Business as Usual
No momento atual, é inevitável recorrer ao pensamento de cientistas como James Lovelock (1919 – ainda vivo) e Mary Midgley (1919-2018), dentre outros, que por mais de sessenta anos vem alertando acerca do paradigma de desenvolvimento econômico continuo às expensas do uso perdulário dos recursos naturais e da degola dos animais.
No século XVII, a visão atomística e reducionista iniciada com Renée Descartes (1596-1650) com o conceito grego de separação do corpo e mente, a interpretação mecanicista dos fenômenos como a simples decomposição de suas partes com aplicação de análise física e matemática, de origem puramente determinística, consolidaram a hegemonia de nossa espécie, culminando na civilização dos dias de hoje.
Por duzentos anos, o modelo cartesiano progrediu bem. Segundo Mary Midgley foi um período de excessiva arrogância, em que predominou o cientificismo, que afirmava a superioridade da ciência sobre todas as outras formas de compreensão humana da realidade (religião, filosofia, metafísica, etc.). Alguns físicos eminentes afirmavam que só haveria “três descobertas ainda por fazer”, até que a humanidade chegasse à “Teoria do Tudo”.
A quebra do paradigma da física newtoniana com os estudos de Einstein (1879-1955), ainda sob o domínio do pensamento determinístico, propunha conceitos como a natureza partícula- energia da luz, a dilatação do tempo e contração do espaço na teoria da relatividade geral e sinalizou o limite do determinismo cientifico para modelar a realidade das coisas.
O aparecimento da Mecânica Quântica representou o golpe final no cientificismo, ao se reconhecer que os modelos concebidos pela mente humana sempre seriam imprecisos e só funcionariam para determinadas aproximações e condições de contorno.
A Estatística, com seu pensamento probabilístico, foi primeiramente aplicada ao comércio e aos negócios, e depois transposta às ciências físicas, químicas, biológicas e sociais, representando um tácito reconhecimento de que não se pode afirmar nada com absoluta certeza determinística.
Os computadores e as técnicas de tratamento inteligente de dados do mundo atual potencializam o uso da Estatística para fornecer insights em todas as áreas do conhecimento, possibilitando uma abordam holística e interdependente da realidade.
Pela primeira vez, o homem está sendo capaz de realizar correlações entre grandes conjuntos de variáveis, a priori sem uma relação determinística.
Aparentemente, o Homo Sapiens Sapiens (atentar para nossa pretensão à sabedoria) é a espécie hegemônica na Terra.
SÓ QUE NÃO...
Vírus é a forma de vida mais abundante e antiga sobre a face da Terra, estando presente em cada espécie animal ou vegetal, no ar, na água e no solo.
Simples cadeia de ácidos nucléicos RNA ou DNA, encerrando um genoma viral (lembra aquela aula de Biologia, que perdeu no vestibular para Engenharia?) guarnecida por uma camada, que por sua vez pode possuir ou não uma camada de gordura e algumas protuberâncias em forma de coroa, como o Coronavírus.
Seu único propósito é se multiplicar, mas como é um organismo primitivo, necessita de um hospedeiro para sua replicação como parasita.
Existem provavelmente milhares de tipos diferentes na Natureza, que assumem uma forma latente intermediária entre uma coisa viva e uma coisa inanimada, permanentemente à espreita de um organismo hospedeiro.
A alta velocidade de replicação do vírus permite que a mutação, característica própria do laboratório de experimentação da Natureza, lhe confira uma diversidade de sobrevivência, que nenhuma outra espécie superior possui.
MECANISMO DE CONTROLE DA NATUREZA?
Talvez se constitua em mais um mecanismo de controle de espécies, de que se vale Gaia, a Mãe Terra para exercer a auto-regulação de seu estado.
Gaia é uma metáfora da mitologia grega recorrida pelo cientista James Lovelock para explicar um sistema auto-regulado composto de elementos físicos, químicos, biológicos e nós seres humanos, as interações e retroalimentações entre as partes componentes sendo muito complexas e exibindo uma variabiidade temporal e espacial, apenas apreensível por meio de uma abordagem estatística.
Talvez tenhamos crescido em população, somos 7,5 bilhões de seres humanos, e se tornado uma presença incômoda para Gaia, como a uma doença.
Durante nossa história, praticamente toda a energia de que necessitávamos para nosso desenvolvimento e bem-estar foi obtida através de escavação ou mineração.
Olhamos para as entranhas de Gaia e, de forma invasiva, extraímos a energia “enterrada do Sol” há milênios para construir o mundo de hoje, na premissa de que tais recursos subterrâneos seriam infinitos.
Aquecemos a superfície dos mares, poluímos o ar e aramos intensamente o solo com nossa monocultura do modelo “agribusiness”,
Na opiniao de James Lovelock, talvez tenhamos de buscar, não um desenvolvimneto sustententável, pois que perdemos o "timing", mas um retrocesso sustentátel, revendo as práticas de nosso “business as usual”.
Talvez agora Gaia esteja se valendo de seus mecanismos de controle em busca de restabelecer seu equilíbrio, sua homoestase.
Somos talvez, um incômodo mosquito nos ombros de Gaia e estamos levando um “peteleco biológico”.
Meras ilações durante a quarentena do COVID-19.
REFERÊNCIAS:
JAMES, L. The Vanishing Face of Gaia - A Final Warning. New York: Basic Books, 2009.
LOVELOCK, J. The Revenge of Gaia - Why the Earth is Fighting Back and How We Can Still Save Humanity. London: Penguin Books, 2007.
MIDGLEY, M. Science and Poetry. [S.l.]: [s.n.], 2003.
Head of Operational Excellence O&M Wind Brazil at Enel Green Power
4 aLuiz Homero C. Medeiros, MBA, MSc (Analytica Engenharia) , vamos esperar que o “peteleco biológico “ nos ajude a ser realmente mais “sapiens”. A ocupação predatória do planeta está cobrando seu preço.