Câncer de estômago em adultos jovens: padrão de tratamento e sobrevida nos EUA.
O câncer de estômago é uma doença agressiva e de mal prognóstico. Nos EUA, a doença afeta tipicamente a população adulta com idade média de 68 anos, sendo que mais de 95% dos casos são diagnosticados em pacientes maiores de 40 anos. Pacientes jovens (até 40 anos) com câncer de estômago enfrentam desafios específicos, incluindo variações biológicas nos tumores, aspectos relacionados à preservação da fertilidade e considerações psicossociais associadas à possibilidade de morte precoce.
Esse estudo utilizou o banco de dados nacional norte-americano (NCDB) que registra os dados de 70% dos casos novos de câncer diagnosticados no país a cada ano.
O NCDB fornece dados clínicos e demográficos dos pacientes, assim como informações sobre o tratamento inicial e a sobrevida. Um total de 70 084 pacientes foi incluído no estudo, dos quais 4% representavam o grupo de adultos jovens com menos de 40 anos. Esse grupo foi composto predominantemente por mulheres não brancas de origem hispânica. Os adultos jovens também tiveram maior propensão a apresentar tumores em estadios mais avançados, em localização mais distal e com características de mau prognóstico. Esse grupo também teve mais chance de apresentar doença metastática para ossos que o grupo dos adultos mais velhos.
Apesar da apresentação em estadios clínicos mais tardios, os pacientes jovens tiveram maior probabilidade de receber tratamento que os pacientes maiores de 40 anos.
Dessa forma, para o estádio I, menos adultos jovens receberam cirurgia exclusivamente quando comparados ao grupo de maiores de 40 anos. Para os estádios II e III, mais pacientes jovens receberam tratamento multimodal (quimioterapia, radioterapia e cirurgia) quando comparados ao grupo de maiores de 40 anos. Além disso, para a doença em estádio IV, adultos jovens tiveram mais chances que os pacientes mais velhos de receber quimioterapia isolada. A sobrevida global em 5 anos, incluindo todos os estadios foi similar entre os dois grupos, sendo de 21.1% para os jovens e 22.1% para os mais velhos. Quando a sobrevida foi estratificada por estadios, os adultos jovens tiveram resultados equivalentes ou superiores aos da população maior de 40 anos.
Os achados desse estudo estão em consonância com outros relatos da literatura sobre pacientes jovens com câncer de estômago, incluindo altas taxas de pacientes do sexo feminino, não brancas, com histologia difusa ou em anel de sinete, estadio clínico avançado, tumores de alto grau, alto grau de envolvimento linfonodal e estadio T avançado. Não existe uma explicação que justifique a maior incidência de adenocarcinoma gástrico em mulheres jovens. Alguns autores atribuem o fato a fatores hormonais (presença de receptores hormonais de estrogênio), o que explicaria também a maior frequência de metástases ósseas observadas nessa faixa etária. Os autores concluíram alertando para a importância do diagnóstico precoce da doença entre os mais jovens. Dessa forma, a população deve estar atenta aos sinais iniciais da doença, particularmente os indivíduos com história familiar de câncer de estômago.