Ciclo PC

A evolução do homem ao longo de sua história, mesmo que, às vezes pareça o contrário, não ocorre por saltos, mas por ciclos que, em vários momentos se superpõem, enquanto um vai se tornando hegemônico, outro vai perdendo preponderância.

Ainda sob o impacto da surpresa, o mundo vive a crise agudizada pela Covid-19, uma síndrome provocada pelo corona vírus, que há muito circula, mas ganhou virulência no final do ano passado, com os primeiros focos surgindo na populosa China. A globalização facilitou sua propagação de forma acelerada, já sendo registrada em mais de 180 países e territórios em todos os continentes.

Da noite para o dia, em várias partes do mundo a população ou parte dela se viu forçada a mudar seus hábitos. O convívio social ficou mais restrito, até mesmo entre povos que têm altas dosagens de extravasamento de seu afeto.

Há tempos, a sociedade humana vem clamando por uma nova ordem, por meio de movimentos, quebras de paradigmas, desobediência civil, descrença em velhas e tradicionais instituições, guinadas políticas, entre outras. O movimento de 2013, difuso foi o sinal de alerta que quase todas as lideranças políticas de todo o espectro político não levaram em conta ou desprezaram. Os resultados das eleições de 2016 e, mais expressivamente, de 2018, nos mostram isso.

Infelizmente, parte importante de nosso mundo pensante ainda não se voltou para ouvir o que realmente a população quer dizer. Muitos transmutam suas ideias e as vendem como propostas do povo. As propaladas reformas são apresentadas como antídoto para tudo.

Agora mesmo, enquanto o Brasil se acha mergulhado numa crise sanitária cujos reflexos mais significativos para a vida dos 210 milhões de brasileiros são ainda desconhecidos, algumas autoridades não deixam de recitar o mantra da necessidade das mesmas reformas, como meio de sair da crise econômica e da recessão que bate às portas. A aprovação das velhas e surradas propostas precisam ser aprovadas de imediato, entoam alguns arautos aos quatro ventos.

O combate e a contenção do corona vírus já está trazendo mudanças comportamentais e de cunho político-econômico, com implicação em todos os segmentos sociais.  A própria visão que se tem hoje do Sistema Único de Saúde, até poucas horas atrás um serviço, segundo os defensores do estado mínimo, que seria melhor gerido pelo setor privado, está mudando. O ciclo pós-corona – que já começou – vai aprofundar esse movimento e, certamente, ampliar os níveis de conscientização, expectativa e cobrança.

O Brasil precisa dar um salto e propor uma nova ordem, na qual não bastam reformas, profundas mudanças nas relações intra e inter poderes, entre estes e as camadas sociais a quem devem satisfação e respeito. É preciso extinguir privilégios e valorizar o homo sapiens em toda sua plenitude. O cidadão precisa não só ter direito a saúde, educação, segurança, lazer, bem estar, mas também ter acesso a isso. Para fazer prevalecer seus direitos, deve ter sempre presente que estes vão até onde começam os de seu vizinho de casa ou do seu amigo virtual.

Não há como deixar passar o trem da história, com reformas que, em pouco se tornarão inócuas. Há de se propor mudanças na super e na infraestrutura sociais. Ainda é cedo para se dizer o que virá nesse ciclo PC. Uma coisa certa: para vencer a crise será preciso mudar conceitos e posturas, não apenas trocar de roupa.


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