A solução para o Brasil: desistir ou encarar? Sobre  "Uma Carta Aberta ao Brasil"​, de Mark Manson

A solução para o Brasil: desistir ou encarar? Sobre "Uma Carta Aberta ao Brasil", de Mark Manson

Essa semana a bola da vez foi o texto “Uma Carta ao Brasil” escrito por Mark Manson, um americano apaixonado pelo Brasil, ou talvez mais precisamente por uma brasileira, contando suas impressões sobre por que o Brasil é do jeito que é. A conclusão principal dele, atrevo-me a inferir, é o povo. É a forma como o brasileiro pensa, sua ética. O sr. Manson fala dos nossos problemas. Nos conta que vai ainda ficar muito pior e vê pouca saída para melhora.

Não poderia concordar mais com o sr. Manson e me impressiona sua capacidade de perceber tão bem nossos problemas em tão pouco tempo. Há muitos brasileiros que estão aqui toda a sua vida que ainda não perceberam isso, (embora não faltem no país brilhantes intelectuais brasileiros falando sobre isso). Sr. Manson faz ainda críticas ao nosso estilo de vida com as quais concordo. Concordo aliás com praticamente todo o texto dele. Exceto... 

Exceto a solução: mudar o povo. A saída para resolver nossos problemas é mudar o povo. 


E mudar o povo é uma tarefa tão absolutamente impossível, que nos resta, como brasileiros, pensar em duas alternativas:

1. Desistir

2. Encarar

Eu optei por encarar. Eu resolvi
ficar. Aliás, resolvi voltar.

Primeiro voltei ao Brasil

Aos 27, tinha o privilégio de estar morando em Nova York, recém-formado em um mestrado em mídias interativas, numa das melhores universidades americanas e com oferta de emprego numa grande agência. Podia ter ficado. Talvez até devesse ter ficado mais um tempo, afinal só estava há dois anos lá e mais um tempo em Nova York certamente teria sido bacana. Mas optei por voltar. E penso que o fato de ter passado um tempo fora do país, me ajudou a escolha de voltar e ficar. Porque de dentro, muitas vezes é difícil essa análise. Mas eu sai e voltei.

Voltei para o um país com democracia ainda frágil, recém-saído de um longuíssimo período de hiperinflação, pré-privatização, um verdadeiro atraso. Somada a isso tudo, uma falta total de mercado na minha área. Não por culpa do Brasil. Simplesmente porque era uma área muito nova que não existia ainda em lugar nenhum do mundo.

Ainda assim resolvi voltar. Não porque era o “melhor” lugar do mundo. Mas porque era o meu lugar. Onde estavam as minhas referências. Minha família, meus amigos. Minha cidade querida, o Rio de Janeiro, onde fui criado. Foi uma decisão consciente.

Ninguém disse que seria fácil. Nem necessariamente a melhor escolha para meus objetivos profissionais. Mas era sim pra mim a melhor escolha em termos pessoais.

Um pouco depois de voltar para o Rio, me vi com a oportunidade de morar em São Paulo através de uma desafio profissional muito bacana. Pra lá fui. E lá amadureci. Expandi a família, fiz uma rede de amigos incríveis e ralei muuuito. Abri empresas, vendi empresas, briguei com sócios, fiz as pazes. Escrevi muitos artigos, dei muitas palestras, aulas. Me reuni com colegas pra pensar o mercado, criar associações profissionais, debater. Lá fiz 40 anos, depois 45. Cheguei um garoto e sai um homem. Foram 15 maravilhosos anos.

Dai voltei para o Rio

Voltar para o Rio depois de 15 anos de SP foi como voltar para o Brasil depois de morar nos Estados Unidos. A associação é inevitável.

Muito do que o sr. Manson fala do povo brasileiro e dos problemas do país, se poderia falar com relação ao povo carioca e o mercado do Rio de Janeiro.

Os amigos questionaram a escolha. A violência, a falta de mercado, a falta de qualidade de serviços, as poucas opções de hospitais e laboratórios. É tudo verdade. Todos têm razão.

Mas o que me fez voltar foi a relação com a cidade, com as referências, com a família (mesmo com um irmão em cada canto do mundo), uma sensação de pertencimento que a gente perde quando migra e que pra mim é tão importante.

Mas antes e acima de tudo o que me fez voltar, primeiro para o Brasil e depois para o Rio, foi um senso de dever. Aquele senso de dever que a gente tem com quem a gente ama. Neste caso, com um país e uma cidade que eu amo.

Se os americanos são patrióticos e saúdam suas tropas quando elas aparecem no intervalo do Super Bowl, eu também sou patriótico e saúdo aqueles que ficam ou vem pra construir. Não precisa ser brasileiro. Talvez nem precise morar aqui.

Construir o país, a cidade. Criar empresas, mercado. Melhorar a escola, a rua, o prédio, a casa e a família. Melhorar a política. Não só nas redes sociais, mas na rua e principalmente no legislativo e no executivo. Gente boa precisa ocupar aquelas cadeiras lá.

Quando leio as palavras do sr. Manson sobre o Brasil, concordo com tudo, menos com a sentença e saída.

Isso aqui tem jeito sim. E o povo brasileiro, com todos os seus problemas é maravilhoso. O carioca, então, é o mais querido pra mim. Não porque ele seja melhor do que qualquer outro. Realmente não acho isso. Mas é porque é o meu povo. Esta é a cidade que eu escolhi pra ficar e é o país que escolhi pra ajudar a construir.

Se os americanos mandam tropas para defender seu país pra fora, a gente precisa de ‘tropas’ de gente apaixonada pelo Brasil pra defender o país, seja aqui dentro ou mesmo fora.

Pode estar tudo ruim. Mas desistir não vai resolver nada.

“Tem que resolver aqui / Não pode sair fora”, já dizia Pedro Luis em sua ótima música “Pena de Vida”.

Eu assinei a "pena" de ajudar a construir o Brasil.

Pode ser que eu não veja nenhuma diferença durante a minha vida. Mas que isso aqui vai ficar bom um dia amigo, ah, vai.

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Flavia D'Urbano

Recursos Humanos | RH Generalista | DHO |Desenvolvimento Humano | Consultoria Interna | Business Partner

8 a

olha que legal Adriano Ribeiro

Mariana Gil da Silva

Analista de Marketing Especialista/ Especialista em Comunicação/ Apaixonada pela arte de encantar clientes / Gestão de tráfego pago / Social Mídia/ Branding

8 a

Acabei de voltar para o pais após 8 meses na Europa, também poderia ficar tenho cidadania e tios que me ofereceram moradia, mas por lá as coisas também não estão indo muito bem e entre ficar desempregada lá e aqui, preferi voltar para o meu Brasil, onde tenho o conforto da minha família e amigos e por acreditar que o país precisa de mais pessoas que acreditam, que dão valor a essa imensidão verde e amarela que chamamos de casa.

Pedro Gama

Apaixonado por mercados - Imobiliário, tecnologia e criptomoedas

8 a

Como mudar a mentalidade relatada na Carta Aberta? Alguma ideia prática?

Hermides Pinto Junior

Diretor técnico/administrativo no Laboratório Amplicon

8 a

Na carta que o Mark Menson escreveu não entendi que a solução é a saída do Brasil, embora ele tenha saído. Ele diz que a solução é mudar alguns princípios do povo brasileiro. Isto não passaria por mais educação? Uma educação básica de maior qualidade?

Marcio do Lago

Gerente Nacional de Tecnologia e Inovação com expertise em Gestão em Saúde e Soluções Tecnológicas

8 a

Excelente texto Michel. Depois de muito tempo leio algo tão coerente sobre nosso papel. São tantos absurdos e parcialidade em nossa mídia, e a obsessão de somente noticiar somente a nossa pior parte, que de fato as vezes acreditamos que não temos jeito. Longe de nos abstrairmos de nossa realidade, dar valor ao que é bom e fazë-lo crescer creio ser o melhor caminho, o bem também se dá por osmose !

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