Com um chequinho em Calicute

Com um chequinho em Calicute

Sempre penso em quem, na Polícia Federal, batiza as operações que resultam na prisão de bandidos ou suspeitos de serem bandidos. Graças à prisão do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, hoje (no já histórico dia 11 de novembro de 2016) acabei por relembrar trechos da História, da época do descobrimento do Brasil, já há muito esquecidos por mim.

Cabral foi preso na operação batizada Calicute. Trata-se de uma referência à cidade, na costa oeste da Índia, onde Pedro Álvares Cabral sofreu uma inesperada derrota. Cabral, o primeiro, chegou em Calicute totalmente estufado pois tinha acabado de voltar do Brasil, aquele mundarel de terras desconhecidas e ricas que tomara posse em nome de Portugal. Na cidade indiana, tudo levava a crer que alcançaria seu objetivo: iniciou sem problemas as negociações para obter o direito de comercializar especiarias na região e instalar uma feitoria no estratégico local. Os comerciantes árabes, porém, não gostaram da ideia de perder o monopólio do negócio das especiarias e atacaram as instalações portuguesas. Apesar das baixas, Cabral ordenou um bombardeio à cidade. Mesmo assim, não conseguiu instalar a feitoria e se mandou.

O Cabral moderno é acusado de liderar um grupo que desviou R$ 224 milhões em contratos de obras. Se condenado, responderá por corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro, em um esquema bem intrincado. A supor pelo nome da operação, o Cabral atual não imaginava que perderia essa batalha. Estou curiosa para saber onde será o bombardeio.

Menos de 24 horas antes de Cabral, outro ex-governador do Rio de Janeiro foi levado pela Polícia Federal. A prisão de Anthony Garotinho recebeu o singelo nome de Operação Chequinho. Nesse caso, acredito que a ironia fica por conta do uso do diminutivo. O nome segue a falta de sutileza do crime que o ex-governador está sendo acusado: compra de votos nas últimas eleições, no seu curral eleitoral, quer dizer, reduto eleitoral, a cidade fluminense de Campos. Se cometeu mesmo o crime, não adiantou. Seu primo e atual vice-prefeito perdeu a disputa logo no primeiro turno. A prefeitura, atualmente, é ocupada pela mulher de Garotinho.

Havia preparativos para que os ex-governadores fossem levados para o presídio de Bangu 8. O local já se acostumou à presença de VIPs. Vários antigos “sócios” de Cabral, o moderno, tiveram seus cabelos raspados e fichas de identificação criminais feitas ali, recentemente, e até o ex-banqueiro Salvatore Cacciola já se “hospedou” por lá.

Como eu, o pessoal da revista Galileu também adora os nomes das operações da PF. Eles chegaram a listar 7 que consideraram “geniais”, não apenas pelos nomes em si, mas pela completa pertinência com o crime em questão: Freud, Tabela Periódica, Senhor dos Anéis, Que País é Esse? (sobrou para o Renato Russo, coitado), Good Vibes, Ctrl + Alt + Del e De volta para Pasárgada.

Entenda aqui porque esses nomes são geniais. E parabéns para a Polícia Federal também pela criatividade.

E que as prisões continuem e puxem o fio da grande meada. Porque o Rio de Janeiro não foi à falência da noite para o dia.


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