Caso "Mari Ferrer" e a culpabilização da vítima na Justiça.
⚠️A culpabilização da vítima de estupro e violência de gênero é histórica. O machismo, que pertence às culturas de todo o mundo, traz consigo falácias de padrões de moral e valor, capazes de corromper gerações de cidadãos com paradigmas que desrespeitem os direitos fundamentais de todo o ser humano.
No Brasil, ele existe embasado em um modelo familiar patriarcal e ante os crimes de violência de gênero, como o estupro, a sociedade influenciada por pensamentos machistas culturalmente aceitos é capaz de culpar as próprias mulheres vítimas pelo acontecimento de um crime em razão do merecimento ou não de respeito. Aceitar a hipótese da prática de um crime grave como o estupro em detrimento de um comportamento da vítima que contrarie os padrões de uma moral arcaica e machista é perpetuar o desrespeito e a desigualdade para com a mulher.
No caso polêmico da influencer digital Mari Ferrer vemos os absurdos do machismo perpetrados não somente na sociedade que objetifica a mulher, mas também na Justiça Brasileira, uma vez que diante de uma verdadeira INQUISIÇÃO DA VÍTIMA, todos se mantém inertes e absolutamente omissos, além de um julgamento vergonhoso que cria aberração jurídica do conceito de ESTUPRO CULPOSO, contrariando a própria legislação penal. Mari não foi só vítima de estupro, mas de assédio moral, agressão verbal, injúria, tortura psicológica e injustiça por aqueles que dizem fazer “justiça”. Mari é mais uma das tantas vítimas de estupro e do sistema estatal falido que revitimiza mulheres a todo instante.
Por que mulheres temem tanto ao realizar uma denúncia contra violências domésticas e de gênero? Porque o Estado infelizmente ainda é um local despreparado e desestruturado para as atender e proteger, embora existam legislações que garantam tal proteção. Concomitantemente, vemos uma sociedade que ainda insiste em estereotipar mulheres e descredibilizar suas palavras e sofrimentos em detrimento da máxima credibilidade masculina.
Nossas leis, espaços de poder e justiça, ocupados em sua exorbitante maioria por homens, refletem tão somente os desejos de séculos de uma cultura machista e misógina: a conservação de privilégios e proteção aos homens.
Para combater essas práticas da Justiça, e consequentemente a culpabilização da vítima, se faz necessária a repressão do machismo estimulando esta pauta de discussão em todos os ambientes, além de uma atuação proativa dos poderes públicos na criação de políticas efetivas de enfrentamento, empoderamento e combate das desigualdades de gênero. É essencial e urgente que mulheres ocupem os espaços de poder e informação em busca da própria proteção.
Nós deveríamos estar lá com Mari Ferrer. Nós deveríamos estar com as Anas, Marias, Joanas desconhecidas e anônimas. Quando uma mulher é violentada, todas somos. Essa luta é coletiva e por isso, é nosso dever de cidadão e cidadãs buscar a melhora deste cenário social e estatal. Quando o Estado, mantenedor da ordem pública, e a sua Justiça falham e descumprem seus próprios princípios constitucionais, perde-se a credibilidade de sua própria estrutura democrática e institui-se a injustiça.
Amanda Corrêa