológicas causadas por todo o mal do mundo, não fui capaz de estar lá.
1997 é a memória que me resgata da saudade daquela minhoquinha branquinha de cabelos infinitos. Um momento de paz dentro de uma sopa de histórias incríveis.
2020 é o presente de saber que a sua existência é uma quebra da realidade física que conhecemos. Você já ultrapassou o infinito e eu não posso mais fazer muita coisa. Espero um dia que o maior Infinito de todos os tempos venha lhe resgatar.
Annelise, o buraco de minhoca que entro aqui é literário e puramente uma forma de contar minha história do amor que sinto por você.
Aos que têm irmãs mais novas aqui: estudem física. Essa matéria chata da escola vai te trazer luz para um mundo tenebroso que é ter uma irmã mais nova impossível.
Aos que não tem irmãs mais novas aqui: estudem física. Se você não estudar, não passa de ano.
Garçom, traz mais uma.
Revisão por Dona Angélica Schulz
Mais textos, crônicas, outras coisas interessantes e nem tão espetaculares mas surpreendentes para ler, você encontra aqui: medium.com/@gabriel.schulz93
Gabriel Schulz
Um quase biólogo que decidiu mudar o rumo e caiu na Comunicação. E agora quero contar para o mundo o que é ser eu mesmo.
Rabiscando cadernos e enchendo o HD de textos desde 2007. Não paro de escrever desde os 13 anos de idade. Vi um potencial quando, minha redação de ciências virou a capa da prova do 3º bimestre.
Você já jogou Ultimate Frisbee?
Tive um Tumblr de textos secreto, que nem era tão secreto assim. Tenho uma cicatriz causada por um Ipod e odeio gamers mesmo sendo um grande gamer.