Comentários sobre a obra “A Escola que Sempre Sonhei sem Imaginar que Pudesse Existir” Rubem Alves, 1933. Campinas, SP: Papirus,2001


Sabendo que o essencial não cabe nas palavras (Antoine de Saint-Exupéry), todavia arriscar-me-ei tentar expressar um pouco do sentimento que ficou após a leitura desta maravilhosa obra proposta para cadeira de Metodologia do Ensino de História ministrada pelo professor e amigo Yago me disperso de mais um ano de muito companheirismo e aprendizado.

Parafraseando este grande psicanalista, escritor, poeta, porque não dizer também educador Rubem Alves, pois falou tão bem sobre educação como poucos conseguiram escrever quando sita uma frase de Fernando Pessoa: "Quando te vi, amei-te já muito antes..." ele a amou, eu a amei quem poderia não amá-la? “A Escola que Sempre Sonhei sem Imaginar que Pudesse Existir”. E que vale a pena aqui escrever algumas linhas: a escola da Ponte em Portugal poeticamente descrita por Rubem Alves (1933) onde visivelmente podemos observar um profundo rompimento com as concepções tradicionais de educação. A escola da Ponte possui uma estrutura completamente diferente das demais escolas tradicionais, não é organizada em salas compartimentadas, nem em turmas, matérias especificas isoladas umas das outras, e visando um fim conteudista de encher os discentes assuntos que na maioria das vezes não fazem conotação alguma com a realidade da maioria deles. Lá as salas são enormes, os alunos se organizam em grupos que são selecionados por eles por interesses em assuntos em comum, quando o grupo se forma um tutor ou professor como queiram chamar, assume o papel de orientador que apenas irá auxiliar os alunos e alunas na pesquisa que iram iniciar a partir de então, 15 dias após o inicio da pesquisa os alunos (as) se reúnem com o tutor para expor os resultados da pesquisa e consequentemente o aprendizado adquirido, se eles (as) atingirem satisfatoriamente um aprendizado significativo sobre o tema trabalhado ao longo desses dias o grupo se desfaz e assim sucessivamente. Desde sedo é incentivada o desenvolvimento da autonomia, da solidariedade, os alunos e alunas mais velhos e mais avançados ajudam os mais novos no aprendizado, bem evidenciado no caso que Rubem Alves nos conta quando questiona uma garotinha que estava sentada com um dicionário em mãos, perguntando-a se ela estava consultando o dicionário para procurar o significado de alguma palavra que não sabia, e ela responde que não, que sabia o significado, mas estava elaborando um dicionário menor para ajudar aos “miúdos” (palavras do autor) já que eles ainda não tinham acesso ao dicionário que ela usava. Disciplina, concentração, alegria e eficiência andavam juntas, impossível? Na escola da Ponte não. Outra garotinha, que foi encarrega de lhe apresentar a escola por um dos idealizadores e diretor da escola José Pacheco, lhe disse, “aqui se aprende a ler lendo frases inteiras”, detalhe as frases muitas delas escritas nas paredes, elaboradas e propostas pelas próprias crianças, insto é fantástico, porque as crianças desde muito cedo ao aprender a ler, aprendem que estão fazendo isto para dizer à vida que cada um vive através da escrita e da leitura. A pergunta comum que escutamos dos nossos alunos “por que ou para que preciso aprender isto ou aquilo?” lá não faz sentido algum. Eis os valores da autonomia sendo adquiridos de forma divertida, alegre e significativa e elas aprendem mais que matérias, e conteúdos científicos vazios e sem sentido, elas aprendem valores. E onde não só os alunos e alunas aprendem e reconhecem que lá estão para isso, mas os professores também estão lá para fazer o mesmo, quem entra na Ponte pensando que vai ensinar, lá descobre surpreendentemente que vai aprender, e descobrir um mundo novo, mas que sempre esteve ali, apenas tinha que se despir das coisas que sabia para aprender coisas novas (Antoine de Saint-Exupéry, 2014, P.48) “[...] Fico deveras feliz por fazer parte desta equipe que luta e se esforça a todo momento para que o "espaço criado" não acabe com o encanto, a criatividade, a curiosidade, a solidariedade, a amizade, o sonho, o brilho nos olhos dos nossos meninos, e para que o...” a escola não pode perder de vista tais valores, ou melhor nem deveria iniciar sem ser verdadeiramente guiada por tais valores essenciais ao ser humano. As escolas que não encantam seus alunos e alunas matam seus sonhos, tolhe suas potencialidades, ou seja, destrói seus atores principais na busca de atingir objetivos que não contribuem para o desenvolvimento de um ser humano que sente que se alegra, que se entristece, que rir, que chora, que nasce, que vive, que envelhece, que morre, e não pode deixar de passar pela vida sem que a vida passe por ele. A professora da escola da Ponte Antoine de Saint-Exupéry nos diz que; Hoje, vivemos (diz-se) numa sociedade democrática onde se defendem (diz-se) valores democráticos. Fala-se em liberdade, solidariedade, igualdade, fraternidade, verdade... No entanto, a capacidade de pensar, imaginar, inovar, expressar é constantemente inibida, agredida, recalcada. Podemos dizer que muitas crianças são inibidas de pensar o que lhes "apetece". Quanto mais pensamentos "atrevidos" tiverem, mais ferozmente serão censuradas. Muitas crianças são coagidas a pensar o que é "normal pensar-se", são coagidas a produzir o que é "normal produzir-se" (Antoine de Saint-Exupéry, 2004, P.51). Com tudo é imprescindível que nós professores (as) reflitamos sempre sobre nossas concepções teórico-metodológicas e busquemos sempre atualizar nossa pratica para ampliar nossa visão de Educação, de História e o nosso papel diante do seu ensino como nos diz Jaime Pinsky e Carla Bassanezi, que o papel dos professores será o de conscientizar o aluno como elemento participativo e atuante nos processos históricos, seja como conhecedor da História passada ou como agente da contemporaneidade. É do docente a função de ajudar ao aluno a aluna a compreender a história e se tornar agente transformador do mundo em que vive. A proposta seria então uma práxis baseada no conhecimento humanista, que o professor seja um elemento motivador do conhecimento, que tenha interesse na leitura, na pesquisa e na ressignificação de sua função de educador. A escola é referência e precisa cumprir seu papel principal que não é reproduzir conteúdos, mas encantar seus alunos e alunas lhes possibilitando conviver num lugar que visa desenvolver o respeito, a solidariedade, a criatividade, a alegria, o amor como nos diz professora Antoine de Saint-Exupéry quando fala sobre o objetivo principal da escola da Ponte: [...] é mesmo fazer com que cada criança se sinta o pássaro encantado, com lindas e coloridas penas e de chilrear alegre e afinado. Por essa razão, não há maior recompensa para cada elemento desta comunidade educativa do que sentir que o "espaço mágico" criado por todos aqueles que a compõem seja descrito, tão efusiva e entusiasticamente, por alguém que habita a mesma comunidade... do lado de fora. (Antoine de Saint-Exupéry, 2004, P.49). Antoine de Saint-Exupéry, (2004) conclui magistralmente dizendo que A escola da Ponte é um espaço onde se vive o que se aprende e se aprende o que se vive. É tão simples, não é? E eu diria, tão simples que nem todos podem ver, porque poucos sabem enxergar com o coração. A educação é sempre uma "aventura" coletiva de partilha: de afetos e sensibilidades, de conhecimentos e saberes, de expectativas e experiências, de atitudes e valores, de sentidos de vida... Pensar a educação numa lógica burocrática e corporativa de mera adição, confrontação ou justaposição de "papéis educacionais" (em que cada "parceiro" ou "agente" se manteria acantonado na sua ilha de "autonomia", só saindo dela em momentos ritualizados para cumprir uma função estatutária ou organizacional) é pensar a educação numa perspectiva profundamente redutora, social e culturalmente perversa. Reforçar os mecanismos de interação solidária e os procedimentos cooperativos (ademais, numa era em que a emulação individualista e o "salve-se-quem-puder" da competição mais desumanizada parecem sinalizar o sentido único do pós modernismo civilizacional) é, pois, um imperativo de qualquer política educativa que pretenda assumir a educação como uma responsabilidade social. (Rubem Alves (1933, p. 80).

 

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Israel Laurentino S. Jr

  • Commenti sul testo di Viola

    Commenti sul testo di Viola

    Secondo Viola, il pensiero ideologico deriva dalla nostra concezione della verità e dal modo in cui ci rapportiamo ad…

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos