Carta de apresentação
Ainda que a trajetória do italiano Franceso Matarazzo, símbolo do empreendedorismo no Brasil - que começou como mascate no interior de São Paulo - seja marcada por incontáveis contribuições no processo de industrialização do país, o termo “mascate” se tornou um marco histórico resultante do grande contingente de imigração árabe no território brasileiro. Mesmo não sendo parte do grupo de imigrantes beneficiados pelo governo, os árabes que percorreram ruas e estradas em uma época que não havia a facilidade do transporte que conhecemos hoje, se destacaram por vender tanto em núcleos urbanos quanto rurais os mais variados produtos.
Como neta e filha de imigrantes libaneses que, antes de se fixarem em grandes polos da indústria e do comércio de móveis e colchões, iniciaram sua trajetória no mercado ambulante, nasci e cresci colhendo os frutos de uma prática antiga, mas que, muito influenciou no comércio popular que existe hoje, desde técnicas de vendas, através de promoções e liquidações, até mesmo em técnicas de comunicação, tendo em vista a língua estrangeira.
Ainda que a história dos meus ascendentes tenha influenciado de tantas maneiras a construção do meu país, ela foi e ainda é elemento chave na construção de quem eu sou e da posição que ensejo alcançar no mercado de trabalho e na sociedade, ainda mais por fazer parte de uma nova era, que vem revolucionando a forma de viver, trabalhar e se relacionar.
Com o fim da minha primeira graduação se aproximando, nos últimos cinco anos de estudo e dedicação, a faculdade de Direito da Universidade Paulista em muito contribuiu para a formação acadêmica, profissional e pessoal que tenho hoje. O meu bom relacionamento com os professores e os alunos durante todo o curso também influenciaram no bom desenvolvimento desses anos. Muitos frutos colhi durante esse percurso e tenho dentro de mim que assim continuará sendo.
Ainda me recordo que durante a minha primeira entrevista para estágio, sentada frente à frente com o Dr. Carlos Eduardo Prataviera, juiz de direito da 10ª vara cível no Tribunal de Justiça de São Paulo, minha maior insegurança se dava pelo nome da minha universidade. Por alguns semestres eu alimentei a ideia de que minha competência seria limitada e até mesmo boicotada pela sua suposta má fama, mas, surpreendida pela contratação, após ser escolhida para preencher uma vaga muito competida pelos estudantes da área, e ter meu contrato renovado, somando um total de dois anos dividindo o gabinete com outra estagiária e mais quatro escreventes, essa insegurança se tornou motivação para além do campo jurídico e me levou ao aperfeiçoamento da fala e escrita na língua inglesa e na língua espanhola.
Em um ano em que o vazamento de dados se tornou um perigo eminente e as preocupações com privacidade digital ganharam um espaço enorme no mundo inteiro, resultando na criação da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, inspirada pela lei de mesmo nome criada pela União Europeia (GDPR é a sigla em inglês), 2018 foi o marco oficial no Brasil de uma nova era tecnológica que vem revolucionando em escala, alcance e complexidade, afetando o mercado de trabalho, a forma de se relacionar e até mesmo as operações de guerra. Foi nessa sucessão de grandes acontecimentos que eu pude reconhecer meu papel no mercado de trabalho e a posição que eu quero alcançar nos próximos anos.
Diante da velocidade com que as transformações estão acontecendo, a necessidade de se adaptar a esse processo se mistura com o entusiasmo em poder fazer parte dele e, assim, contribuir para sua melhor execução possível. Foi pensando dessa forma que, antes mesmo de concluir meu bacharel em Direito e prestes a apresentar minha Monografia sobre a Lei Brasileira de Proteção de Dados Pessoais e seus impactos no país, me inscrevi para pós graduação em Gestão de Negócios com foco em Competências Comportamentais e garanti uma bolsa de estudos com as parceiras BBI Of Chicago, CBI Of Miami e o Centro Universitário Celso Lisboa.
Criada no comércio, comecei a aprender sobre negócios ainda criança e durante alguns passeios pelos mercados turcos de Istanbul, já adulta, pude comprovar que a arte de barganhar não se trata só de uma característica dos povos árabes, mas de fato corre em meu sangue também. A herança histórica, cultural e econômica de práticas de comércio como o mascate, realizadas por pessoas como o meu pai, avô e o Conde Fracesco Matarazzo pode ter perdido um pouco do seu espaço diante da grande circulação de informações e sucessivas mudanças atuais, mas quanto a mim ela originou um espírito com o interesse constante de aprender e desenvolver habilidades, que será atemporal, mas sempre disposto a combinar as exigências atuais do mercado e promover um desenvolvimento profissional completo.
É reunindo esse multiculturalismo e as transformações que ocorrem na velocidade da luz, principalmente quando recordo do meu pai, entusiasmado e sabido, adquirindo os primeiros telefones portáteis, computadores e tantas outras criações da tecnologia que chegavam lentamente no Brasil, que observo o desencontro com o momento atual, de Smartphones que adquirem a cada dia funções novas e a adaptação com dificuldade de uma geração, que superou muitas outras mudanças radicais e me trouxe até aqui faz parte de alguns dos dilemas que busco ter a oportunidade de desenvolver ao longo da minha carreira.