Calma: “a gente espera do mundo e o mundo espera de nós”!

Já profetizava Lenine, lá em meados de 1999 em seu álbum “Na Pressão”. Outra década, outro século e tão atual, como pode?

“Enquanto todo mundo espera a cura do mal

E a loucura finge que isso tudo é normal

Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz

A gente espera do mundo e o mundo espera de nós

Um pouco mais de paciência

Será que é tempo que lhe falta pra perceber

Será que temos esse tempo pra perder

E quem quer saber

A vida é tão rara, tão rara”

Para mim, esta prepotente análise da vida nunca fez tanto sentido como no momento atual, o aqui e agora. Já ouvi esta música milhares de vezes e sempre foi apenas uma letra. Passado, quase um ano em pandemia, uma montanha russa de emoções, expectativas que sobem e despencam numa velocidade de deixar operadores de bolsa de valores desnorteados, ufa, a calma agora é necessária. Ainda há muito a ser feito, encontrar a cura do mal, entender a loucura do novo normal, aprender a arte da resiliência e ainda manter a agilidade esperada. Importante refletirmos que calma não tem a ver com o tempo e sua velocidade, não é o que, é sim o como. É o estado do corpo e da mente que em tranquilidade e equilíbrio pode dar lugar a solução, ao invés da agitação.

É, não foi fácil chegar até aqui, e hoje assumir este entendimento, o processo foi longo e é diariamente árduo. Reconhecer que a forma como sentimos e reagimos precisam ser diferentes. Muitos dizem que mudar requer coragem, eu acredito que reconhecer é o permitir ser corajoso. Será que nós estamos permissíveis a descobrir que somos frágeis, que não controlamos metade do que achamos que temos domínio e que ainda há muito tempo pra “perder” para quem quer saber?!

Kairós, em sua agilidade representa este tempo que nos convida a aproveitar a vida com mais leveza e estarmos abertos as surpresas da vida. Diferente de Chronos que quantifica o tempo cronologicamente. Se você ainda não conhece a história de Chronos e Kairós vale a pena investir seu tempo nesta pesquisa mais aprofundada. Por aqui, gostaria de propor um olhar para o nosso tempo qualitativamente, como usamos nosso tempo, quão felizes ficamos dentro deste tempo e como seria se simplesmente o relógio parasse de rodar. Alguns chegam ao final do dia esgotados e com sensação de vazio, de nada ter feito. Outros não conseguem lembrar o que fizeram, inclusive o básico se alimentar. Há também quem pode se sentir perdido e ocupa boa parte desse tempo cronológico para buscar algo sem nem saber como chegou ao vazio.

Calma requer prática e muita... Ao perceber-se agitado, confuso, perdido, esqueça o tempo do relógio. Pare! Lembre-se a gente espera que o mundo todo encontre um eixo firme e contínuo para que o trem da vida possa prosseguir com maior previsibilidade e menos riscos. E o mundo espera de nós um pouco mais de calma, para que com tranquilidade possamos entender que este trilho não existe mais e talvez não existirá nunca mais, o trem hoje voa e para que possa manter-se no ar precisa de ventos que o equilibre, a calma! 

Manuele Peglow