Carta aos estagiários
O texto abaixo foi escrito faz algum tempo, mas como domingo foi comemorado o Dia dos Estagiários, resolvi postá-lo.
CARTA AOS ESTAGIÁRIOS
Há muitos séculos, havia um mestre e um aprendiz que vagavam pelo mundo, usando as experiências da vida como matéria prima para a aprendizagem e o ensino.
Um dia depararam com uma casinha muito simples, onde vivia uma família feliz. Ali pediram pouso e comida, o que obtiveram.
Naquela noite, procuraram saber como aquela humilde família se sustentava. Disseram que tinham uma vaquinha da qual tiravam leite para o seu consumo, e o que sobrava faziam queijo e vendiam na cidade. Com o dinheiro, compravam aquilo que não conseguiam produzir na fazenda.
No outro dia, ao irem embora, o mestre e o discípulo se depararam com a redentora vaquinha que pastava à beira de um precipício. O discípulo ficou perturbado com a possibilidade de um acidente fatal. Já o mestre lhe ordenou para que empurrasse a vaquinha pelo precipício.
Prontamente o discípulo se objetou, ao argumento de que o sacrifício da vaquinha seria perverso e também sacrificaria aquela família. Porém o mestre foi intransigente. A vaquinha foi atirada no precipício pelo próprio discípulo, com profundo pesar.
Muitos anos mais tarde, aquela dupla regressava pelo local e reconheceram as cercanias. Porém, aquela humilde casa já não existia mais. Naquele lugar, agora, existia uma grande mansão, possivelmente dos novos proprietários, como pensou o discípulo. Tornaram a pedir pouso e comida à família que ali se encontrava.
Perguntaram novamente do que viviam. Um dos filhos respondeu: vivíamos de uma única vaquinha que nos dava leite e matéria prima para o queijo, que vendíamos na cidade. Um dia essa vaquinha caiu no precipício e morreu. Como perdemos nossa única fonte de renda, nos vimos obrigados a trabalhar na cidade e a produzir com maior eficiência nossas plantações. Aos poucos começamos a conquistar maiores ganhos e assim estamos hoje. Bem melhores do que quando vivíamos daquela vaquinha que morreu.
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Hoje eu vejo que quando tive a iniciativa de deixar minha casa nos momentos de folga da Universidade – assim como vocês fizeram, para a dedicarem a um estágio, por desejo exclusivamente próprio, estava empurrando minha vaquinha.
Naquele momento estava abandonando a mediocridade, e me atirando à aventura do mundo jurídico. Isso ocorreu logo no meu primeiro ano de faculdade.
Vocês também fizeram assim: escolheram um escritório que tem fama de ser um bom instrutor. Não desistam ou desanimem quando depararem com uma carga extraordinária de atividades, que faz você pensar: porque que eu procurei isso com minhas próprias mãos?
Se com meus pés aqui cheguei, com meus pés vou virar as costas e partir!
NÃO DESANIMEM!
Quando tiveram a iniciativa de estagiar, não pensem que por ser uma ideia solitária você pode a qualquer instante dela desdenhar e pôr o pé no freio.
Quando tiveram a ideia de nos procurar para estagiar, estavam inspirados pelo Universo que conspirava a seu favor. A favor de suas preces. A favor das preces de seus familiares para que a vida lhes desse a oportunidade. Essa é uma grande oportunidade.
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PORQUE QUEREMOS PETICIONAR?
Quando fiz meu estágio, ele foi totalmente tomado por uma única atividade: dar cumprimento a Cartas Precatórias. Claro que nem sempre.
Assim que entrei no escritório que iria estagiar, fui logo convidado para “aprender a montar um processo”. Fiquei super entusiasmado, até descobrir que “montar um processo” era colar os documentos em papeis A4, para que fossem homogeneamente grampeados com a petição de juntada!
Já cumprir cartas precatórias era mais divertido. Para quem não sabe, Carta Precatória é um documento que leva a ordem de um juiz a outra localidade, para que um ato processual que deva ser realizado em outra cidade, possa ser feito com o auxílio do juiz daquela outra cidade, que é considerado o juiz deprecado.
Assim vai o Norival dentro do ônibus andando por todo o Triângulo Mineiro, levando a carta precatória, recolhendo suas custas no banco da cidade após longas e longas filas, distribuindo a carta, aguardando os despachos, acompanhando o oficial de justiça e regressando à minha cidade, quando a minha aula já tinha chegado ao fim, pois estudava a noite.
Não peticionava, mas não perdia a oportunidade de absorver toda conversa, toda petição que lia nos ônibus, todo livro que lia nas filas dos bancos. Sempre disse que nossa profissão é privilegiada, pois nos permite crescer mesmo em uma fila de banco, se levarmos um livro para ler.
Observem então que não é só a sua atividade que lhe ensina. Aqui temos uma diversidade enorme de oportunidades de enriquecimento profissional e humano, seja na própria atividade, seja no convívio com colegas, seja no contato com o mundo jurídico, seja com a oportunidade de vivenciar e respirar o direito.
Aqui conhecemos pessoas, aprendemos e ensinamos, pois este escritório valoriza a experiência de vida de cada um, sabendo que cada um é diferente e professor daquilo que viveu.
Sempre digo aos nossos coordenadores que a tarefa mais desafiadora e importante, é construir as pessoas.
Se um de vocês, amanhã, se tornar um de nossos líderes, verão que serão chamados principalmente a ensinar com carinho e atenção.
Não pensem que “estar peticionando ou envolvido com pesquisas” lhes trará maior oportunidade. O que nos importa é a capacidade de aprendizagem e a sua personalidade. Esses atributos trarão maior oportunidade.
Darvin já alertava que sobreviveriam não os mais fortes, mas os mais adaptáveis.
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OPORTUNIDADE POR SER PROATIVO mesmo que em outra função.
Quando convidei uma estagiária esforçada para assumir o cargo de advogado que havia deixado o grupo, há muitos anos atrás, ela ficou apavorada com a ideia e com o medo que isso representava.
Não a convidei porque ela sabia peticionar. Isso não era verdade, pois apenas cuidava dos relatórios, mas sempre avocava qualquer tarefa que lhe trouxesse aprendizado, demonstrando pró atividade.
A convidei porque tinha boa vontade para a aprendizagem e princípios morais. Eu sabia que aprender a peticionar, se comportar em uma audiência, em um Tribunal etc seria questão de tempo. E foi!
Ela aceitou o desafio de assumir tarefas de advogado enquanto era ainda estagiária, e hoje é uma das sócias do escritório. Essa é a Dra. Kélen Cristina de Souza.
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ADVOCACIA MODERNA
A advocacia moderna funciona assim como nosso escritório. Hoje, advogar, não quer dizer ir a fóruns, fazer audiências, enfrentar balcões de secretaria e filas de bancos. Muitos ministros da Justiça, assim como diretores jurídicos de grandes empresas, jamais fizeram tais coisas.
Notem as próprias Dra. Kélen e Dra. Naiara, à frente da controladoria, após ter passado por todos os passos de um processo. Notem as Dras. Luciana Paniago e Maria Gabriele à frente do DIP, s Dras. Dienefer à frente do DPI e tantos outros exemplos, com a Dra. Ana Paula à frente do DEJUR DO BRADESCO, etc etc.
E nosso dia-a-dia é constantemente provocado com novos desafios. E desafio é estímulo para a evolução.
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TAREFA HUMANA INSUBSTITUÍVEL
Existem ferramentas que estão sendo desenvolvidas e que auxiliarão principalmente a controladoria jurídica. Mas a Tarefa Humana sempre será insuperável, e garantirá a oportunidade do aprendizado e do salário, que tanto me auxiliou nos meus dias de estágio, e que continua sendo importante para tantos.
EXPERIÊNCIA DE VIDA POSITIVA
é o principal objetivo de nossa atividade, considerando que
NÃO EXISTE UM CAMINHO PARA A FELICIDADE.
A FELICIDADE É O CAMINHO.
Então aproveitem cada momento vivido entre nós.
Desejo a todos sucesso e realização.