Chorei por política pela primeira vez na vida ontem. E não foi pelo motivo obvio.

Chorei por política pela primeira vez na vida ontem. E não foi pelo motivo obvio.


Teve muita tristeza mas teve felicidade também! Por que? Por que nasceu em mim uma pequena grande esperança: pela primeira vez participei ativamente de uma campanha e ajudei a eleger uma Deputada Estadual. Apesar dos pesares (que são muitos), me sinto mais protagonista, coerente e mais forte do que nunca, acreditando mesmo que você tem que ser a mudança que quer no mundo, e não existe outro caminho se não o do trabalho. Esse é um texto sobre protagonismo politico e é escrito na primeira pessoa.

"E um vaga-lume lanterneiro, que riscou um psiu de luz "
Minha Gente, em Sagarana. G. Rosa.

Não faz tempo, eu achava política um assunto muito chato. Me lembro bem de ligar pro meu pai no dia das eleições e perguntar o número do candidato a deputado que era amigo dele, e ele praticamente me passava a cola, confesso: eu terceirizava meu direito de votar. Sei que muita gente ainda faz coisas desse tipo: pesquisas mostram que quase 80% das pessoas decide seu voto de senadores e deputados nas 48 horas anteriores a eleição, e a maioria dos eleitores costuma seguir recomendações de alguém, terceirizando e negligenciando seu papel, sem uma pesquisa ativa. Por que não usamos nosso intelecto, nosso trabalho, e a força que usamos no dia dia em nossas carreiras para a política? Se pesquisamos tanto antes de trocar um fornecedor, entrevistamos 10 pessoas antes de escolher um funcionário, ligamos pra todo mundo pra vender uma ideia ou produto, entendo que deveríamos fazer algo parecido pelo nosso pais: trabalhar. Então esse ano foi diferente, decidi apoiar ativamente a minha amiga que concorria a Deputada Estadual em Sp e aprendi muito, não so sobre política mas sobre atitude protagonista.

A primeira coisa que percebi é que estamos feridos, putos, tristes e brigados com a política no geral. “Assunto chato né??”, “Me chama pra beber Lala, não pra esse tipo de coisa chata” ou então “politico é tudo igual, sua amiga também vai ceder e ser prostituída pelo poder”. Foi o que escutei de muitas pessoas nas últimas semanas, e eu entendo. Nem preciso ficar falando aqui que Brasil está cheio de ódio, fake news, discussões superficiais, famílias divididas, diálogos impossíveis... Assunto chato mesmo. Afinal, o Brasil foi muito mal tratado pelos políticos nos últimos anos, e é com eles que estamos brigados: com aquele político tradicional meio gordinho, homem branco, de terno, cabelos brancos, algum sotaque, jeito de coronel, que está na poder há anos, e cria seus filhos pra continuar ali - um político que se apegou no emprego como algo vitalício, hereditário, dado, proprietário, como um dono daquela cadeira. Não é essa imagem que temos dos políticos?

Não demorou muito pra eu perceber que precisamos separar a Política dos Políticos, e se envolver é o caminho pra tomar de volta o que é público - essas cadeiras não tem donos, a política precisa ser nossa. Não estou feliz somente porque a partir de agora a Marina Medeiros Helou, minha amiga, é Deputada Estadual eleita com muito amor, e porque isso foi pra mim, uma vitoria da esperança sobre o medo. Mas estou na verdade é mais feliz ainda pela inspiração que foi participar de uma campanha pela primeira vez. Foi a primeira vez que amigos vieram na minha casa pra gente dialogar sobre o país. Perguntaram quanto a Marina estava gastando na campanha, por que queria ser deputada e se ela realmente achava que dava pra fazer alguma coisa. Perguntaram a diferença entre deputado federal e senador, perguntaram sobre coligações, e sobre o filho dela. Foi lindo! Essa também foi a primeira vez que fui pra rua panfletar, que trabalhei pelo menos umas 80 horas por política, que ajudei a captar dinheiro, que bati papo com meus vizinhos, que me posicionei nas redes, que doei dinheiro pra uma campanha, que liguei pras pessoas pra falar sobre isso, que pesquisei propostas e fake news, que parei pra entender a dinâmica dos votos representativos, coligações, e legendas, que conheci amigos fazendo politica. Trabalhei ativamente, fizemos uma campanha com pouco dinheiro e muita energia positiva.

Fato é que chorei muito ontem e apesar da vitória da Marina eu não sabia direito se era de desespero ou de felicidade, estava com 209812390 milhões de sentimentos, vi luz e vi sombra, chorei como não chorava faziam anos. Foi um domingo diferente, que me fez perceber com triste clareza o modo como o discurso de ódio se apoderou dos palanques e dos discursos, uma onda que tende a afastar ainda mais as pessoas da política participativa e de discussões enriquecedoras. Mas vi no meu protagonismo politico uma razão pra seguir acreditando, e decidi acordar animada hoje porque vi um caminho possível: o caminho da ação. Esperançosa porque vi amigos se filiando a partidos, chamando pessoas pra conversar, pesquisando mais, tentando realmente entender as propostas dos candidatos. Percebi que amar esse país de nada adianta sem protagonismo, atitudes, e trabalho, como tudo na vida. “Nunca vi ninguém bater meta sem trabalho duro”, me dizia um chefe anos atrás, e lembrei disso hoje pois nunca vi mudança sem agentes de mudança trabalhando duro, ativamente, movendo pessoas, sonhando e realizando. Não ha evolução sem trabalho e eu não fiz nada que ja não soubesse fazer, apenas trabalhei como sempre, pesquisando, conversando, aprendendo: I believe in doing.

Nessa jornada, ficou claro que sendo mulher, feminista e empreendedora social ativista, eu já estava envolvida desde sempre, mas nunca tinha assumido uma postura tão ativa. E claro, não foi fácil estar ativa: discuti, briguei, chorei... e foi bem desgastante. Mas ter participado de uma campanha bonita como essa me fez entender de uma vez por todas que a gente só pode ser parte da solução quando entende que faz parte do problema e traz a responsabilidade pra si. Vou seguir participando, estudando, trabalhando. Diante do nosso cenário, vejo que ser brasileiro se tornou uma ato politico. Principalmente se você é mulher, LGBTQ, negro, nordestino, ou parte de qualquer minoria representativa que sofre preconceito. Se você faz parte de algum, desses grupos, você já está envolvido. Se você não faz parte mas se preocupa com segurança, com o dólar, com a desigualdade, você também está envolvido, afinal tudo isso também é política, e todos deveriam se envolver… mas você está ativo?

E por fim, pensando nas mulheres, a lição que ficou é que mais que nunca a gente não deve terceirizar nossa vida política seguindo as opiniões dos seus pais, maridos, ou amigos. Está claro que não fomos tão ensinadas a ocupar espaços de poder, de dinheiro, de política quanto os homens, mas esse espaço é nosso sim e a política desenha nossas leis, vidas, direitos, e sonhos. O direito ao voto foi conquistado em 1932 no brasil, mas so em 2016 foi construído um banheiro feminino no senado (pasmem!!!) e nossa representatividade política é uma das piores do mundo, perdendo pra países como Afeganistão e Senegal. Diante de todos os sentimentos bagunçados dessa época, escolho ser protagonistas da nossa vida e do nosso país, escolho a esperança. E claro, não da pra falar sobre protagonista feminino aqui sem deixar claro minha opinião de que não deveríamos jamais aceitar um candidato que vai contra nossa existência, expressão e liberdade.

Passei as ultimas semanas pensando nesse nosso dever de protagonizar, e não consigo entender um candidato que questiona se temos esse direito ou não.

Aproveitando, Marina, obrigada pela inspiração. Vamos juntas e vamos cada vez mais, nós não vamos parar, não vamos desistir!!! Você me representa muito, vai la e manda ver na adm pública que eu vou continuar aqui te apoiando e criando negócios sociais na iniciativa privada!! #girlpower #mulheresnapolitica #votenelas #aquiestaoasmulheres #soamorsalva E SIM, SOU #elenão obvio claro!

Carlos Rocha

Agente de empréstimo na Avante.com

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Como sempre vc arrasa Lalá. Parabéns

Cristina Souza Ferreira

Estudando IA | Compradora | Eventos | Editorial

6 a

In crí vel! Adorei. Continue escrevendo e ajudando tantas mentes a se abrirem. Abraços, Lais.

Marcela Ribeiro Gonçalves

Multiledgers CEO, Co-Founder | Women In Tech WEB3.0 Award Winner | Delegada ITU-T | Desenvolvo Ecossistemas para Economia Tokenizada

6 a

Parabéns!!!

Mariana Sartor

Head of Brazil Equity Sales

6 a

Que experiencia, hein!! Admiro! Obrigada por compartilhar as emocoes e os aprendizados com a gente!! 😘😘

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