A carta de um ex-morador.
Por favor, me escutem!
Eu peço do fundo do meu coração para as grandes empresas, empresários, executivos, artistas, políticos, jogadores de futebol, influenciadores digitais, celebridades da nossa sociedade, você que tem o privilégio de ter um teto, comida e forma de sustento para passar a quarentena, olhem para as pessoas que estão em situação de rua, nesse momento de pandemia.
Na rua, muitas pessoas não conseguirão dormir em um albergue hoje. Lá as vagas são limitadas e, nesse momento em que é preciso evitar aglomeração, esses espaços terão um número ainda menor de vagas disponíveis.
Eu conheço a rua mais do que ninguém, e me arrepio só de pensar que poderia ser eu nesse momento. Fui um morador das ruas da cidade de São Paulo até 2017.
Senti na pele o drama das madrugadas de inverno, e muitas vezes só conseguia me alimentar graças as intuições filantrópicas que distribuam comida.
Com a pandemia do vírus, as ruas estão desertas, os estabelecimentos fechados e isso é o certo, é preciso se proteger desse vírus.
Mas, quem vai proteger essa população que tem como lar as ruas de São Paulo?
Vamos deixá-la morrer?
Você sabe quem são essas pessoas? Homens, mulheres, crianças, idosos e algumas com doenças crônicas.
Além da falta de abrigo, a água e a comida, itens vitais para sobrevivência e que já são poucos, ficarão ainda mais escassos.
Hoje tenho meu lar, emprego, alimentos, estou protegido pela sociedade, mas as pessoas que estão do lado de lá da margem, que já sofrem, serão ainda mais afetados com o que está acontecendo agora.
Eu sei que não podemos sair para ajuda-los diretamente, mas podemos nos movimentar, articular, nos unir, para que chegue alimentos, água e produto de higiene para essa população.
Por favor, por todo amor e humanidade, vamos fazer algo juntos, são pessoas que precisam de ajuda agora, mas não tem voz para pedir.
Tiago Pereira