Cemitério de Elefantes
Conta a lenda que os elefantes, quando percebem a aproximação do fim de sua jornada, buscam um refúgio específico em seu habitat para lá aguardar solenemente o fim. Esses refúgios teriam um quê de sagrado, se isso for possível entre os paquidermes. De fato, existem lugares onde se concentram esqueletos de elefantes, cujas carnes rapidamente alimentaram a fauna, e que formam uma paisagem onírica e nostálgica.
Os cientistas menos românticos explicam que os indivíduos mais velhos de determinada manada, que não conseguem mais acompanhar as longas caminhadas, procuram locais minimamente protegidos, com abundância de água e folhas úmidas, fáceis de mastigar com seus dentes já desgastados. É lá que vivem seus últimos dias.
O terceiro setor sofreu por muitos anos de um movimento semelhante a esse. Profissionais gabaritados e bem-sucedidos, ao final de sua jornada e desinteressados da corrida maluca que pode ser a carreira corporativa, resolvem buscar novos ares no paraíso idílico da administração de organizações sem fins lucrativos. Lá, distantes da agressividade das disputas de mercado, da obsessão sangrenta pelo lucro e da opressão do homem pelo homem, essas pessoas poderiam contribuir para o bem maior e levariam a água de seus muitos anos de experiência em grandes empresas ao deserto árido e leniente do trabalho social, ambiental ou cultural.
Felizmente essa mentalidade mudou. As contribuições de profissionais gabaritados são sempre bem-vindas, é claro. Idade também não é problema, nunca é tarde para começar. Mas a ilusão de que a experiência em grandes empresas privadas é garantia de melhores práticas em organizações do terceiro setor está desfeita. As pressões (nada lenientes) são outras, as dificuldades (imensas) são de natureza completamente desconhecida desses profissionais, a dinâmica e ética de trabalho diferentes colocam em cheque hábitos e lógicas antes óbvios e triviais.
De outro lado as organizações do terceiro setor vem se profissionalizando e institucionalizando e, com isso, formando profissionais gabaritados e bem-sucedidos em longas carreiras no próprio terceiro setor. Pessoas que tem o propósito institucional como objetivo intrínseco ao trabalho, habituadas às dinâmicas regulatórias e aos movimentos menos bruscos e mais profundos na gestão, amadurecidos no ambiente de incertezas e resultados intangíveis das organizações sociais.
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Se antes o terceiro setor se apresentava como uma espécie de cemitério de elefantes, agora faz as vezes de berço onde germinam e se cultivam profissionais de alto gabarito, organicamente ambientados à gestão de associações civis e fundações de grande porte.
E nas organizações de pequeno ou médio porte, muitas vezes é melhor compartilhar esses profissionais experientes em modelos de contrato flexíveis do que investir em contratos exclusivos e rígidos (e caros). Desde o rompimento da barreira ao trabalho remoto, essa dinâmica de trabalho está cada dia mais aplicável, com excelente custo-benefício.
Investir em bons profissionais é bom negócio. Não hesite, há um modelo de contrato do tamanho certo para sua estratégia.
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DHO (Desenvolvimento Humano Organizacional) I Psicóloga
6 mFantástico texto!
Planejamento Estratégico Terceiro Setor
6 mExcelentes metáforas que apontam caminhos interessantes, para uma gestão que reconhece a diversidade de talentos.
Sócia-fundadora da 2.5 Comunicação Estratégica para Impactos Positivos | Comunicação com propósito | Responsabilidade Social | Sustentabilidade | Terceiro Setor | Especialista em comunicação pública e de governos
6 mMuito bom. Super pertinente! Parabéns.
Atriz. Professora de Teatro. Produtora cultural. Artista Têxtil.
6 mÓtimo texto, Musa!!