Chegou a hora de parar de procurar pelo “emprego perfeito”
Você provavelmente vai gastar toda a sua vida procurando pelo emprego perfeito. O mais comum é que você tenha problemas com o seu líder direto, que a cultura competitiva da sua empresa destrua sua vontade de sair da cama ou que seja realmente difícil lidar com a energia das pessoas que te rodeiam todos os dias.
Gastei treze anos entre empresas departamentalizadas, dividindo baias, carregando o peso de trabalhar apenas por dinheiro, engolindo refeições assim como dias que me devoravam, correndo atrás de relógios que estavam sempre me despertando do sonho de uma vida que “um dia seria melhor”.
Lembro-me de um certo episódio, quando estava aguardando o momento adequado para pedir demissão de uma empresa porque as coisas estavam insustentáveis. Por vezes eu me trancava no banheiro e chorava por dentro, a vontade era de gritar muito, muito alto. Me sentia como um bicho enjaulado. A tornozeleira do labor apitava e eu voltava prontamente para o meu posto, sempre com um sorriso duro e amargo pendurado no rosto.
Anos se passaram. Eu acabei me acostumando. A jornada era dura. “Trabalho não é pra ser feliz, a gente faz porque precisa”. Como eu disse, é muito provável que “lá dentro” você também pense assim, mas tem medo de colocar isso pra fora porque será criticado pelo mundo à sua volta. É compreensível. É mais fácil aceitar a dor do que encontrar a cura.
E onde está a cura para essa pro-cura?
A grande verdade é que a gente gasta um tempo enorme jogando as contas pra cima. A culpa é do governo omisso – “fora Dilma, fora Temer” – da sua mãe que te amola muito e, claro, da empresa que só quer “explorar” a sua força de trabalho para encher os bolsos de dinheiro. Eu não preciso mudar, afinal sou – e sempre serei – apenas, VÍTIMA.
É duro jogar no peito e assumir o peso da própria vida. Dá trabalho e toma anos de psicanálise, mas sem se dar conta que ninguém responde pela vida de ninguém – como diria a extraordinária Ayn Rand na fantástica trilogia “A Revolta de Atlas” – a gente jamais sai do buraco.
A cura está em assumir os próprios riscos e não culpar ninguém pelo seu fracasso. Do contrário a gente termina como boiled frogs, acostumando com a temperatura da vida até que o jantar seja servido.
Deixa eu te contar: não existe NADA perfeito
Uma vez que você assumiu para si a responsabilidade, chegou a hora de você saber (antes tarde que nunca): nada é perfeito. É como aquela velha história de um funcionário que desiste de mudar o chefe e encontra um novo emprego para o seu “encarregado” (essa palavra é ótima!), tornando-se, assim, livre do algoz. Até que venha o próximo…
A relação de dominação acontece quando duas forças contrárias, dispostas ao não-diálogo, estabelecem em comum acordo a clara “relação de poder”. O que nos leva ao ponto que o poder está tanto nas mãos de quem controla como de quem é controlado. Aquela velha máxima de ação e reação. Sofro, reclamo, logo transfiro poder.
Mas voltando ao ponto da perfeição. Aceitar que todos nós possuímos falhas é o primeiro ponto para se dar conta que não cabe a ninguém ser “tudo aquilo que você espera”. Assim como não cabe a você buscar o pote de ouro no final da curva do arco-íris (o que não significa aderir ao Niilismo fácil dos dias atuais), mas se dar conta, de uma vez por todas, que não existe “emprego” nem nada perfeito.
Saindo de uma vez da rota de colisão “à caminho da felicidade”
As relações modernas de comunicação digital estão aí, todos os dias, para berrar na nossa cara o quanto somos obrigados a ser felizes. “Se não dá pra ser feliz como a galera que eu sigo no Instagram, eu nem saio de casa”. O mais incrível é que a gente cai nisso. Aí vem a fossa. A vida real é jogo duro e você sabe disso.
Enquanto você persegue aquela situação idealizada e por isso mesmo “fictícia”, seus dias ficam pelo caminho e se tornam vazios. Para cada ação embutida de expectativa “por um mundo melhor” temos duas consequências - você se tornando mais estéril porque quase nada sai como você espera e sua “cenourinha” ficando cada vez mais longe.
Chamam isso também de “corrida dos ratos”, na lógica financeira, mas que também se aplica ao mundo das relações. Você corre, luta, trabalha, mas não alcança. Onde está o erro? A resposta é dura e simples: nas regras que você estabelece, afinal quem aceita o jogo é você.
Para sair dessa rota de colisão, a receita é simples: começar a jogar o jogo que você quer jogar. O que vale a pena na vida pra você? Quais são as suas verdadeiras moedas de troca? Onde você realmente deseja chegar, independente de outras pessoas? A maior parte das pessoas continua sonhando simples, só não se deu conta.
Eu resumiria isso pra você com uma das maiores lições deixadas pelo estoicismo: “lamentar um pouco menos, esperar um pouco menos, e amar um pouco mais.” Na boa, releia isso umas dez vezes e pense a respeito. Vale a pena.
Quando termina a busca, vem a descoberta
O filósofo chinês Confúcio nos ensinou brilhantemente que toda busca um dia tem fim. E esse final chega no momento em que aceitamos o peso da batalha e nos damos por satisfeitos. Da mesma forma aconteceu comigo.
Após esses treze anos de procura, como falei há pouco, me dei por satisfeito que as coisas são assim mesmo, mais ou menos do jeito que são. Aceitei, não por conformismo, mas porque me dei conta que a felicidade é maior do que “aquilo que eu havia sido ensinado a sonhar”. Como falei, era a minha procura que estava errada.
Pois, para o meu espanto, quando eu finalmente “abaixei a espada”, me dei conta que encontrei. Achei um lugar acolhedor, a procura terminou. A hemorragia da minha força motora pela busca estancou e, com ela, como consequência causal, surgiu, diante de mim, a solução que eu tanto busquei.
A guerra já não me interessava tanto mais, eu abri mão que fosse “do meu jeito” e tenho certeza que por isso consegui o que queria. Um lugar legal, que se importa com as pessoas e, portanto, que me faz bem. Quanto mais eu buscava, menos encontrava. Lamentei um pouco menos, esperei um pouco menos, amei um pouco mais. Deu certo.
Assumi o risco da minha própria felicidade no mundo, tirei o peso das costas dos outros. Tudo fez sentido. De agora pra frente não importa quão fáceis as coisas não sejam, eu já sei que o fardo é só meu e vou com tudo levá-lo com firmeza e entusiasmo até o topo.
Porque a batalha é, antes de tudo, dentro da gente mesmo.
Texto inspirado no 3 crenças que ajudaram a moldar a cultura da Hotmart, um resumo impecável de João Pedro Resende que prova todos os dias porque acordar e vir trabalhar, agora, é um privilégio.
Advogada e mestra em Ciências do Trabalho e Relações Laborais pelo Instituto Universitário de Lisboa - ISCTE
7 aExelente texto! Muito bem escrito, como era de se esperar!😊 Neste último ano tenho lido sobre, mas especialmente vivenciado (literalmente ) um mercado de trabalho diferente do que "me ensinaram" que ele seria! Você sintetizou com exatidão tudo isso! Texto lido, compreendido e compartilhado!!
Executivo comercial, atendimento e planejamento
7 aTexto bacana, Lucas H.S. Oliveira. Em tempos "difíceis" de muito (pouco) conteúdo, respaldados pela necessidade de conhecimento "fácil" e veloz, um texto que trate de realidade e esperança, ainda que em tom de desabafo, é sempre bem-vindo. Abs. Confesso que estou precisando experimentar isso teoria e na prática.