A busca pelo arco-íris e um pote de ouro nas mãos
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A busca pelo arco-íris e um pote de ouro nas mãos

Aos 3 anos, pulei o maternal. Aprendi as cores e os números com a minha tia na sala de casa, usando pregadores e EVA.

Aos 5 anos, estava no pré. Acabaram as noites de contação de histórias porque eu já lia meus próprios gibis.

Aos 13, entrei no Ensino Médio. Estudar para a prova de Química aos domingos foi a melhor escola de disciplina que já tive.  

Aos 16, passei na faculdade com bolsa integral. Esperava encontrar os meus, gente criativa com quem eu me inspirasse. Não as encontrei. Pensei em desistir do mundo lá fora e seguir carreira acadêmica. Mas me dei conta de que é difícil mudar o mundo sem sair da biblioteca.

Aos 17, comecei a trabalhar. Aprendi a enviar e-mails, ser parte de um time e reconhecer um desencaixe no peito quando voltava de metrô para casa.

Aos 19, fiz as pazes com meu trabalho. Entendi, sentada no chão da Livraria Cultura, lendo um livrinho preto chamado Steal like an Artist! que eu poderia ser a artista que sonhava, onde quer que estivesse. Um mês depois, eu mudava de emprego.

Cheguei sem saber o que era empreendedorismo, Venture Capital, pitch ou scale-up. Seis anos se passaram e aprendi as regras desse mundo a ponto de querer quebrá-las.

Nesse meio tempo, a escrita cresceu na minha vida. Virou profissão, hobbie, propósito e paixão. Aprendi que algumas coisas só saem da gente por escrito. Conheci mais de 50 histórias de empreendedores e empreendedoras que me ensinaram, pelo exemplo deles, o exemplo que quero ser. 

Na pandemia, experimentei uma vida de ateliê. Sentada de frente a uma janela larga com meus autores-inspiração espalhados pela mesa, eu poderia, enfim, incendiar corações. Curar o mundo com as minhas palavras. Enfileirei algumas delas na folha em branco até criar meu primeiro livro, o Minu e a Cidade sem Tempo. Alguns dizem que é uma autobiografia da menina que sofre de atrasos. Eu prefiro vê-lo como a cura da minha relação com o tempo.

Há alguns anos, porém, tenho buscado meu arco-íris. Não pelo pote de ouro no final. É um privilégio já tê-lo encontrado nas mãos. Talentos que uma vida-roteirista me concedeu. Eu busco o arco-íris só para fazer uma pergunta: então, o que faço com meu pote de ouro?

Ano passado, fiz 51 trabalhos paralelos nas horas vagas. Exagerei a ponto de quase quebrar. Acreditava que um deles me levaria a essa resposta. Acabei encontrando em outro lugar. Um caminho sem asfalto, nem grandes sinalizações.

Veio com o nome de narrativas regenerativas.

Um Universo se abriu diante de mim. Pensei em mudar meu LinkedIn para Designer de Utopias. Me vi usando exercícios de escrita para reativar a imaginação das pessoas. Perdi a hora imaginando como as minhas palavras podem criar novos mitos para uma humanidade já desgastada de esperanças. 

Desde que descobri esse caminho, tenho sonhado a ponto de sentir as borboletas dançando no estômago. Quero fazer do verbo, criação do mundo. A primeira memória do que ainda vamos viver. Uma partícula inflamável de otimismo em um futuro já preenchido por distopias. Um alargamento de horizontes que aprendi com todos aqueles que sonham grande.

Hoje, se me perguntam em que ponto estou, dou as direções de um não-lugar. O meio do caminho entre tudo o que já vivi e a responsabilidade que sinto com o que ainda vou viver.

Para chegar do outro lado da margem, preciso de algumas pedras para saltar. Quando olho para trás, agradeço todas as que me trouxeram até aqui, mesmo quando saltei no escuro. Espero honrar as pessoas que me ajudaram a perder o medo da água. Mas, quando olho para frente, a neblina ainda me impede de adivinhar o que há do outro lado. Espero, secretamente, que seja algo tão grandioso que nem minha imaginação sabe inventar.

Até lá, escolho nutrir meu pote de ouro para que ele atraia novos arco-íris.

Luiz Lago

General Manager at Conexão Malhas e Desenvolvimento

3 a

que bacana...

Palavras que emocionam <3 Obrigada por compartilhar esse talento!

Que incrível La! Seu talento, ou pote de ouro, é enorme mesmo! Parabéns pela sua história, e por contar sobre ela com tanto coração e criatividade, muito ispiradora S2

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