CARO RECRUTADOR...
Caro recrutador, CEO ou CSO,
Gostaria de abrir um diálogo para, quem sabe, possamos juntos entender o que se entende sobre diversidade e inclusão dentro do universo de trabalho. Vamos partir, então, sobre o que você entende sobre o assunto? Já se perguntou em algum momento se o que você sabe não seria muito superficial?
Para colaborar com esse diálogo, aqui vai um relato pessoal para quem sabe, a gente não amplie os horizontes de pensamentos e nos aprofundemos um pouco mais no assunto. De antemão, me desculpe se as palavras em alguns instantes parecerem duras e até escrita com certa raiva angustiante, mas espero que entenda que em pleno séc. XXI, ainda ter que tornar esse assunto relevante no grito e ainda dar a cara a tapa é angustiante.
Voltamos há alguns anos atrás, em 2018 quando o Brasil se encontrava dividido em pleno ano eleitoral logo após o Impeachment (o qual eu concordo se tratar de um golpe) da Presidente Dilma Rousseff. Por nosso infortúnio, ganhou aquele a qual prefiro não pronunciar o nome. Conto isso para vocês entenderem o contexto a qual eu estava vivendo quando minhas fichas caíram e eu percebi o quão “embranquecido” eu estava sendo até aquele momento.
A história das minhas conquistas que eu tanto admirava (e ainda admiro, lógico) eu notei que eram conquistas de uma sociedade que “exigia” de certa forma, que para um preto ter sucesso precisa conquistar o máximo de “coisas de branco”. Ou seja, precisa trabalhar de CLT em empregos “formais”, nada voltado para cultura, sempre para mão de obra, se for mulher, tem que alisar o cabelo, se for homem, raspar o cabelo, tem que ser católico, pois umbanda e candomblé são coisas de “preto favelado”, as roupas sempre alinhadas e passadas, camisa de botão para ir em uma entrevista, barba sempre feita e camiseta polo para “parecer sério”, ter casa, carro, se fizer faculdade tem que ser uma que não ocupe o horário de trabalho, afinal, só estudar não é privilégio de gente da periferia.
E assim eu fui crescendo nesse meio acreditando sempre que eu não era suficiente para conquistar cargos altos, pois cresci com isso na cabeça: de que a minha vida seria sempre em prol do meu “embranquecimento”, mas sem perceber que inconscientemente eu saberia que nunca seria branco e por isso eu nunca era suficiente para a sociedade.
Por fim, essa ficha chegou ao fundo e fez esse barulho na minha cabeça. Tive medo no começo e fiz duras críticas a mim mesmo, mas foi nas histórias da minha vida e da minha família, do meu crescimento que eu percebi que a culpa não era minha, pois jamais poderia culpar minha mãe e meus irmãos pela vida que eles tiveram e pelas reproduções que eles fizeram durante suas existências. Sendo assim, tive que me perdoar também e já que havia percebido, era meu dever não perpetuar tamanhas atrocidades que fazemos com a cultura da periferia e a cultura preta.
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Desde então venho buscando sempre me questionar e questionar os espaços e ambiente que eu passo: “Cadê meus irmãos? Cadê a tal da diversidade que tanto falam? Cadê a inclusão? ”
O máximo que encontro, às vezes, são realmente pessoas como eu, porém, o “eu” de antes. Ainda cegas e sendo embranquecidas, geralmente em cargos mais a baixo. Com aquele olhar de “tenho que aproveitar essa oportunidade, senão não terei outra”. Sempre sem se questionar sobre as vezes, porque não te considerarem. Procuro, com essas pessoas, deixar claro que elas não têm que ter medo e ajuda-las a entender que elas não merecem menos que ninguém.
O que me dói e o falar “da boca pra fora” nos ambientes de trabalho. Incluir algumas pessoas apenas para cobrir a “cota” e dizer que são diversos. Para ter o “aval” de usar a bandeira colorida na semana da diversidade. Achar que pode falar sobre ter pretos na equipe e por isso não são racistas ou, como ouvi certa vez em uma live que fiz: “nós temos até uma mulher na diretoria e ela é bem competente, até”.
Vi post de “Black lives metter” em rede social de diversas empresas, mas pergunta se na primeira oportunidade de recontratação de equipe na pandemia chamaram algum preto?
A gente não quer cumprir cota de relatório de sustentabilidade de fim de ano. Não queremos ser “pra gringo ver”. Cansei de superficialidade nas contratações e cansei de ter que provar cinco vezes mais que um branco para poder ser aceito numa vaga. Aliás, cansei de ser contratado para ter que ficar “dando aula” sobre o que é ser preto sob a desculpa de “estamos aprendendo ainda”, “você que tem que nos dizer se pode ou não fazer isso”. Procure e se informe, pois não sou seu bibelô de perguntas e respostas. Não sou obrigado a aceitar atitudes racistas só porque a pessoa não se importa em entender. Estamos aqui para agregar e não ensinar, pois entender os seus privilégios brancos é sua obrigação, não minha.
Não somos apenas um número para bater meta para a sua ascensão branca, estamos de olho e para todes meus irmãs e irmãos eu estarei disposto a abrir olhos para que essa cultura exploratória do povo preto que vemos ainda hoje (mesmo que disfarçada) não se perpetue.
Para aqueles que se incomodaram, o problema com certeza não está comigo.
Produção de Conteúdo, Redação e Planejamento
2 aCompartilhando com o máximo de pessoas que eu conseguir! Material necessário para recrutador e para as pessoas que trabalham olharem aí seu redor e se perguntarem se não é esse o contexto de onde elas trabalham!