COLABORAÇÃO AUTOMOTIVA

A transformação que a indústria automotiva atravessa só se compara aos tempos de Henry Ford, e, dentre as diversas coisas que mudaram e evoluíram nestes cento e poucos anos, eu destacaria um aspecto como o mais transformador: a colaboração. 

Argumento 1 – Gadgets em rede

O que está acontecendo na indústria pode ser representado de forma simplificada pela sigla CASE, que significa que o carro passa a ser Conectado, Autônomo, Compartilhado (Shared) e Elétrico. E o “C” é condição para o “A”, ou seja, a conectividade é que tornará viável (e confiável) a tecnologia do carro autônomo.

Certa vez assisti a uma demonstração – num centro de pesquisa em IA – que exibia em vídeo um automóvel autônomo percorrendo um trecho de uma estrada com quase zero visibilidade. Câmeras e sensores ao redor do veículo não eram suficientes para que ele cumprisse o trajeto com segurança, mas o algoritmo dispunha de outra fonte de informação: a memória de outro veículo que em algum momento percorreu o trecho em condições diferentes. Para o novo universo de veículos conectados, carros que ainda nem foram fabricados nascerão com a inteligência (experiência) de todos os carros em circulação.

Essas interações entre veículos, sistemas de tráfego e navegação e smart devices levam a um tipo específico de IA, denominado IE, ou inteligência de enxame. Trata-se de uma inteligência artificial coletiva na qual as unidades interagem de forma cooperativa, como abelhas construindo suas colmeias. Isso representa um salto substancial na qualidade de decisão dos algoritmos computacionais, que cada vez mais passam a assumir funções para facilitar nossa vida. Dirigir um carro é uma delas.

Argumento 2 – Filósofos projetando carros

Um desafio para os algoritmos do veículo autônomo é lidar com questões éticas, e os filósofos são quem mais entendem desse campo. Este é só um exemplo para ilustrar o fato que a pluralidade de problemas para desenvolver estes gadgets sobre rodas requer a colaboração de diversas áreas de conhecimento. Juntam-se aos filósofos os cientistas de dados, especialistas em cybersecurity, designers, UXers, neurocientistas e até engenheiros(!). A capacidade criativa cresce exponencialmente.

A reinvenção do carro requer colaboração, seja entre áreas de conhecimento, seja entre devices. E colaboração e diversidade levam à inovação, gerando um ciclo contínuo de aprendizagem que inspira soluções cada vez mais sustentáveis e criativas.

ps.: por falar em criatividade, a imagem acima foi gerada pelo algoritmo de IA Stable Diffusion (mas criatividade artificial é tema para uma outra conversa).

por Paulo André Domingos (pandre09@gmail.com)

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