A China é um Kinder Ovo
A China me fascina desde os tempos de criança, a grande e misteriosa nação, o grande império, uma das maiores economias (senão a maior) da antiguidade até a idade média e que depois, adormecida em si mesmo, acabou sendo dominada por sucessivas potências estrangeiras de onde se libertou apenas no final da 2ª guerra mundial.
Em 1949, um recomeço comunista, se fechou novamente na revolução cultural e nos planos quinquenais de Mao e finalmente se reabriu sob Deng Xiaoping aquele que, embora não tenha dito que “enriquecer é glorioso” (frase na verdade veio do livro homônomo de Orville Schell), foi o grande arquiteto do renascimento do gigante que comemora esse ano o 70º aniversário de sua revolução.
Dias atrás o Brasil sediou a 11ª cúpula dos BRICs, para alívio geral o governo agiu com bom senso, sinalizando que à retórica anti-China está sendo vencida pela realidade e pelo pragmatismo. Precisamos retomar nosso crescimento.
Vou a China com regularidade desde 2011, essa minha última visita coincidiu com a do nosso presidente. Nesse momento de antagonismo Sino-Americano, aproveitar o interesse de aproximação do governo de Xi Jinping é fundamental, Bolsonaro só tem a ganhar.
Eu duvido que a comitiva brasileira, assim como qualquer pessoa que visite a China, não volte fascinado. Nas primeiras vezes que estive por lá, me impressionei com a velocidade com que as cidades eram demolidas e reconstruídas. Milhares de quilômetros de linhas de trens-bala, torres de 50, 60 andares construídas em semanas, avenidas enormes abertas, tudo tinindo de novo. Como era possível uma estrutura de Metrô ter 16 estações em um ano e no ano seguinte ter 29? Como esses caras conseguiam incentivar tanta gente a produzir, como treinavam, educavam e capacitavam, como vendiam num custo tão baixo? Como tudo isso funcionava tão bem? A resposta mais previsível é dizer que se trata de uma ditadura, que não há democracia e que assim é fácil! Mas temos tantas ditaduras no mundo, por que essa funciona e outras tantas não?
Arrisco dizer que a resposta pode estar na capacidade de planejamento dos governantes chineses, no preparo de seus técnicos, na identificação das vantagens comparativas de forma adequada, na atração do investimento certo, na obsessão de competitividade de seus empresários e na educação de suas lideranças. Um bom exemplo é que os chineses continuam muito presentes nas faculdades americanas, mesmo tendo acesso à universidades chinesas em nível de excelência, (talvez, assim como Sócrates desejem aprender sempre: ipse se nihil scire id unum sciat). Afinal Shenzen já rivaliza com o Vale do Silício (Taí um dos motivos do Trump ter tentado impedir o visto dos jovens chineses às universidades americanas, felizmente foi convencido a voltar atrás porque era a economia americana que sairia perdendo) .
O avanço oriundo de todo esse processo de inovação impacta positivamente na vida das pessoas, a China simplesmente pulou a fase do Cartão de Crédito, saíram do papel moeda direto para o WeChat uma espécie de Super Whatsapp, onde é possível se fazer de tudo desde pagar contas ou fazer compras à transferir dinheiro. “- Como assim vc não usa o WeChat?” (Para deixar de me sentir um ET, depois do terceiro questionamento tive que baixar o app e parei de pedir o whatApp das pessoas).
Aliás, o WeChat vale muito mais que o Facebook... surpreso? Eu também fiquei, mas tem mais, Além do trio “BAT”: “B”aidu (O google chinês), “A”libaba (mais conhecida aqui pelas muambas trazidas via Mercado Livre) e “T”encent (a controladora do WeChat), ainda somam-se a Huawei (a empresa que detém a rede de 5G mais eficiente do mundo e que assusta Donald Trump), a Didi Chuxing (Dona do aplicativo de transporte Didi e muito, mas muito maior que o Uber) e a Xiaomi (que se prepara para tomar o 3º lugar da Apple na produção de Smartphones... sim a Apple não é a 1ª, nem a 2ª maior).
Só consegui confirmar esses dados todos ao voltar ao Brasil porque Google e Facebook não funcionam bem na China e é lógico que esse mal funcionamento tem causas óbvias e foi parte do esforço chinês em proteger seu mercado e fomentar a criação de seu ecossistema tecnológico próprio. Mas me pergunto como seria o Brasil se tivéssemos protegido nosso mercado e criado nossas empresas como os chineses fizeram, teria dado certo? Mas isso é tema para outra discussão.
Voltando à minha visita, achei que nessa última nada fosse me surpreender, afinal já não é novidade o avanço chinês na Infra-Estrutura ou na Tecnologia, como não é novidade o lado ruim desse avanço como os impactos no meio ambiente e a poluição onipresente em qualquer grande cidade chinesa. Me antecipando a esse problema me abasteci como sempre: remédios prá garganta, descongestionante nasal, colírio, etc.
Nas últimas vezes na China foi raro enxergar algo além do cinza amarelado de dia e o brilho turvo das luzes coloridas de led dos arranhas céus à noite. Lembrava sempre de uma conversa com um amigo chinês que, voltando do Brasil, não cansava de repetir que o que mais o impressionou não tinha sido a fartura da churrascaria ou a caipirinha e sim nosso imenso céu azul.
Há alguns anos atrás, a China sediou numa reunião preparatória para a Cúpula do Clima. Antes da reunião, os níveis de poluição eram insalubres e com temor de uma vexame internacional Pequim ordenou o fechamento de milhares de fábricas poluidoras, iniciando um processo de modernização de seu parque industrial, algumas fábricas nem voltaram a funcionar, posteriormente houve um esforço de reflorestamento sem precedentes a ponto de que, em uma das regiões mais devastadas do país (Qianyanzhou), a cobertura florestal aumentou de 0,43% para quase 70%.
Esse processo continuou e chegou às cidades mudando a matriz energética notadamente na área de transportes: táxis, caminhões, ônibus e boa parte da frota particular de veículos todos elétricos! Menos barulho, mais linhas de metrô, modernização das fábricas com incentivo público para fontes mais eficientes e menos poluentes... Minha última visita à China tinha sido em 2016! Ao pousar em GuangZhou em Outubro de 2.019 não acreditei... estrelas, no dia seguinte o sol, num lindo céu azul... Tudo isso em apenas três anos! Não há dúvida que vencer a poluição é questão de tempo prá esses caras.
Ao perceber esse enorme avanço me pergunto como é possível não termos limpado nossos rios como o Tietê e o Pinheiros aqui em São Paulo? Como, apesar do governo ter zerado o imposto de importação e baixado o IPI, os carros elétricos ainda são tão caros? Por que não há incentivo para uma frota menos poluente, tirando da rua algumas “máquinas de fumaça” que ajudam a lotar nossos hospitais com doenças respiratórias? Como a China faz com tanta rapidez e demoramos décadas?
Sim, são muitas perguntas mas tudo começa com a constatação de que precisamos conhecer mais sobre boas práticas e conhecer mais sobre as experiências da China, não só nos grandes projetos públicos, na infra estrutura ou na tecnologia, mas na área de custos, de processos, de práticas. Continuo firme no meu propósito de continuar aprendendo com eles cada vez mais. Quer se juntar a mim? Vamos conversar sobre o que a China pode contribuir para os seus negócios e sua carreira?
Consultor de SI e Privacidade | Auditor Lider Senior |Gerente de Projetos | Inovação | Serviços
5 aParabéns! Planejamento estrategico, execução e monitoração no setor publico feitos com excelência devem ser utilizados como benchmarking pelo Estado Brasileiro.
International Business (Sourcing & Trade)
5 aAlém de tudo isso que você comentou o que me chamou muito atenção na minha última visita à China é de como o governo chinês foi capaz de desenvolver uma classe média consumidora. Alguns anos atrás essa classe média era uma mínima parte da população hoje porém você observa uma quantidade enorme de pessoas comparando produtos de qualidade superior por todos os lados. Outra coisa interessante é a quantidade de marcas próprias Chinesas que hoje disputam mercado de igual pra igual com marcas ocidentais. Além das gigantes de tecnología vi varias marcas de productos esportivos no mesmo nível de qualidade e preço que Nike e Adidas, por exemplo. Minha percepção é de que essa classe média busca coisas novas e talvez, exista aí uma grande oportunidade para quem queira levar seus produtos para esse mercado. Obviamente não seria uma tarefa fácil mas o potencial de mercado é do tamanho da China. 😁 Grande abraço