Carreira e Desenvolvimento
"Viver é isso, ficar se equilibrando o tempo todo entre escolhas e consequências." Jean Paul Sartre
Como bem observam a psicanálise e a filosofia schopenhaueriana, o ser humano vive um embate eterno entre o desejo e o tédio. O pêndulo da existência está constantemente visitando um destes hemisférios. A pulsão constante do desejo faz com que o homem se sinta incompleto e busque sua realização na objetivação de seu querer. Porém, nesta luta, o desejar eterno constantemente se transforma em frustração por não alcançar o que desejava ou em forma de tédio, após conquista do objeto desejado e ininterrupção do querer. Como nos diz Jacques Lacan: “Somos seres desejantes destinados à incompletude, e é isso que nos faz caminhar”.
Na vida empresarial, o pêndulo da existência encontra de um lado a condição de manutenção da subsistência e, de outro, o devaneio de uma cidade utópica. Em outros termos: busca-se tanto a segurança e a sobrevivência através da realização de seu trabalho, em atividades cuidadosamente descritas. Mas, ao mesmo tempo, busca-se formas de se evoluir na carreira, um por-vir que melhore tanto suas condições materiais de existência, como amplie suas capacidades. Desejamos, com esta divisão, evidenciar a clara distinção significativa e existencial que há entre cargo e carreira. Neste presente artigo, quando for empregado o termo carreira, tenha em mente não um plano de ocupação de cargos superiores ou laterais, mas carreira como uma estrada repleta de conhecimentos, valores, habilidades relacionais e técnicas que podemos nos servir para ampliar horizontes ou instrumentalizar novas ações: aumentar a capacidade de processar informações, unir recursos conceituais, aumentar, a cada dia, a capacidade de pensar, compreender e de agir. Logo, a carreira não está unicamente associada ao deslocamento de cargo.
Se de um lado, algumas competências são intrínsecas ou subentendidas no cargo ocupado, o ineditismo da vida e o dinamismo do mercado exigem, cada vez mais, pessoas capacitadas para resolver contingências. Portanto, o conceito de carreira aqui empregado leva em consideração a faculdade de acumular habilidades e sabedorias práticas, não necessária ou exclusivamente associadas à utilidade imediata do empregador.
Portanto, as oportunidades de desenvolvimento não podem se limitar a trilha de carreira. Claro que a oportunidade e aproveitamento dos funcionários atuais devem transitar em paralelo aos desejos de conquistas dos colaboradores, ainda assim, a responsabilização do autodesenvolvimento do colaborador dar-se, sobretudo, pela busca de seu próprio espaço, dado que, no atual cenário, não é recomendado que as organizações definam as carreiras de seus empregados, mas que a tornem mais abertas e progressivas de acordo com o acúmulo de autonomia, independência, criatividade empreendedora, segurança, etc.
Podemos, então, compreender a carreira como respostas as seguintes perguntas: quantos e quais problemas o colaborador se dispõe a resolver? De que maneira está explicitada a busca do colaborador por novas soluções? Somente com estas respostas muito claras é que se pode pensar na mobilidade do colaborador no trabalho, evitando frustrações ou subaproveitamento.
Esclarecido o papel do colaborador em seu autodesenvolvimento, cabe também a empresa propiciar um ambiente favorável para que o desenvolvimento aconteça. Estas preocupações com o desenvolvimento dos colaboradores apresentam-se nas formas de planos de desenvolvimentos individualizados e acompanhamentos contínuos em reuniões estruturadas entre colaborador e sua equipe. Da mesma forma, é recomendada a geração de oportunidades de crescimento e desenvolvimento dos colaboradores internos, antes de abertura de vagas externas, do mesmo modo as trilhas de carreira devem esclarecer as possibilidades futuras aos colaboradores.
Desta forma, a prática rotineira de trabalho que garante o desempenho da empresa e as perspectivas de evolução dos colaboradores estarão alinhadas. Em outros termos, considerando que as pessoas buscam segurança em seu ofício, como também almejam evoluir em suas carreiras, o pêndulo desta existência estará devidamente suportado pelas políticas de gestão de pessoas. Tanto o presente, como o futuro do colaborador são vislumbrados dentro da própria organização, melhorando o engajamento e a retenção dos talentos.
*O artigo faz parte de uma coletânea de textos sobre engajamento, um dos pilares da educação corporativa. Para um perfeito entendimento das perspectivas aqui apresentadas, leia também os artigos: Afinal, Qual o Território da Educação Corporativa?, Direção e Engajamento, Confiança na Liderança e Respeito e Reconhecimento.