Ciclos, metas e sistemas ou everything old is new again.
(Atenção: Este post não é merchan. However, Amazon, aceito um patrocínio, meu Kindle tá ficando velhinho e esse Oasis tá demais. Qualquer coisa, inbox e coração aberto para vocês.)
Tempos atrás comprei um Kindle com 3G, uma das melhores compras que já fiz. Apesar de ser relativamente caro, a quantidade de livros que já comprei, o espaço que deixei de usar em casa, o pó que não precisei limpar, o papel higiênico que não usei para assoar o nariz e a praticidade de poder comprar um livro a qualquer hora e levar vários livros comigo para qualquer lugar mais que compensaram o investimento inicial.
Pois bem. Uma outra vantagem de usar um e-reader é que quando você se sente saturado com algum livro, é só selecionar outro "mais leve" e continuar lendo. Um dos livros que estou (re)lendo é o Principles, do Ray Dalio, que já foi recomendado por outros colegas. Nele, Dalio mostra alguns dos princípios que utilizou na vida pessoal e profissional e que acredita que todos podemos usar para atingirmos nossos objetivos.
Um destes princípios é o que ele chama de "another one of those", ou, mais um daqueles. Esta é a ideia de que algumas situações que encontramos no dia a dia são apenas replays de situações que já passamos ou muito similares, portanto, é importante identificar estas com calma para tomarmos as melhores decisões.
Isto nos leva, claro, ao amor. Tem gente que diz que o amor é a base de tudo, não é mesmo? O amor pode vir de várias formas, maneiras, tamanhos, cores, cheiros e circunstâncias. Amamos conhecer gente nova. Amamos visitar um país diferente. Amamos comprar um carro novo. Porém, estamos no LinkedIn, então, vamos para o que mais se encaixa aqui, amamos o nosso trabalho.
Ah, a geração startup. Escritório com ping-pong, massagem, cerveja e videogame. Meu office, minha vida. Se não tiver IPA, esquece, não vale a pena trabalhar lá.
Todo mundo conhece alguém que mudou de empresa e, passada a lua de mel, diz que a empresa nova é um saco ou é a mesma coisa de antes com endereço diferente. Mesmo com a IPA diferente e pipoca gourmet toda semana. Temos vontade de fazer coisas novas, viajar, comprar roupas, trocar celulares, tudo que é novo é mais gostoso.
A headhunter liga oferecendo um desafio, empresa nova, momento de crescimento, equipe nova...mas será que esse novo é realmente novo? Será que não é "mais um daqueles"?
O bofe novo é lindo mas tem a mesma mania do ex de chegar da academia e sentar no sofá pra assistir televisão antes de tomar banho. Mas tudo bem, ele é lindo e você ainda está conhecendo ele, qualquer coisa é só abrir o Tinder e escolher outro bofe.
Quantas vezes paramos para refletir sobre a situação atual antes de nos deixarmos levar e mudar? Isso nos leva a pensar na pressão de ser produtivo o tempo todo e da importância das metas no trabalho.
Hoje em dia tudo é meta. OKR. Cada O tem vários Rs. Use objetivos SMART, diz o seu coach. BSQ, BHG, Canvas e não sei o que. Drucker dizia que o que é medido é realizado ou, alternativamente, você só consegue gerenciar o que você consegue medir. Uma empresa pode e deve ter resultados e metas mas nós também devemos? Alguns dizem que sim, outros que não.
Comprar um apartamento é uma meta. Comprar um apartamento de dois quartos na Vila Olímpia com uma garagem e próximo da Faria Lima até o final de 2022 é uma meta melhor ainda mas não é ideal (mesmo porque pra comprar um apartamento lá, hoje, você vai ter que penhorar até as cuecas dos seus filhos que você ainda nem tem porque ter filho também é caro pacas). Que situação.
Ritalina para focar, fluoxetina para não desanimar.
Assim perpetuamos o nosso ciclo de ansiedade. Temos as metas no trabalho, temos as metas pessoais, queremos novidade e não admitimos repetições. Ansiedade para atingir as metas, depressão por não atingi-las. Ritalina para focar, fluoxetina para não desanimar. Podia existir um jeito de viver que seja um pouco mais tranquilo. Poderíamos esquecer as metas pelo menos por enquanto. O livro do Dalio é extenso e pesado, talvez seja hora de pegar algum livro mais leve. Acho que How to Fail at Almost Everything and Still Win Big, do Scott Adams, criador do Dilbert, é uma boa.
Abro o livro, índice. Capítulo seis, Metas X Sistemas. Interessante. Capítulo 22, Reconhecimento de Padrões. Isso aqui tá bem parecido com o Dalio, vou ver o 22 primeiro e depois volto pro 6.
Capítulo 22, o que as pessoas de sucesso tem em comum, de acordo com o Scott Adams? Falta de medo de passar vergonha (tô escrevendo aqui, você tá lendo e rindo de mim, então tô tentando), educação (estudei, beleza) e exercício (este ponto é diretamente conflitante com outro postulado, um homem sem barriga é um homem sem história, mas vamos deixar isso pra lá). Estou no 2x1 por enquanto, dá pra melhorar.
Volto pro capitulo 6, sistemas e metas. O exemplo que ele usa é que se você define uma meta de perder 10 quilos, você vai se sentir mal o tempo todo antes de atingir esta meta. Isso te drena de uma maneira que só alguém que já fez dieta ou definiu uma meta super difícil sabe como é duro. A alternativa é a seguinte: ao invés de uma meta de perder 10 quilos, que tal um sistema para comer de maneira saudável durante a semana e ir para a academia depois do trabalho? Pelo menos assim, se você perder um dia de academia ou se absolutamente tiver que começar a semana jacando porque o McFrança é o melhor de todos os sanduíches da Copa e só é vendido de segunda, você não vai se sentir tão mal e vai conseguir continuar com o seu sistema. Interessante.
Hora de uma leitura diferente. Eu gosto de história e religiões em geral e um livro muito interessante que eu comprei e já li faz tempo é o Bhagavad Gita, clássico indiano que faz parte de um dos dois livros mais importantes para os hindus, o Mahabharata ou "O grande conto da dinastia Bharata". Em linhas gerais, o Gita conta um diálogo entre Arjuna, um príncipe Pandava e Krishna, representação divina e condutor de sua carruagem. O diálogo ocorre no meio de uma batalha da guerra entre Pandavas, que simbolizam o lado do bem e Kauravas, primos dos Pandavas, simbolizando o lado do mau.
(Podia fazer umas camisetas com essa estampa pra vender, hein? Aliás, você tá sentindo um cheiro de patchouli?)
Logo no capítulo 4, Krishna tem o seguinte a dizer (retirado daqui e com ênfase minha):
VERSO 19: É considerado em conhecimento pleno aquele cujos atos estão desprovidos do desejo de satisfação dos sentidos. Os sábios dizem que tal pessoa é um trabalhador cujas reações do trabalho foram queimadas pelo fogo do conhecimento perfeito.
VERSO 20: Abandonando todo o apego aos resultados de suas atividades, sempre satisfeito e independente, ele não executa nenhuma ação fruitiva, embora ocupado em vários tipos de empreendimentos.
Abandonando o apego aos resultados. Ocupado com vários tipos de empreendimentos. Não seria esta a mesma proposta de Adams, sistemas ao invés de metas?
Três livros bem diferentes, separados por séculos, mensagens semelhantes: "O que já aconteceu antes pode estar acontecendo novamente" e "não se preocupar com os objetivos, apenas manter-se ocupado e sereno com a certeza de que os frutos serão colhidos." O novo é o antigo 2.0? Deixar de lado as metas e trabalhar com sistemas? Podemos esquecer das metas? Devemos? Fica a reflexão.
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