CEO do Uber ‘pede para sair’. E essa é uma ótima notícia
Neste mês comemoro sete anos sem carro. Vendi o meu em 2010, assim que decidi empreender, como “colchão”, caso eu viesse a levar um tombo no mundo corporativo. Eu deixava de ser funcionário por 15 anos para montar meu próprio negócio, uma agência de comunicação corporativa.
Os tombos foram muitos, os grandes saltos também, mas nestes sete anos me convenci de duas coisas: empreender e não ter carro em São Paulo foram duas das melhores decisões que tomei na vida.
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Passei a andar mais, conhecer melhor os corredores livres para ônibus e táxis, e o metrô paulistano, de extensão tímida e estações faraônicas de concreto e aço, certamente um dos maiores sinais de desperdício da cidade onde moro. Mas essa é outra história.
Um ano e meio atrás, veio o Uber. Amor recíproco e à primeira vista. Motoristas educados, que ofereciam balinhas e água, que me levavam de porta a porta colocando na minha rádio preferida, sem eu desembolsar um centavo na hora e ainda cobrando a metade do preço das corridas comuns. Como não se apaixonar?
Por muitos meses, fui um advogado da marca, um embaixador de seus serviços, acreditando realmente que taxistas e críticos agiam como vilões do serviço. Como aceitar, com tantos predicados que o Uber me proporcionava?
O tempo, sempre ele, encarregou-se de trazer à luz algumas obviedades. A primeira delas é que, para que nós, passageiros, recebêssemos tantas benesses, alguém tinha de pagar o preço.
As reclamações dos motoristas, obrigados a deixar 25% do percentual recebido para o aplicativo – sem contar os gastos com gasolina, manutenção do carro, multas, balinhas, água e outros – se multiplicavam.
Também incomodavam a falta de transparência com a legislação e o dado sempre oculto de quantos motoristas rodavam nas cidades.
Uns deixavam o serviço, outros o amaldiçoavam, em uma espécie de tortura voluntária que dura até hoje. Então por que se mantinham no Uber? 14 milhões de desempregados talvez expliquem.
O serviço piorou rudemente e, para a sorte do passageiros, a concorrência chegou a tempo.
Afastamento por e-mail
Para aqueles mais atentos, o Uber não era um APP invisível. Tinha um rosto: o americano Travis Kalanick, 40 anos, fundador e CEO e fundador da startup.
Agressivo, polêmico e falante, Kalanick não se escondia. Pelo contrário, estava sempre no noticiário. Entre outras, foi acusado de colaborar com um suposto roubo da tecnologia de carro autônomo do Google, que culminou na demissão de Anthony Levandowski, chefe de Projetos da startup.
Protagonizou denúncias de assédio moral e, não raro, retinha no RH queixas de colaboradores – muitos deles, graúdos, como a engenheira de software Susan Fowler.
O executivo ainda era acusado de destratar todos aqueles que, mesmo argumentando, ousavam questioná-lo sobre as baixas tarifas repassadas aos motoristas. Uma dessas discussões, gravada dentro de um carro em março pelo motorista indiano Fawzi Kamel, mostra o CEO alterado e justificando a política de preços da companhia.
Em final apoteótico, solta: “Algumas pessoas não gostam de assumir a responsabilidade por suas próprias cagadas (sic.). Elas culpam outra pessoa por tudo em sua vida”.
Entre outras sutilezas, dizia-se (sem confirmação) que Kalanick incentivava um software de espionagem contra a adversária Lyft. O nome? Hell ou “inferno”, em inglês.
Alívio imediato
Discutido pelo conselho no último domingo, o afastamento do CEO deu-se por contra própria. Por e-mail, Travis Kalanick alegou motivos pessoais (o executivo perdeu a mãe em um acidente de barco, em maio, e seu pai está internado em decorrência do mesmo acidente) para sair do cargo. Não há previsão de volta.
Kalanick admite estar atuando em pról de um Uber 2.0, mas antes quer tornar-se um Travis 2.0.
A notícia do afastamento deve aliviar o clima entre os investidores. Porém, é dentro do Uber que a mudança maior será sentida: a cultura opressora imposta por Kalanick era a antítese da imagem de empresa inovadora, com usuários e motoristas sempre satisfeitos.
Nos fóruns de discussão, o afastamento do CEO foi celebrado. A esperança é que, agora, as políticas e os números da empresa sejam mais transparentes.
Para o usuário do serviço, fica a esperança de que motoristas e demais funcionários terão um clima melhor para atuar.
O valor de mercado do Uber atualmente é de US$ 68 bilhões, algo como R$ 238 bilhões. A capacidade de gestão de Kalanick, portanto, é inquestionável, mas não é tudo. Já vimos impérios muito maiores ruírem e o executivo, com certeza, sabe disso.
Um dos cotados para sucede-lo é Garrett Camp, co-fundador da startup.
Oremos.
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Marc Tawil
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Jornalista, radialista, escritor. Pertenceu ao jornal Resenha Judaica, Rádio Jovem Pan AM, Jornal da Tarde (Grupo Estado) e Rádio BandNews FM. Publicou os livros Trânsito Assassino (Ed. Terceiro Nome), Haja Saco, o Livro (Ed. Multifoco) e editou a biografia do advogado Abrão Lowenthal (Ed. Quest). É vice-coordenador da Comissão de Comunicação & Marketing da Câmara de Comércio França-Brasil, conselheiro consultivo do Conselho de Clientes do Grupo Comunique-se e consultor consultivo do Adus | Instituto de Reintegração do Refugiado. Dirige a Tawil Comunicação, agência que fundou em 2010, em São Paulo.
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Gerente Nacional Imperatriz Metais | Por onde passei, nada ficou como encontrei!
7 aE só mais um psicopata a menos no mercado, por enquanto.
Especialista em Iluminação LED - Designer de Produto - Consultor em Eficiência Energética
7 aSó não concordo como "obrigados a deixar 25% do percentual recebido". A regra está clara antes de aceitar, não? Se é abusivo, é outra discussão, de qualquer forma, os motoristas tem o poder. Basta uma mobilização / paralisação geral de frota que o UBER quebra em pouco tempo.
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7 aNão quero falar aqui da administração, mas do serviço q o UBER prestou e presta para a população. No meu caso, EXCELENTE !! Muito mais barato e eficiente que taxi. Fazem uns 4 anos que não usei mais taxi, tudo ladrão, pra aumentar o faturamento chegaram até a me cobrar excesso de bagagem por uma sacola destas de mercado, que eu levava junto com uma bolsa de mão e uma mochila. Nem a empresa em que voei me cobrou nada sobre esta bagagem, mas o taxi ladrão, sim. Reclamei e a central do taxi deu razão ao motorista, ainda bem, foi a última vez que usei a M. do serviço de taxistas. NEVER MORE !!
Estudante de Gestão de Recursos Humanos, a procura de estágio em Recursos Humanos.
7 aTudo que é bom dura pouco, o triste é que o Uber passou por tanto perrengue aqui no Brasil por causa da nossa Legislaçäo pra acabar perdendo a credibilidade em täo pouco tempo.