"China causa tempestade nos países emergentes"

"China causa tempestade nos países emergentes"

O Valor Econômico de hoje traz uma matéria do Wall Street Journal (clique aqui) analisando o impacto da queda da bolsa chinesa sobre as moedas de cinco países emergentes altamente dependentes das exportações de commodities para a China, dentre eles o Brasil.

Diferente da crise asiática de 1997 (clique aqui para ler um artigo do Otaviano Canuto explicando os seus efeitos sobre o Brasil, na época), quando a China ainda não era um dos eixos centrais do comércio internacional, a conjuntura atual faz com que esse indício de nova crise na Ásia represente um potencial de impacto ainda maior ao comércio internacional como um todo, podendo não se restringir apenas às economias emergentes fortemente dependentes da demanda asiática para o seu crescimento.

A China é hoje, um dos principais parceiros comerciais também dos EUA e da União Europeia, porém com uma relação diferente das que tem com os países emergentes da América Latina e da África. Enquanto estes são fornecedores de matérias primas e já vinham sendo afetados pelo recuo nos níveis de demanda interna chinesa e pela queda nos preços do petróleo desde o início do ano, para os EUA e a União Europeia a China representa um fornecedor de produtos manufaturados com preços altamente competitivos.

Com a desaceleração da economia chinesa, a tendência é que os produtores locais busquem exportar ainda mais os seus produtos - com forte apoio do governo para isso - como forma de escoar a sua produção e frear o desaquecimento da economia doméstica. Como o poder de compra dos países emergentes está fragilizado pelos fatores já mencionados acima, a alternativa natural para os exportadores chineses seria focar em mercados com maior poder de compra, como EUA e União Europeia. No entanto, estas duas regiões estão em franco processo de retomada do seu crescimento interno após as crises que assolaram os países desenvolvidos nos últimos anos - com a Europa ainda tentando encontrar uma solução para a situação da Grécia. Fortes incentivos à industria doméstica na busca de maior geração de emprego e renda têm marcado a economia americana e europeia nos últimos 3 anos, tornando pouco provável que as exportações chinesas consigam ganhar muito mais espaço do que já têm nestes mercados. Certamente haverá um movimento de proteção ao mercado interno ainda maior nos EUA e na União Europeia para enfrentar a concorrência chinesa.

Não é possível dar uma resposta rápida para o cenário que está se desenhando. O que é possível afirmar, no entanto, é que o comércio internacional deverá entrar em uma nova normal, em que as taxas de crescimento muito dificilmente atingirão de novo a casa dos dois dígitos como já aconteceu anteriormente. Reflexões como a necessidade de rever os padrões de consumo e a matriz energética mundial são essenciais em cenários como este, que na verdade nada mais mostram além de que o modo de desenvolvimento econômico internacional das últimas décadas está se esgotando de forma acelerada.

Dimas Beato

Consultor Imobiliário associado RE MAX Brasil na RE MAX Alpha Prime

9 a

Poucos analisam com profundidade as reais razões da China ter sido capaz de crescer com percentuais exagerados nos últimos anos. O custo humanitário e planetário não foi calculado e contabilizado, muito menos precificado. Ingênuos aqueles que puderam acreditar que o crescimento chinês seria sustentável. Falta-nos mais criticidade, maior interesse em aprofundar os dados, nos acomodamos a concordar com notícias mal divulgadas, plantadas, com percepções do "mercado" que fabricam tendências, induzem a manada por caminhos de alguns poucos interessados. Falta-nos bom senso, discernimento. De fato a crise é sistêmica e global. Cada nação procura sobreviver com o que pode, com saídas paliativas e postergatorias. Falta-nos estadistas, falta-nos líderes empresariais, inspiradores.

Pedro Abel Vieira

Pesquisador na Embrapa Estudos e Capacitação

9 a

No curto prazo o cenário é desalentador, especialmente para o Brasil, porém, é preciso considerar que: i) a redução nos preços das commodities, especialmente energia, é um forte componente da retomada do crescimento das principais economias; e ii) a economia global continua, com tendência de aumentar, extremamente liquida e, parafraseando o ex ministro Delfim, o Brasil, especialmente o agro,é um dos últimos peru com farofa do planeta. Ou seja, a crise chinesa pode ser um negócio da China para o Brasil.

Victor covaneiro

Teacher na YesBras - Escolas do Brasil - Unidade Centro

9 a

Adalberto, pela 1ª vez, o Brasil, tem uma "força económica", q não está exclusivamente, na mão do "WEST", isso dá uma certa liberdade, para criar uma política económica própria, q por falta de hábito, ainda não estamos implementando, mas em breve, iremos alinhar, uma política BRICS, macro financeira, q irá atenuar a pressão financeira, imposta pelo "WEST", forçando uma Globalização financeira, mais justa e menos dependente.

Adalberto Schiehll

Diretor na Gaúcha Tecnologia e Participações S/A

9 a

É. Esta é a situação econômica hoje, economia esta que vive de oscilações (se não houvessem, não existiria a ciência econômica). Algumas oscilações são reações ou passivas, e outras são ativas ou intencionais (geralmente com a boa intenção de gerar desenvolvimento ou minimizar algum "problema"). Uma das atitudes chinesas nos últimos dias foi desvalorizar sua já desvalorizada moeda (situação antiga que causou estragos na indústria mundial e que nem os EUA conseguiram mudar) em míseros 4% e causou temeridade mundial. Porém o real nos últimos 12 meses já desvalorizou mais de 50%. Será que esta ação chinesa estaria "errada"? O que seria o "correto", o normal, ou o esperado? Cada país defende sua economia do seu jeito (de acordo com suas variáveis internas e seu plano externo), todos reclamam e grita mais alto quem tem voz (poder) para isto. As vezes me parece que nós, brasileiros, ficamos mais observando (criticando e reclamando) e não temos um plano consistente para a nossa economia, uma linha estratégica que nos torne ativos, somos muito reativos e dependentes (apesar do poder de sermos a sexta ou sétima maior economia mundial).

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