Café com gostinho de "DR"
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Café com gostinho de "DR"

Vamos tomar um café? Quem é empregado, sabe. Não é sobre café.  O convite é a senha para uma conversa olho no olho. 

Tem café com DR – um intervalo para discutir a relação estremecida por algum mal-entendido.

Tem café com feedback – para dar retorno de alguma ação ou alinhar as expectativas na relação profissional.

Tem café com boa notícia – quando é para anunciar uma promoção ou contar que aquele projeto especial tão sonhado vai sair do papel. 

Tem café com bobagem também – muito útil para desestressar quando você trabalha num ambiente de extrema pressão e competitividade. 

Todos esses “blends” de café tem uma coisa em comum: o olho no olho. Um momento único seu e de seu interlocutor. 

A necessidade de interação e colaboração entre funcionários é um dos motivos que as empresas estão alegando para exigir a volta do trabalho presencial depois da “peste covídica”. 

A pandemia foi um tempo de relacionamentos virtuais intensos – e confusos. 

Eu mesma fui vítima e algoz de comunicação atravessada e hostil. 

Fiquei um ano e meio fechando o principal telejornal de São Paulo da varanda da minha casa, único local disponível para improvisar uma redação de uma pessoa só. 

Eu nunca tinha trabalhado remotamente.

Era tanto trabalho e tanta demanda que – no começo – eu não me dediquei a entender e mudar o meu processo de comunicação com a equipe através das mensagens instantâneas do sistema que usávamos para fazer o jornal. 

Muitas vezes eu me vi respondendo apenas “sim” ou “não”, com toda a frieza dos monossílabos. 

Eu nem imaginava que, do outro lado, a pessoa estava me achando rude, grossa ou zangada.  Essa mesma pessoa também não tinha noção do meu sufoco naquele exato momento. Na maioria das vezes, eu estava fazendo uma pesquisa urgente, ligando para uma fonte, ou atendendo a chefia em longas conversas sobre questões editoriais – tudo ao mesmo tempo. 

E pior, não queria deixar ninguém sem resposta porque havia uma cobrança interna gigantesca de mostrar produtividade e deixar bem claro que eu não estava deitada na rede maratonando Netflix . Chegava ao absurdo de levar o notebook ao banheiro para não demorar nas respostas que chegavam a cada instante.

Depois de alguns meses nessa realidade inesperada, comecei a entender que a comunicação não estava funcionando daquela forma. Muito pelo contrário: estava causando ruídos e uma enxurrada de desentendimentos.

Daí, passei a fazer ligações de vídeo para dialogar olho no olho com os editores. 

Era virtual, mas era bem pessoal também. 

Quanta diferença.  

Na chamada de vídeo, os dois lados podiam ver a expressão facial e a linguagem corporal um do outro. Emoções, intenções e atitudes ficavam bem evidentes, desfazendo todo e qualquer mal-entendido. Ver e “ler” os aspectos não-verbais da comunicação nos ajudava a compreender melhor o contexto e a enriquecer o significado das palavras.  

A chamada de vídeo para quem está em trabalho híbrido ou remoto é essencial para a eficácia da comunicação. 

Mas eu acredito, até pela minha experiência turbulenta no home office, que nada substitui o olho no olho ou o café com segundas intenções (no bom sentido, claro!).

A conversa presencial permite uma conexão emocional mais profunda entre as pessoas. 

O contato visual direto cria um senso de intimidade e proximidade, facilitando a empatia e a compreensão mútuas. 

A capacidade de ver a reação da outra pessoa em tempo real e responder de maneira adequada promove uma comunicação mais autêntica e genuína, permitindo que os colegas se sintam ouvidos e valorizados.

A comunicação presencial, com o contato visual direto, ajuda a construir confiança entre as pessoas. A possibilidade de olhar alguém nos olhos transmite sinceridade, honestidade e comprometimento. A confiança é fundamental em qualquer relacionamento interpessoal, e a conversa olho no olho ajuda a fortalecê-la, permitindo que as pessoas estabeleçam conexões mais fortes e duradouras.

Eu não estou defendendo o fim do trabalho remoto, não. O trabalho presencial também é essencial para revitalizar a economia do setor de serviços que sobrevive e orbita em torno dos escritórios, como restaurantes, lanchonetes, salões de beleza, mercadinhos, bares e outros locais que os trabalhadores procuram na hora do almoço e no fim do expediente.

Mas dá pra ficar em home office também! O setor audiovisual tem dezenas de atividades que podem ser feitas de casa, sem prejuízo para a qualidade da entrega.

É profundamente revigorante e necessário que o time tenha a oportunidade de trabalhar de casa duas, três vezes por semana, fugindo do stress do trânsito, do transporte público e da insegurança das ruas.

Pesquisas exaustivas mostram que o tempo que o trabalhador remoto gastaria no deslocamento para o escritório é incorporado na jornada de trabalho, aumentando, por óbvio, a sua produtividade.

O formato híbrido é, portanto, um ganha-ganha. Perde quem não entende isso de maneira clara. Esse formato, ora no escritório, ora em casa, não exclui o tempo da interação e colaboração entre o time e deixa espaço para que cada pessoa possa expressar emoções, ouvir ativamente e responder às preocupações do outro em busca de entendimento e soluções comuns. 

O trabalhador não precisa estar o tempo todo no escritório ou na redação para transmitir compromisso e disposição para resolver os problemas que surgem a todo momento no ambiente corporativo. 

Então, quando alguém te chamar para um café, vai com fé! 

Será uma oportunidade valiosa de se conectar com o seu colega de maneira mais profunda, compreender melhor suas emoções e perspectivas, e construir relacionamentos significativos e autênticos.

por hoje é só!

eu vou, mas volto.

Bianca Vilela

Palestrante e TEDx Speaker, Longevidade e Saúde Preventiva, Saúde Física e Mental, Autora do Livro Respire, Produtora de Conteúdo, Mestre em Fisiologia pela Unifesp e Sócia Fundadora da Bianca Vilela Saúde no Trabalho

1 a

Excelente reflexão!!!!

Elaine Camilo

Jornalista. Produtora de conteúdos audiovisuais, documentários, vídeos institucionais e eventos. Consultoria em comunicação para empresas.

1 a

Adorei o texto. É isso, o equilíbrio entre o olho no olho e a qualidade de vida do home-office e do híbrido.

Renata Rainho

Produtora de Execução e Promotora

1 a

Eu sinto tanto falta desta hora do café!

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